Desembargadora mantém preventiva, e Crivella vai para presídio no Rio
Marcelo Crivella (Republicanos), prefeito afastado do Rio preso preventivamente hoje de manhã, foi levado para o presídio de Benfica, na zona norte carioca, após participar de audiência de custódia no TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio) conduzida pela desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita.
A unidade prisional também é o destino de Rafael Alves, Mauro Macedo e Christiano Stockler Campos, apontados pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) como integrantes do chamado "QG da Propina", suposto esquema de pagamentos para liberação de contratos da Prefeitura do Rio.
Questionados pela desembargadora sobre a regularidade durante o cumprimento dos mandados de prisão, Marcelo Crivella, Rafael Alves, Mauro Macedo e Cristiano Stockler afirmaram que não sofreram violação a integridade física e psicológica. Eles são acusados de envolvimento em crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva.
Depois de ingressarem no presídio de Benfica, porta de entrada do sistema prisional, eles serão conduzidos para o Complexo de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio —ainda não se sabe se os presos passarão a noite em Benfica ou Bangu. Lá, a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) determinará para quais unidades eles serão encaminhados, levando em consideração quem tem nível superior.
Outros dois suspeitos, que estão com sintomas compatíveis com a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, serão levados para o hospital penitenciário Hamilton Agostinho e ouvidos amanhã por videoconferência.
Hoje à tarde, representantes de Crivella ingressaram com pedido de habeas corpus no STJ (Superior Tribunal de Justiça) para solicitar que ele responda o processo em liberdade. A defesa argumenta que não há provas de benefícios ao prefeito afastado do Rio. Crivella alegou inocência e disse ser vítima de perseguição política. Caberá ao presidente da corte decidir sobre o pedido no plantão.
Contudo, o MP-RJ estima que a organização chefiada por Crivella arrecadou mais de R$ 50 milhões com o suposto esquema de corrupção. De acordo com a decisão assinada pela desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, o grupo se referia a Crivella pelo codinome "zero um", em alusão à liderança que possuía no esquema.
Crivella foi preso na manhã de hoje em uma operação conjunta do MP-RJ e da Polícia Civil. Ele também foi suspenso das funções públicas, segundo determinação do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). Com isso, está afastado do cargo, a nove dias do fim do mandato.
Os investigados respondem pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva.
A desembargadora Rosa Helena afirmou que Crivella tinha um "voraz apetite pelo dinheiro público" que não se limitou à sua gestão no comando da administração municipal.
Ao ser conduzido pela polícia nesta manhã, Crivella disse que é vítima de "perseguição política" e que foi o governo que "mais atuou contra a corrupção no Rio de Janeiro".
O homem de confiança de Crivella
De acordo com investigações, o esquema era conduzido por Rafael Alves, também preso. Mesmo sem cargo na prefeitura, ele possuía uma sala reservada na administração municipal e é apontado pelas investigações como integrante do primeiro escalão.
Em mensagens obtidas pelo MP-RJ em aplicativos de conversa pelo celular, Rafael Alves fala sobre a relação com Crivella antes mesmo de ele se eleger prefeito do Rio, em setembro de 2016.
Hoje o maior investidor sou eu. Não quero cargo nem status. Quero retorno do que está sendo investido
Rafael Alves, empresário, em mensagem obtida pelo MP-RJ
Empresas que desejavam fechar contratos com a prefeitura ou tinham recursos a receber eram obrigadas a pagar propina ao empresário. Em troca, ele facilitava a assinatura dos contratos e os pagamentos das dívidas.
"Após a eleição, o prefeito Marcelo Crivella fortaleceu a posição de Rafael Alves na administração, dando-lhe trânsito livre para negociar com empresários a venda de vantagens junto à prefeitura, sempre mediante pagamento de vultosas quantias a título de propina", afirmou a magistrada.
Primo de Edir Macedo é suspeito de integrar "primeiro escalão"
Mauro Macedo e o ex-senador Eduardo Benedito Lopes completariam o primeiro escalão do esquema. Ex-tesoureiro das campanhas eleitorais de Crivella, Mauro é primo de Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus.
A denúncia também revela um suposto esquema bilionário de lavagem de dinheiro envolvendo a instituição religiosa. O MP-RJ identificou uma circulação de quase R$ 6 bilhões entre maio de 2018 e abril de 2019.
Delação premiada deu início à investigação
As investigações sobre o caso começaram após um acordo de delação premiada firmado com o doleiro Sérgio Mizrahy, preso preventivamente em maio de 2018 na Operação "Câmbio, Desligo", da força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio.
De acordo com a decisão, o doleiro e outras testemunhas apresentaram provas que revelaram ao MP a suposta existência de um esquema criminoso envolvendo membros da administração municipal, empresários e até pessoas que funcionavam como laranjas.
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