Com acusações de fraude, prévias mostram PSDB rachado e em disputa acirrada
O PSDB realiza hoje as primeiras prévias para escolher seu candidato à Presidência em 2022. Em uma disputa apertada, concorrem os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP) e o ex-senador Arthur Virgílio (AM).
A votação acontecerá presencialmente em Brasília a partir das 8h ou via aplicativo, da 0h até as 15h. É esperado um resultado até as 17h. Quase 45 mil filiados se inscreveram —menos de 5% do total— e comitivas e lideranças irão se reunir na convenção. Caso nenhum dos três conquiste mais do que 50% dos votos. deverá haver segundo turno no próximo domingo (28).
Apesar das promessas de união, a disputa teve um tom mais ácido do que o esperado, com piora na véspera, e o partido segue rachado.
Mais unidos?
O objetivo da Executiva Nacional é transformar a votação e apuração em uma grande convenção partidária no modelo norte-americano. Além dos três candidatos e seus aliados, são esperados prefeitos, deputados, senadores e ex-presidentes partidários no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Doria, Leite e Virgílio deverão chegar juntos, pela manhã. Durante o dia, enquanto a votação está aberta, haverá debates e apresentações de tucanos. O presidente Bruno Araújo irá encerrar o processo com um balanço da disputa.
O discurso deverá ser positivo. Tanto Araújo quanto outras lideranças tucanas têm elogiado a iniciativa de o partido democratizar seu processo de escolha. Sem um candidato natural, a Executiva tem repetido desde o começo do ano que as prévias ajudariam a reposicionar a imagem da legenda, tradicionalmente conhecida por escolher seus presidenciáveis em mesas dos restaurantes mais caros de São Paulo ou Brasília.
O PSDB, dizem oficialmente, sairá mais fortalecido. Líderes tucanos usam como exemplo as prévias do partido democrata, nos Estados Unidos, em 2020. A pré-campanha teve debates fortes entre os postulantes, mas, com a escolha de Joe Biden para enfrentar o então presidente Donald Trump, todos se uniram em torno dele, que acabou ganhando as eleições gerais, em novembro de 2020.
O tom da campanha, no entanto, tomou um rumo mais agressivo do que esperavam os partidários. Em meio a troca de farpas e ameaças de judicialização, cada vez menos tucanos passaram a acreditar que o partido sairia mais unido do processo.
No final de outubro, grupo formado por quatro diretórios estaduais (BA, CE, MG e RS), que apoiam Leite, acusou o PSDB-SP de fraudar a filiação de 92 prefeitos e vices paulistas para que pudessem votar nas prévias. Segundo o dossiê, as filiações foram feitas após o prazo correto.
Leite, que oficialmente não participou da elaboração do documento, ameaçou acionar a Justiça caso as fraudes fossem comprovadas. Doria, que não é citado diretamente, ficou irritado com as acusações e começou a falar que o adversário queria "ganhar no tapetão".
Como contra-ataque, os paulistas levantaram outros 32 prefeitos e vices apoiadores de Leite que teriam sido filiados no mesmo esquema. A direção nacional decidiu impugnar todos para a votação.
O tom mais agressivo, que até então estava reservado aos bastidores, ficou cada vez mais público, com referências ao BolsoDoria por parte de Leite e do apoio da bancada gaúcha ao governo federal por parte de Doria. As possíveis relações de ambos com Jair Bolsonaro (sem partido) foi o tema central de todos os debates.
Na última semana, o clima, que tinha ficado mais ameno —incluindo um encontro entre Doria e Leite no Palácio Piratini— voltou a esquentar após a Folha de S. Paulo revelar que o governador gaúcho teria pedido ao paulista para atrasar a vacinação, em janeiro, algo que ele nega.
A repercussão deixou Leite furioso. Em coletiva convocada para tratar do assunto na última quinta (18), o governador chamou o episódio de "mesquinho" e "nitidamente vinculado a uma perspectiva de vitória nas prévias".
A situação piorou ainda mais na tarde de ontem (20). Apoiadores dos dois lados entraram em pé de guerra depois que o presidente e do coordenador da Comissão de Prévias, o senador José Aníbal (SP) e o ex-deputado Marcus Pestana (MG), respectivamente, fizeram declaração de apoio conjunta a Leite. O posicionamento revoltou a equipe de Doria, que classificou o ato como "falta de idoniedade".
Disputa acirrada entre Doria e Leite
Os tucanos vão às urnas (ou ao aplicativo) sem saber quem sairá vencedor. Para ganhar em primeiro turno, um dos três precisa ter mais do que 50% dos votos. Caso nenhum conquiste, deverá haver outro turno em 28 de novembro.
Primeiro nome a se lançar como pré-candidato, Doria abriu a disputa como favorito, mas viu Leite ganhar protagonismo entre setembro e outubro, com diversas declarações de apoio. Com apoio do maior diretório do país e novas articulações, Doria conseguiu recuperar o fôlego nas últimas semanas, mas o resultado ainda é incerto. Ambas cantam vitória.
O partido estabeleceu regras diferentes para a votação. Os filiados foram divididos em quatro grupos distintos, o que acaba dando mais força a certos representantes.
- Governadores, vices, ex-presidentes, presidente, senadores e deputados federais: 25%
- Prefeitos e vices: 25%
- Vereadores (12,5%) e deputados estaduais (12,5%): 25%
- Filiados: 25%
Segundo o partido, quase 45 mil filiados se inscreveram. Entre eles, todos os quase 50 medalhões (governadores, vices, senadores, deputados federais e ex-presidentes), deputados estaduais e quase 90% dos mandatários.
Segundo os cálculos das respectivas campanhas, Doria deverá triunfar entre filiados, visto que São Paulo concentrou 62% dos inscritos, enquanto Leite leva vantagem entre os medalhões. O grupo de prefeitos e vices está bem dividido e o de vereadores é uma incógnita.
No cenário atual, São Paulo representa 35,6% de toda a votação, já considerando os pesos de cada grupo, enquanto o Rio Grande do Sul, 6,8%. Isso não garante, claro, que todos os filiados de cada estado sigam seus diretórios.
Ao longo da disputa, Leite conseguiu alguns apoios em São Paulo, em especial entre os vereadores da capital. Já Doria contra-atacou, fazendo o encerramento da campanha no Rio Grande do Sul.
Para simbolizar união, os três pré-candidatos chegarão juntos à convenção. Doria e Leite juram que irão respeitar o resultado da votação e devem apoiar ativamente o vencedor no pleito principal —algo que não é visto com tanta garantia entre os tucanos.
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