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Baleia oficializa candidatura ao comando da Câmara e mira segurar traições

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

06/01/2021 15h54Atualizada em 06/01/2021 20h36

O deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) lançou oficialmente hoje sua candidatura à Presidência da Câmara com o apoio do atual comandante da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e de bloco composto por 11 partidos, tanto de centro quanto de esquerda - MDB, PSDB, DEM, PSL, Cidadania, PT, PSB, Rede, PCdoB, PDT e PV.

Seu principal oponente na disputa é o líder do Centrão bolsonarista, deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato com a benção do Palácio do Planalto. Outros três deputados também se lançaram, mas não são vistos com chances reais de vitória: Capitão Augusto (PL-SP), Fábio Ramalho (MDB-MG) e André Janones (Avante-MG).

Baleia chegou ao evento em um dos salões da Câmara acompanhado de Maia e líderes aliados. Em discurso, se focou na defesa de uma Casa independente do Executivo e de união entre os parlamentares para o desenvolvimento do país, com críticas a comportamentos truculentos na política.

"Vivemos um momento histórico, sim. E vale esse registro, porque desde a redemocratização do nosso país não tínhamos um movimento de união de partidos que pensam diferente formando uma frente ampla. Existe um motivo para isso. Somos o que a sociedade espera. A sociedade quer mais união, compaixão, respeito, igualdade. A sociedade espera uma luta por democracia e liberdade", declarou.

"Pensamos diferente o papel do Estado, a ação na economia. Em vários pontos nós divergimos. Mas, a beleza da democracia está no respeito e na boa convivência com quem pensa diferente de você. Não é porque a pessoa não concorda com suas teses que você precisa agredir, matar, diminuir as pessoas", acrescentou.

Se eleito, Baleia pretende discutir a ampliação do Bolsa Família ou a volta do auxílio emergencial para a parcela mais pobre da população em meio à pandemia do coronavírus. Ao falar do auxílio emergencial, buscou transmitir a possibilidade de o centro e a esquerda trabalharem juntos, como quer seu bloco. Também foi exibido um vídeo de campanha que reforça essa união.

"Temos o dever de fiscalizar e de acompanhar as ações do Executivo. Exatamente por isso a Câmara não pode ser submissa", disse.

Baleia começou a fala se solidarizando com as vítimas da covid-19 no Brasil e disse que o "respeito à ciência e a busca da vacina para todos é muito maior do que qualquer diferença". Para ele, a vacina deve ser gratuita e a todos os brasileiros.

O candidato comunicou que, por sugestão de vários líderes, conversou com Maia para, se necessário, a Câmara e o Senado se reunirem durante o recesso em janeiro para votar medidas urgentes relacionadas à vacina contra a covid-19.

Baleia defendeu ainda o andamento de reformas, como a tributária. Uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) de sua autoria sobre o assunto tramita a passos lentos em comissão mista no Congresso.

Baleia é presidente nacional do MDB, líder da bancada do partido na Câmara e se coloca como um candidato independente do Planalto. Para a campanha, escolheu o slogan "Câmara livre. Democracia viva".

Ainda assim, o candidato tem ótimo trânsito com os políticos do Centrão, que se transformou na base aliada de Bolsonaro no ano passado. O MDB também conta com membros da legenda como líderes do governo: no Senado, Bezerra Coelho (PE), e no Congresso, Eduardo Gomes (TO).

Lira e Baleia viajam atrás de votos

Após semanas de negociações, Baleia conseguiu fazer com que a oposição - com exceção do Psol, que ainda não decidiu se vai apoiá-lo ou lançar candidato próprio - ficasse ao seu lado. Para tanto, se comprometeu a analisar pedidos de abertura de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) quando tiverem as assinaturas mínimas necessárias, convocações de autoridades do Executivo e repelir atos de cunho antidemocrático, por exemplo.

Embora conte com esse apoio, Baleia agora mira segurar eventuais traições nessas siglas e até mesmo no DEM e PSL, por exemplo.

Lira já investe em conversas para atrair os votos de deputados de partidos que apoiam Baleia, mas são considerados desgarrados, e iniciou uma campanha em tour pelo país. Hoje, está Boa Vista e Manaus para encontros com as bancadas estaduais e governadores. Ontem esteve em Macapá e Belém.

A previsão é que Baleia comece a viajar pelo país nesta semana com o objetivo de evitar traições e atrair deputados, em tese, do lado de Lira. Na sexta (8), ele vai ao Piauí. Na segunda (11), a Santa Catarina e ao Distrito Federal. Nos dias seguintes, para Goiás e Ceará.

"Aposto na lealdade, na palavra e no diálogo com todos os parlamentares", afirmou, ao ser questionado sobre possíveis dissidentes.

As campanhas dos candidatos acontecem intensamente também por telefonemas, mensagens e reuniões de videoconferência. A eleição interna dos deputados está prevista para a primeira semana de fevereiro.

Maia quer emplacar um sucessor de seu interesse e, após discussões internas, os partidos aliados a ele escolheram Baleia como o candidato do grupo. Sua candidatura foi anunciada em 23 de dezembro, mas ainda não havia sido lançada formalmente para esperar uma decisão do PT - o apoio dos petistas foi resolvido na segunda (4).

As siglas ao lado de Baleia Rossi somam, juntas, 261 parlamentares. No entanto, o voto é secreto e isso possibilita mudanças de opinião na hora da votação. Lira hoje reúne 196 parlamentares nas siglas que o apoiam - PL, PP, PSD, Republicanos, Solidariedade, Pros, Patriota, PSC e Avante.

Parte dos deputados federais mantém bom relacionamento com Lira e não quer perder a proximidade com o candidato que conta com a ligação direta com o Planalto - por trás estão mais possibilidades de verbas e indicações a cargos na administração pública.

Há ainda quem se ressinta da atuação do MDB no impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. Pedido de abertura do processo foi acatado pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB) e, após a aprovação do impeachment, Dilma acabou sendo substituída pelo então vice-presidente da República, Michel Temer, também do MDB.

Baleia ajudou Cunha a se eleger para a Presidência da Câmara, em 2015, e votou a favor do impeachment de Dilma. Hoje, busca minimizar a atitude, lembrando que o pai, Wagner Rossi (MDB), foi ministro em governos petistas e alegando que não tinha tanta influência dentro do Parlamento na época da cassação da petista.

Quem é Baleia Rossi?

Baleia tem 48 anos e nasceu em São Paulo, mas construiu a carreira política em Ribeirão Preto. Ele é casado e pai de três filhas. Formado em Direito, é político como o pai, Wagner Rossi, e se elegeu vereador de Ribeirão pela primeira vez aos 20 anos. Na época, teve o apoio de Ulysses Guimarães.

O nome de batismo de Baleia Rossi é Luiz Felipe Tenuto Rossi. Baleia começou como apelido irônico dos irmãos por ele ser muito magro e branco quando jovem. Inicialmente, ele não gostava tanto do apelido e começou a primeira campanha a vereador só usando Luiz Felipe. Mas, todos já o conheciam como Baleia, então, no meio do caminho, incentivado pelo avô, passou a usar o apelido. Passou até a usar um desenho de uma baleia como seu símbolo. Hoje, Baleia está incorporado ao seu nome.

Ele se reelegeu vereador de Ribeirão Preto outras duas vezes e foi secretário Municipal de Esportes por um ano. Depois, em 2002, se elegeu como deputado estadual, sendo reeleito em 2006 e 2010.

Em outubro de 2014, foi eleito deputado federal pela primeira vez. Agora, em seu segundo mandato, quer ser presidente da Câmara.

Baleia tem perfil mais discreto e conciliador no dia a dia da Câmara. Pouco mais jovem do que Lira, 51, busca se mostrar como candidato pró-reformas e com mais chances de unificar diferentes alas da Casa em meio à polarização política vivida no país.

Ele é autor de uma das propostas de reforma tributária em tramitação no Congresso. Ao longo de sua trajetória na Câmara, viu cinco proposições de sua autoria ou relatoria virarem normas jurídicas.