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CPI tem clareza que Bolsonaro participou do retardo de vacina, diz senador

Colaboração para o UOL

19/08/2021 12h36Atualizada em 19/08/2021 14h09

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) declarou hoje, em entrevista ao UOL News, que a CPI da Covid tem "absoluta clareza" de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou do processo de "retardo na compra de vacinas" e no compartilhamento de notícias falsas que "aumentaram a exposição dos brasileiros" ao coronavírus, e adotou um comportamento "criminoso" no comando do país durante a pandemia.

Segundo o parlamentar, desde o início do período pandêmico, em março do ano passado, o chefe do Executivo Federal "se ocupa prioritariamente de desinformar o brasileiro".

O político elencou algumas situações, como nas ocasiões em que o presidente se manifestou contra o uso de máscaras de proteção, foi desfavorável às medidas de distanciamento social adotadas pelos governos estaduais e questionou a eficácia das vacinas, a exemplo da vez em que falou que o imunizante poderia transformar o indivíduo em um "jacaré".

"Bolsonaro se ocupa prioritariamente de desinformar o brasileiro, ataca as máscaras, distanciamento social, atuação dos governadores, eficácia das vacinas. É uma atuação criminosa e consciente, ele sabe o que está fazendo. Ele não está aqui pra ficar brincando com a vida das pessoas, ficar fazendo show em live. Isso é muito sério! E o cara tratando isso como se fosse uma brincadeira, é uma ação consciente pra manter a radicalização, permanece no poder, proteger a ele e sua família", afirmou Alessandro Vieira.

O tópico das vacinas entrou no radar da CPI da Covid em maio, quando os senadores começaram a apurar a responsabilidade do governo federal no atraso da vacinação.

Um dos temas foi justamente sobre a recusa por parte da gestão Bolsonaro de 70 milhões de does do imunizante da Pfizer em agosto do ano passado. O contrato com a farmacêutica só foi firmado meses depois, em março deste ano.

Além disso, a Comissão também apura supostos casos de corrupção que envolve membros do governo Bolsonaro na compra das vacinas Covaxin e AstraZeneca/Oxford. Em ambos os casos, o Planalto nega irregularidades.

CPI precisa buscar caminhos alternativos, diz senador

Ainda na entrevista ao UOL News, o parlamentar disse que a Comissão Parlamentar de Inquérito precisará encontrar "caminhos alternativos" para responsabilizar Bolsonaro, uma vez que, no âmbito político, o mandatário conta com a proteção do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que "age por interesse próprio".

"A gente não pode ser inocente de achar que Lira e figuras como ele vão fazer alguma coisa em benefício do Brasil. Eles agem por interesse próprio, mas é possível que o interesse deles deixe de estar conectado ao Bolsonaro", declarou.

Conforme o UOL mostrou hoje, o gabinete do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, tem pronto um texto-base do relatório da Comissão, que já possui mais de mil páginas e pode crescer, a depender dos fatos e dados a serem obtidos no âmbito das investigações.

O resumo da atuação do colegiado possui mais de 400 páginas. O grosso do material está nos anexos, que incluem documentos e os principais pontos de destaque dos depoimentos.

O documento também irá sugerir a continuidade da investigação pelo Ministério Público da União por meio de inquéritos específicos para cada assunto trazido em destaque.

Segundo Renan, o relatório completo deverá ser fechado no próximo mês. "Vamos trabalhar para tentar apresentar o parecer final na segunda quinzena de setembro. Eu não sei se conseguiremos, mas eu vou efetivamente me dedicar a isso", disse o relator.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.