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Novo partido de Bolsonaro, PL tem passado governista e já fez vice de Lula

Recém-eleito presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abraça seu vice-presidente José Alencar (PL), após receber a confirmação de sua vitória em São Paulo (SP) - VANDERLEI ALMEIDA/AFP
Recém-eleito presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abraça seu vice-presidente José Alencar (PL), após receber a confirmação de sua vitória em São Paulo (SP) Imagem: VANDERLEI ALMEIDA/AFP

Hanrrikson de Andrade e Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

30/11/2021 04h00

Dois anos depois de deixar o PSL, que o elegeu em 2018, o presidente Jair Bolsonaro marcou para hoje o que chama de "casamento" com o Partido Liberal (PL), pelo qual deverá concorrer à reeleição no ano que vem. O mandatário, que fracassou ao tentar fundar uma legenda própria, acertou sua filiação a uma sigla sem qualquer vínculo prévio com sua base eleitoral.

Fundado em 1985 por um ex-integrante da Arena, o partido de sustentação da ditadura militar, o PL se uniu a governos que hoje são alvos preferenciais da direita. Em 2002, enquanto Bolsonaro era um deputado isolado do baixo clero, o partido compôs chapa com o PT e emplacou o vice do então recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de um acordo que arrastaria a sigla para o mensalão.

Hoje, quase duas décadas depois, Bolsonaro entrará para o PL ao final de uma negociação com Valdemar Costa Neto, que comanda a legenda desde a década de 1990. Costa Neto, condenado no escândalo petista, controla atualmente a terceira maior bancada da Câmara, com 43 deputados. A expectativa é ver o número saltar em 2022, graças à chegada dos parlamentares que deixarão o PSL para seguir Bolsonaro.

O grupo atual de congressistas do PL, que também inclui quatro senadores, é tão heterogêneo quanto as alianças já feitas pelo partido. Há nomes como Capitão Augusto (SP) e a Policial Katia Sastre (SP), membros da bancada da bala, Tiririca (SP), integrante da sigla que mais contrariou o governo em votações, e Marcelo Ramos (AM), vice-presidente da Câmara, que já enfrentou Bolsonaro abertamente.

Para receber o presidente da República, o PL tem se esforçado para mostrar alinhamento. Depois de ser adiada na semana passada, a cerimônia de filiação acabou marcada para hoje em homenagem ao Dia do Evangélico, feriado local em Brasília. Segundo apurou o UOL, o evento terá temática religiosa, ao agrado de uma das grandes bases do eleitorado bolsonarista.

Histórico

O PL foi criado em junho de 1985, no Rio de Janeiro, em meio ao florescimento das legendas que surgiam com o fim do regime militar. O fundador foi Álvaro Valle, um ex-deputado fluminense que começou a carreira política na década de 1960 e filiou-se à Arena (Aliança Renovadora Nacional), que se definiu em um documento como "expressão política da Revolução de Março de 1964".

Segundo seu manifesto de fundação, o novo partido nascia para combater, entre outros problemas, a "gravíssima crise ética", o "aumento do custo de vida e o violento arrocho salarial dos trabalhadores" e a "queda ameaçadora e constante dos níveis de emprego", além do "aviltamento progressivo da moeda e o aumento perverso dos níveis inflacionários".

Na teoria, o partido defende o liberalismo social, que apoia a abertura da economia com algum controle estatal. "O liberalismo social, portanto, não consta da mesma seara do neoliberalismo ou do capitalismo ortodoxo. Enquanto, por exemplo, os neoliberais defendem o Estado mínimo, defendemos o Estado necessário", explica Costa Neto no site do PL.

Nas eleições presidenciais de 1989, o partido lançou pela primeira e única vez um candidato próprio: o empresário e deputado constituinte Afif Domingos, que acabou em sexto lugar entre 22 concorrentes. Cinco anos depois, o plano era lançar o empresário Flávio Rocha, hoje bolsonarista e dono da Riachuelo, mas a sigla desistiu e se coligou ao PSDB, que venceu no primeiro turno com Fernando Henrique Cardoso.

Rocha pretendia formar uma chapa com o economista Marcos Cintra, que décadas mais tarde seria secretário da Receita no governo Bolsonaro. Ambos defendiam, já naquela época, uma ideia econômica que não teve apoio da cúpula do partido. "Eles querem que eu seja impedido de falar e dar o meu recado a favor do imposto único", queixou-se Rocha.

Depois de apoiar a candidatura de Ciro Gomes em 1998, o partido aproximou-se do PT e conseguiu fazer, em 2002, o vice de Lula, que concorria pela quarta vez. O petista vestiu a faixa em Brasília ao lado do empresário José Alencar, que filiou-se ao PL naquele mesmo ano depois de vencer resistências internas. O preço do apoio, segundo afirmou Costa Neto anos mais tarde, foi de R$ 10 milhões.

O envolvimento no mensalão levou a legenda a se repaginar como PR (Partido da República), nome que perduraria até 2019. O escândalo, contudo, não significou um divórcio com os petistas. A relação esfriou no segundo governo Lula, mas o partido se coligou com a chapa de Dilma Rousseff em 2010 e 2014.

Sob Dilma, o ainda PR foi agraciado com o Ministério dos Transportes. E foi de lá, sete meses mais tarde, que saiu o primeiro caso de corrupção daquele governo. Envolvia o então ministro, Alfredo Nascimento (AM), que deixou o cargo em meio à má repercussão.

Menos de cinco anos depois de ter comandado a pasta, Nascimento, que era deputado, abdicou da presidência da sigla para poder votar a favor do impeachment de Dilma, já que a orientação da bancada era em sentido contrário.

A saída da petista, em 2016, levou Michel Temer ao comando do Planalto, mas uma coisa não mudou: a legenda continuou no controle do ministério dos Transportes.