Topo

Esse conteúdo é antigo

Bolsonaro, cloroquina, Manaus, TrateCov: as frases de Mayra Pinheiro na CPI

Do UOL, em São Paulo

25/05/2021 11h16Atualizada em 25/05/2021 19h42

A servidora Mayra Pinheiro, conhecida nos bastidores do governo como "capitã cloroquina", está sendo ouvida hoje na CPI da Covid, no Senado Federal. Titular da Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação, subpasta do Ministério da Saúde, Mayra defende a prescrição de medicamentos sem eficácia científica comprovada como alternativa de política pública no enfrentamento à pandemia da covid-19.

Mayra obteve no STF (Supremo Tribunal Federal) um habeas corpus, que dá a ela o direito de se calar ao ser questionada sobre o colapso da rede de saúde no Amazonas, entre o fim de dezembro de 2020 e janeiro deste ano. Isso porque o assunto já é objetivo de investigação por parte do Ministério Público Federal.

A Procuradoria apura se Mayra, seu ex-chefe, Eduardo Pazuello (ex-ministro da Saúde), e outras cinco pessoas têm responsabilidade em relação ao agravamento da crise sanitária em Manaus. À época, Mayra integrou a equipe de Pazuello que montou um gabinete temporário na capital amazonense.

Durante o seu depoimento, Mayra afirmou não ter recebido ordens do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ou de Pazuello para defender o uso de medicamentos sem eficácia científica comprovada no tratamento do coronavírus e disse que o Brasil "não é obrigado" a seguir as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Além disso, a servidora alegou que a responsabilidade da covid-19 não é do Ministério da Saúde, mas "do vírus". A depoente ainda declarou que não houve percepção de que faltaria oxigênio nos hospitais em Manaus em meio ao colapso na rede pública de saúde, no começo do ano, e culpabilizou a capital amazonense pela crise. Mayra ainda criticou o isolamento social e medidas de restrição da circulação da população, como o lockdown, que visam combater a disseminação do vírus.

Veja as frases de Mayra Pinheiro na CPI da Covid:

Bolsonaro e cloroquina

Nunca recebi ordem e o uso desses medicamentos [para tratamento da covid-19] não é uma iniciativa minha, pessoal. Nunca [o presidente ou ministro da Saúde pediram para eu atuar na defesa da cloroquina]"

Saúde e autonomia

É preciso que a gente deixe, primeiramente claro, que a OMS é um braço da ONU que trata das questões relativas à saúde. Embora o Brasil seja signatário dessa entidade, o Ministério da Saúde de todos os países do mundo são órgãos independentes e têm sua autonomia para tomada de decisões de acordo com as situações locais"

A OMS retirou a orientação desses medicamentos para tratamento da covid-19 baseadas em estudos que foram feitos com qualidade metodológica questionável, usando as medicações na fase tardia da doença, onde todos nós sabemos que não há benefícios aos pacientes. O Brasil, os seus técnicos e os seus médicos deixam bem claro que podem usar todos os recursos que não trazem malefícios"

Falta de oxigênio em Manaus

Não houve uma percepção que faltaria [oxigênio para tratamento de vítimas da covid]. Pelo que eu tenho de provas é que nós tivemos uma comunicação por parte da secretaria estadual que transferiu ao ministro [da Saúde] um e-mail da [empresa] White Martins dando conta de que haveria um problema de abastecimento, por eles mencionado como problema na rede"

Como médica, é possível fazer isso [medir a quantidade de oxigênio necessário] quando estamos em estado de normalidade, habitual. Eu sou intensivista, eu trabalho com uma UTI que tem dez leitos, eu consigo saber que cada um daqueles leitos tem que ter uma provisão de oxigênio e ar comprimido. É possível que eu tenha média do uso de oxigênio. Em Manaus, em uma situação extraordinária de caos, onde nós não temos noção de quantos pacientes vão chegar ao hospital é impossível se fazer uma previsão de quando vai usar a mais"

Responsabilização do Ministério da Saúde

Nenhuma responsabilidade [teve o Ministério da Saúde]. A responsabilidade da doença é o vírus"

TrateCov

É a mesma pergunta que eu faço [sobre qual interesse há ao hackear o aplicativo TrateCov]. Que interesse tem alguém num contexto de uma doença tão grave, de trazer um prejuízo às pessoas que poderiam ser beneficiadas? Todos nós leigos, a primeira ideia que nós fazemos que a gente diz que alguém invadiu o dispositivo é hackeamento. Ele não conseguiu, o sistema é seguro, ele não conseguiu hackear. Foi uma extração indevida de dados"

Fiocruz, pênis, tapete do Che Guevara

A Fiocruz é um órgão ligado ao Ministério da Saúde, que é mantida com recursos do Ministério da Saúde, e trabalha contra todas as políticas que são contrárias à pauta deles de minorias. Tudo deles envolve LGBTI, eles têm um pênis na porta da Fiocruz, todos os tapetes das portas são a figura do Che Guevara, as salas são figurinhas do 'Lula livre', 'Marielle vive'"

Declaração de Mayra Pinheiro feita em áudio, que foi reproduzido na CPI.

Programa Brasil Conta Comigo

Médicos não, mas profissionais são cerca de 400 mil treinados, porque o treinamento, senador, é voluntário. Eles podem ou não prosseguir. Eu não tenho como obrigar as pessoas a se submeterem a um treinamento. A gente é um país livre e democrático."

Em resposta ao senador Eduardo Braga (MDB-AM), que questionou quantos médicos foram treinados pelo programa.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.