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Bolsonaristas querem Olavo de Carvalho como 'herói'; oposição prefere Elza

Honraria lista uma personalidade no Panteão da Pátria, em Brasília - Marcelo Casall/ABR
Honraria lista uma personalidade no Panteão da Pátria, em Brasília Imagem: Marcelo Casall/ABR

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

05/02/2022 11h58

Deputados bolsonaristas e de oposição expressam suas preferências ideológicas e culturais em projetos para transformar personalidades em "heróis da Pátria".

Na quarta-feira (2), a deputada Talíria Perrone (PSOL-RJ) pediu que uma personalidade crítica ao presidente Jair Bolsonaro (PL), a cantora Elza Soares, dona da "voz do milênio", fosse incluída no "Livro dos heróis e heroínas da Pátria".

No mesmo dia e na sexta-feira, onze deputados aliados ao presidente, como Bia Kicis (PSL-DF), fizeram três pedidos para o escritor Olavo de Carvalho, considerado "guru" ideológico dos bolsonaristas, ser honrado na publicação.

Elza e Carvalho morreram em janeiro.

Lista tem Tiradentes e Zumbi

Os projetos de lei apresentados serão analisados pelos parlamentares. A honraria "destina-se ao registro perpétuo do nome dos brasileiros e brasileiras ou de grupos de brasileiros que tenham oferecido a vida à Pátria, para sua defesa e construção, com excepcional dedicação e heroísmo", de acordo com a legislação. Somente pessoas falecidas podem ser homenageadas

Em 2018, a fila de espera incluía o piloto de fórmula 1 Ayrton Senna (1960-1994) e os médicos Oswaldo Cruz (1872-1917), incentivador das campanhas de vacinação, e Vital Brasil (1865-1950), criador do Instituto Butantã. Em 2021, o médium Chico Xavier (1910-2002) ingressou na lista.

A lista atual tem nomes como Tiradentes e Zumbi dos Palmares.

Sabedoria e força inspiraram milhares, diz deputada

Para Talíria Petrone, Elza Soares, que faleceu aos 91 anos, é uma heroína. "É imprescindível que se inscreva seu nome neste livro garantindo que ela seja a primeira artista mulher a integrar a seleta lista do Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília", afirmou a deputada na justificativa.

"Sua sabedoria, sua força e seu talento inspiraram milhares ao longo de uma carreira ininterrupta. Elza, do alto de seus 91 anos, estava gravando um disco e um documentário dois dias antes de sua partida deste mundo. Ela era incansável e seu talento inconteste falecida em janeiro", continua o texto de Talíria Petrone.

Crítica de Bolsonaro, Elza Soares disse, em fevereiro de 2020, que não bastava xingar o presidente da República. "Não adianta mandar o cara tomar aqui, tomar ali gente", afirmou ela aos foliões à época. "O negócio é ir para a rua. É bobagem, a gente não tem que mandar nada, tem que ir para a rua, é na rua que a gente faz a reviravolta, nas ruas."

No final de 2020, a Fundação Palmares, comandada por um ativista do bolsonarismo, retirou o nome de Elza das personalidades negras de seu site. Porém, a fundação afirmou que vai reincluir o nome da cantora na lista de personalidades.

Bolsonaro ignorou o falecimento de Elza.

Era um dos mais audaciosos pensadores, diz deputada

A deputada Bia Kicis lembrou que o escritor Olavo de Carvalho, que morreu aos 74 anos, atuou inicialmente como jornalista, depois estudou filosofia sem concluir o curso e também estudou religiões e astrologia.

"Dedicou-se, ainda, ao estudo das artes liberais, metodologia de ensino, organizada na Idade Média, composta do Trivium (lógica, gramática, retórica) e do Quadrivium (aritmética, música, geometria, astronomia). Nesta seara, passou a elaborar apostilas - que se tornaram livros - e a atuar como professor, em aulas particulares", afirmou a parlamentar na justificativa. "Era - e continuará sendo - saudado pela crítica como um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros", disse Kicis.

Quando ganhou as eleições em 2018, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo em que exibiu quatro livros sobre a mesa. Um deles era de Olavo de Carvalho. Os outros eram a Constituição, a Bíblia e uma biografia de Winston Churchill.

Olavo de Carvalho dizia que havia sido responsável pela indicação de dois ministros do governo: Ricardo Velez (Educação) e Ernesto Araújo (Itamaraty). "Sou irresistível", disse em entrevista ao jornal O Globo em novembro de 2018. Ambos caíram dos cargos antes da morte de Olavo.

Quando Carvalho morreu, Bolsonaro lamentou e ainda decretou luto oficial, chamando-o de "professor". "Gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros", afirmou o presidente.