Ex-prefeito do Rio, Crivella vira réu em ação sobre 'QG da propina'
Ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos) virou réu por corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa no processo que investiga o caso que ficou conhecido como "QG da propina". A decisão, publicada ontem, é da juíza Juliana Benevides de Barros Araújo, da 1ª Vara Criminal Especializada de Combate ao Crime Organizado do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). A informação foi veiculada pela GloboNews e confirmada pela reportagem do UOL.
Outras 25 pessoas também se tornaram rés — entre elas, o empresário Rafael Alves, apontado como o principal operador financeiro do sistema, e Marcelo Alves, ex-presidente da Riotur (empresa de turismo da capital fluminense). Ainda integram a lista o ex-senador Eduardo Lopes (Republicanos-RJ), o marqueteiro Marcelo Faulhaber e Arthur Soares ("Rei Arthur"), empresário do setor de transportes no Rio.
A decisão do TJ foi baseada na denúncia apresentada pelo MP-RJ Ministério Público do Rio de Janeiro) em 2020. O caso está nas mãos da Justiça comum desde o início deste ano, quando Crivella deixou a prefeitura e, consequentemente, perdeu o foro privilegiado.
"Na decisão pelo recebimento da denúncia, o juízo da Vara Especializada considerou o conteúdo de delações premiadas; o material apreendido com o sequestro de bens e bloqueio de valores de Marcelo Crivella e dos outros acusados; e as diversas trocas de mensagens, desde o ano de 2016, extraídas de celulares e computadores apreendidos", informou o TJ-RJ na noite de hoje.
"As mensagens trocadas entre integrantes do grupo deixam explícitas partilhas de propinas e a exigência, junto ao então prefeito, de obtenção de retorno financeiro do investimento que nele havia sido feito. Também foram considerados pelo Juízo planilhas, cheques, fotografias e prints de telas de computadores obtidos ao longo das investigações", acrescenta o tribunal.
A defesa do ex-prefeito afirmou, em nota ao UOL, acreditar que a "denúncia será rejeitada tão logo apresentada a resposta acusação, oportunidade em que será demonstrada a incongruência entre a narrativa acusatória e a trajetória de vida de Marcelo Crivella. Continuamos acreditando na Justiça."
A acusação contra Crivella
O ex-prefeito é acusado de ter comandado, durante sua gestão, um esquema de pagamentos a credores da prefeitura do Rio em troca de propina. Na denúncia apresentada à Justiça, o MP apontou que o "QG da Propina" arrecadou mais de R$ 53 milhões em depósitos feitos de modo pulverizado para mais de 20 empresas de fachada, em nome de laranjas, criadas pelo grupo de Crivella.
As investigações começaram a partir da delação do doleiro Sérgio Mizrahy, que relatou como funcionava o "QG da propina". No esquema, Rafael Alves, que não era nomeado mas despachava na prefeitura, aliciava empresas que queriam firmar contratos com o governo ou precisavam receber restos a pagar por serviços prestados. Para furar a fila, elas pagavam um percentual de 3% a 5% — em propina — sobre os valores.
Crivella chegou a ser preso preventivamente em 22 de dezembro, a nove dias do fim de seu mandato, mas foi para a prisão domiciliar — com uso de tornozeleira eletrônica — no mesmo dia, por determinação do presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), ministro Humberto Martins.
A decisão assinada por Martins atendeu parcialmente ao pedido dos advogados de Crivella, que queriam que sua prisão fosse revogada. Uma das justificativas usadas por Martins para mandar o ex-prefeito para casa foi o fato de ele, aos 63 anos, ser considerado grupo de risco para a covid-19.
(Com Estadão Conteúdo)
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