Mensagens revelam que Hang financiou blogueiro acusado de fake news, diz TV
Documentos obtidos pela CPI da Covid, e divulgados pela TV Globo, na noite desta sexta-feira (24), revelam que o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, acusado de espalhar fake news, conseguiu financiamento do empresário Luciano Hang graças à ajuda do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Allan dos Santos, que é dono do canal conservador "Terça Livre", é investigado em dois inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) por disseminação de fake news e ameaça e incitação ao crime contra autoridades. Em setembro, a ministra Rosa Weber determinou a manutenção da quebra dos sigilos telefônico, telemático, bancário e fiscal do blogueiro. Allan dos Santos é considerado uma espécie de líder informal das redes bolsonaristas, e muito ligado aos filhos do presidente Bolsonaro.
Nas mensagens interceptadas pela Polícia Federal, às quais o "Jornal Nacional" teve acesso, Allan dos Santos pede a Eduardo Bolsonaro que o coloque em contato com Hang, considerado um dos empresários mais ricos do Brasil, dono das Lojas Havan e um dos principais apoiadores de Bolsonaro.
Eduardo então envia o número do telefone de Hang, mas questiona: "Quer que eu fale algo a ele para te introduzir?". Allan responde. "É melhor". Horas depois, o filho do presidente envia nova mensagem a Allan dos Santos, já com a resposta de Hang.
Ele disse que você pode entrar em contato com ele. Falei que você é o nosso cara da imprensa para um projeto que desenvolvemos aqui nessa semana de aulas do Olavo. Eduardo Bolsonaro, referindo a Olavo de Carvalho, professor, astrólogo e guru de Jair Bolsonaro
No dia seguinte, o blogueiro bolsonarista volta a entrar em contato com Eduardo. "Sobre o Hang, quando ele voltar da Europa, falarei com ele". O filho do presidente então responde: "Beleza. Falei no macro com o Hang".
Quatro meses depois, Allan dos Santos escreve nova mensagem a Eduardo, desta vez, comemorando o fechamento de patrocínio para o seu programa. "Luciano Hang está dentro. Patrocínio para o programa."
A CPI da Covid, no Senado Federal, aponta para a existência de uma verdadeira organização criminosa disseminadora de fake news antes —e durante— a pandemia de covid-19. E que Allan dos Santos seria uma das principais peças. A comissão apurou ainda que políticos, empresários e sites utilizaram a rede conhecida como "gabinete do ódio" (responsável por espalhar notícias falsas ou reforçar sua narrativa em redes sociais).
É a existência de uma verdadeira organização criminosa de fake news, que teve papel determinante no agravamento da pandemia. Veja: essa organização criminosa começa a se articular e a se constituir a partir de 2019 e, na pandemia, para reforçar o discurso negacionista do presidente da República e de seu governo. Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em entrevista ao "Jornal Nacional"
"As fakes news foram causa de muitas mortes. A CPI sabe do macabro Gabinete do Ódio: muitos pagos com dinheiro público. Novidades virão", avisou Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, nas redes sociais.
A CPI aprovou ontem o requerimento de convocação de Luciano Hang para depor perante ao colegiado na próxima semana. A comissão quer saber, dentre outras coisas, sobre o seu elo com o gabinete do ódio. Em resposta nas redes sociais, Hang disse que "será um prazer depor" aos senadores.
Hang nega envolvimento
Não faço parte de gabinete nenhum. A imprensa deveria baseada na verdade dos fatos e não em narrativas. Se a CPI tem posse de algum documento que diz que ajudei ou financiei direcionamento de mensagens falsas, o documento é falso. Não pode existir prova de algo que nunca fiz. Dizer que patrocinei veículos de internet que disseminaram desinformação, é uma mentira.
Quem está divulgando esses absurdos terá que provar. O que não conseguirão, pois nunca financiei ou fiz parte de qualquer tipo de grupo com essa finalidade.
Blogueiro reage a documentos
Se a CPI conseguir provar que recebi dinheiro do Luciano Hang, eu visto a camisa do Lula.
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