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Dias não foi exonerado antes por dossiê que comprometia governo, diz Aziz

Presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), diz que ex-diretor da Saúde não foi exonerado antes por ter dossiê contra membros do governo - Jefferson Rudy/Agência Senado
Presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), diz que ex-diretor da Saúde não foi exonerado antes por ter dossiê contra membros do governo Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

03/09/2021 12h43Atualizada em 03/09/2021 13h16

O ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, não foi exonerado no ano passado porque tinha um dossiê comprometedor contra o governo Jair Bolsonaro (sem partido), afirmou hoje o senador e presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), em entrevista à GloboNews.

"Uma operação foi feita no ano passado, no Pará, onde o MPF (Ministério Público Federal) e a PF (Polícia Federal) apreenderam o celular do senhor Marconny [suposto lobista da Precisa Medicamentos]. Nesse celular, tem muitas coisas que mostram, inclusive, eles orientando o Roberto Dias sobre como deveria ser feito as licitações, inclusive como desqualificar empresas e proteger outras em relação à Precisa. Agora, o que nos estranha é que isso é de conhecimento desde o ano passado".

A gente chega a conclusão de que o Roberto Dias não foi exonerado ano passado porque tinha um dossiê que comprometia pessoas do governo. Não conseguiram exonerar e o coronel Élcio Franco fez uma portaria tirando todos os poderes do Roberto".
Senador Omar Aziz

Aziz diz que "a portaria não foi à toa" e ressaltou que o governo tinha conhecimento das ações de Roberto Dias. "Só tomaram providência depois do Dominghetti".

Em junho, o governo federal exonerou Roberto Dias após a Folha de S.Paulo publicar entrevista com o vendedor de vacinas Luiz Paulo Dominghetti, que acusa Dias de pedir propina de US$ 1 por cada unidade da AstraZeneca. A intermediária Davati Medical Supply ofertava 400 milhões de doses ao governo brasileiro.

Dias foi nomeado na gestão do então ministro Luiz Henrique Mandetta. Seu nome foi uma indicação do deputado federal e atual líder do governo no Congresso, Ricardo Barros (PP-PR).

Depoimento de Marconny na CPI

O empresário Marconny Albernaz, suposto lobista da Precisa Medicamentos, será ouvido na CPI da Covid no dia 15 de setembro após manobras para "fugir" do depoimento, segundo Aziz.

Marconny entrou com dois pedidos no STF. O primeiro, concedido pela ministra Cármen Lúcia, lhe garantia o direito de ficar em silêncio durante o depoimento para não se autoincriminar.

No mesmo dia, ele enviou à comissão um atestado médico de 20 dias, prazo que coincide com o fim previsto dos trabalhos da CPI. Horas depois, o médico que assina o atestado cancelou o documento e informou à cúpula da CPI que percebeu "simulação por parte do paciente".

Em seu segundo pedido ao STF, Marconny pedia para não comparecer à CPI. O pedido foi indeferido.

"Hoje cedo o advogado de Marconny entrou em contato com a secretaria da CPI e comigo colocando o Marconny à disposição. Mesmo assim, mantivemos na primeira instância o pedido de condução sob vara. Enquanto ele não depor, vamos manter isso", afirmou Aziz em entrevista à GloboNews.

"O caso do Marconny é o mais engraçado: o médico dá 20 dias para ele, que é o prazo que a gente vem dizendo que a CPI vai concluir seus trabalhos. Depois, o médico, encaminha uma mensagem à CPI que percebeu que o Marconny estava fingindo. Mas se percebeu que ele estava fingindo, porque deu 20 dias? Tentar fugir do depoimento não vai funcionar."

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.