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Bolsonaro e Moro passam de 'chapa imbatível' a adversários; veja frases

Anna Satie

Do UOL, em São Paulo

13/12/2021 04h00

O então juiz Sergio Moro foi anunciado como um dos primeiros ministros do governo de Jair Bolsonaro (PL), ainda em 2018, logo após vencer a eleição. Se antes o presidente afirmava que a agenda do magistrado seria o "norte" da gestão, pouco mais de três anos depois, a bússola perdeu o compasso.

Os ataques entre eles se intensificaram desde a filiação de Moro ao Podemos, em novembro deste ano. A relação, entretanto, já vinha se deteriorando desde o pedido de demissão do ex-magistrado do Ministério de Justiça e Segurança Pública em abril de 2020, quando acusou o presidente de tentar interferir na Polícia Federal.

O discurso de Bolsonaro na live do último dia 2, em que chamou Moro de "palhaço", "sem caráter" que "saiu do governo pela porta dos fundos" contrasta com o de dezembro de 2019, em que declarou à revista Veja que uma chapa com ele e o ex-juiz nas eleições de 2022 seria "imbatível".

Ambos não confirmaram a candidatura até o momento, mas tudo indica que se enfrentarão nas urnas no ano que vem. Uma pesquisa Exame/Ideia divulgada nesta sexta mostra o ex-ministro oscilando entre 10% e 14% das intenções de voto, dependendo do cenário. O atual presidente pontua entre 27% e 30%.

Relembre a história entre Bolsonaro e Moro em citações.

Antes da posse

O juiz federal Sergio Moro aceitou nosso convite para o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sua agenda anticorrupção, anticrime organizado, bem como respeito à Constituição e às leis será o nosso norte!, anunciou Bolsonaro em 1º de novembro, quando Moro aceitou o convite para o Ministério da Justiça e Segurança Pública

O trabalho dele [foi] muito bem feito. Em função do combate à corrupção, da Operação Lava Jato, as questões do mensalão, entre outros, me ajudou a crescer politicamente falando. [...] A decisão dele é difícil, vai abrir mão da carreira, tem 22 anos de serviço, para enfrentar um desafio. Chamo ele de soldado, que está indo para a guerra sem medo de morrer. Vai ter muito mais poderes do que estando à frente da Vara da Justiça Federal em Curitiba, declarou Bolsonaro no mesmo dia à imprensa

Elogios à Lava-Jato

O que ele fez não tem preço. Ele realmente botou para fora, mostrou as vísceras do poder, a promiscuidade do poder no tocante à corrupção [...] ele [Moro] faz parte da história do Brasil, defendeu Bolsonaro em 13 de junho de 2019, época dos vazamentos de mensagens entre Moro e procuradores da Lava-Jato

Os presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto. Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo do meu país, Sergio Moro, que é ministro da Justiça e da Segurança Pública, declarou Bolsonaro durante a abertura da Assembleia-Geral da ONU em setembro de 2019

'Chapa imbatível' e 'bom para o Brasil'

Nós somos Zero Um e Zero Dois. Tem de ver se ele quer. Nunca entrei em detalhes com ele sobre esse assunto, até porque é cedo demais para discutir, causa ciúme. Você daria um sinal de que não está satisfeito com o Mourão, e da minha parte está tudo tranquilo com o Mourão. O Moro não tinha uma vivência política. A cabeça dele enquanto juiz pensava assim: 'Se eu fosse presidente, faria isso'. Agora ele conhece a realidade. Mas seria uma chapa imbatível, declarou Bolsonaro em entrevista à revista Veja em dezembro de 2019

O Moro tem um potencial enorme. Ele é adorado no Brasil. Pessoal fala que ele deve encarar como presidente. Se o Moro vier, que seja feliz, não tem problema, vai estar em boas mãos o Brasil. E eu não sei se eu vou vir candidato em 2022, disse o presidente durante live nas redes sociais em dezembro de 2019

Jair Bolsonaro e Sergio Moro - Adriano Machado/Reuters - Adriano Machado/Reuters
Imagem: Adriano Machado/Reuters

Moro pede demissão

Não tenho como persistir com o compromisso que assumi, sem que tenha condições de trabalho, sem que tenha condições de preservar a autonomia da Polícia Federal para realizar seus trabalhos ou sendo forçado a realizar uma concordância com a interferência política na PF cujos resultados são imprevisíveis, afirmou Moro ao pedir demissão, em abril de 2020

Sabia que não seria fácil. Uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é conviver com ela, trabalhar com ela. Hoje pela manhã, por coincidência, tomando café com parlamentares, eu lhes disse: hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem um compromisso consigo próprio, com seu ego, e não com o Brasil, respondeu Bolsonaro em pronunciamento no mesmo dia

Moro anuncia filiação ao Podemos

Você começa a entender um pouco mais as coisas, começa a entender o que eu passei com o ministro Sergio Moro. Ele sempre teve um propósito político, nada contra, mas fazia aquilo de forma camuflada, disse Bolsonaro em entrevista à rádio Jovem Pan do Paraná às vésperas da filiação de Moro, em 8 de novembro deste ano

Não aprendeu nada, ficou um ano e 4 meses e não sabe o que é ser presidente nem ser ministro, ironizou Bolsonaro a apoiadores após discurso de filiação de Moro em 11 de novembro

Faz um papel de palhaço, sem caráter, está se comportando como jornalista da Folha, ou do Antagonista. Está de brincadeira. Mentiroso deslavado, disse Bolsonaro em live no dia 2 de dezembro

O país vai mal porque a liderança é ruim, comentou Moro durante lançamento do livro que escreveu, em 3 de dezembro

Não aguenta 10 segundos de debate [...] Tem um idiota aí agora, não vou falar o nome dele: 'Ah, comigo a economia vai ser inclusiva, sustentável?'. Esse cara passou aí um ano e pouco no meu governo, nunca abriu a boca em reunião de ministros. Sempre de boca fechada. Até que aconteceu a saída. Aconteceu um pouco tarde, mas aconteceu. Agora tem solução para tudo. Estando fora do governo, é fácil, disse Bolsonaro a apoiadores na saída do Alvorada em 7 de dezembro

Não tem coração, nenhum, zero, não tem gratidão, nenhuma, zero. Só tem interesse pessoal, mais nada [...] Certas pessoas pegaram seu ministério, depois saíram obviamente para se preparar politicamente para o futuro, atacou Bolsonaro em entrevista à Gazeta do Povo em 8 de dezembro

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.