Bolsonaro diz que população poderia ajudar e não construir em área de risco
Depois de sobrevoar hoje o Recife para averiguar a destruição provocada pelas chuvas na capital pernambucana e cidades das redondezas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que sua gestão não está "medindo esforços" para atender as vítimas atingidas pelos temporais. Em entrevista à Band, o presidente afirmou que "em parte grande parte nós somos responsáveis, os políticos, mas a população poderia colaborar também evitando, nós sabemos da dificuldade, de fazer sua residência em locais que é sabidamente provável, em havendo um excesso de precipitação, a tragédia se fazer presente".
Por meio das redes sociais, Bolsonaro disse que as chuvas que atingiram o Recife e outros estados da região Nordeste "têm causado perdas irreparáveis", mas salientou que o governo federal tem feito "o possível para amenizar a dor" dessas pessoas ao prestar "todo apoio necessário".
"Pedimos a Deus que console todas as famílias que hoje sofrem suas perdas. Não estamos medindo esforços para estender a mão a essas pessoas, mas sabemos que somente Ele é capaz de confortar seus corações e dar forças para seguir em frente", escreveu.
Segundo o presidente, o governo já disponibilizou R$ 1 bilhão para auxiliar no restabelecimento de serviços essenciais e para a reconstrução de estruturas danificadas, além de liberar o saque do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para os moradores das áreas atingidas.
Já durante a noite, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, no "Brasil Urgente" (Band), Jair Bolsonaro falou sobre sua ida ao Recife, mas ressaltou que apenas sobrevoou a região, pois não deu para descer porque "o solo não oferecia segurança". Na última grande enchente enfrentada no Nordeste, Bolsonaro sofreu críticas ao manter suas férias de fim de ano no litoral de Santa Catarina. Ele não visitou a Bahia durante a tragédia, que contabilizou mais de 20 mortos por causa das chuvas.
O presidente destacou que, em Pernambuco, o ministério da Infraestrutura, por meio do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), "já começou também a desobstrução de vias e reconstrução de pontes, restabelecendo a acessibilidade na região".
Na entrevista, Bolsonaro lembrou outras tragédias provocadas pelos temporais que assolaram o país nos últimos meses, a exemplo de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, do sul da Bahia e do norte de Minas Gerais, citou a "ocupação irregular do solo" e ressaltou que esse tipo de catástrofe já é previsível.
"O que a gente observa é a ocupação irregular do solo. Você vai para uma região, tipo Petrópolis, muito acidentada... A gente lamenta o ocorrido, mas parece que aquilo iria acontecer chovendo acima do normal. Não foi diferente no grande Recife, em Jaboatão, apesar de ter um terreno menos acidentado que Petrópolis, os estragos se fizeram presentes. Sabemos das dificuldades e a responsabilidade é de todos nós para ajudar essas pessoas a conseguir um local para morar, compatível e seguro", declarou.
Chuvas deixaram dezenas de mortos no Recife
De acordo com informações da Defesa Civil de Pernambuco, pelo menos 91 pessoas morreram em decorrência das chuvas que caíram sobre o Recife entre quarta-feira (25) e a manhã de hoje (30).
O total de desabrigados subiu para "cerca de 5 mil". O governo decretou situação de emergência, assim como 14 municípios da região metropolitana. O decreto de situação de emergência permite que os municípios solicitem recursos do Sistema Nacional de Defesa Civil.
Os municípios em emergência são: Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, São José da Coroa Grande, Moreno, Nazaré da Mata, Macaparana, Cabo de Santo Agostinho, São Vicente Férrer, Paudalho, Paulista, Goiana, Timbaúba e Camaragibe.
Além do decreto, R$ 100 milhões foram disponibilizados para os trabalhos de busca e salvamento nas áreas atingidas, assim como para obras de infraestrutura nos municípios atingidos pela chuva.
Bolsonaro critica governador
O presidente Jair Bolsonaro e o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), trocaram críticas pela atuação diante das fortes chuvas que atingem o estado, e que já deixaram ao menos 79 mortos.
Em visita ao Recife hoje, Bolsonaro disse que "faltou iniciativa" ao governo estadual.
"Em todos os momentos que os governadores nos procuraram ou prefeitos, nós atendemos. Eu acho que faltou iniciativa da parte dele também. Aqui ninguém está proibido de comparecer nesse local, nesse momento", afirmou durante coletiva de imprensa. "Se o governador estava fazendo outra coisa, não sei, talvez ache melhor não estar presente aqui. Mas a gente não vai politizar essa questão".
O governo de Pernambuco disse ontem ao jornal Folha de S.Paulo que Câmara não recebeu nenhuma ligação de Bolsonaro para discutir a tragédia, e que não foi convidado para acompanhar a comitiva de ministros que visitou o estado.
Previsão do tempo
De acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Clima, apesar da redução no volume, as precipitações devem continuar, com intensidade moderada, até a próxima sexta-feira (3), na região metropolitana do Recife e na Zona da Mata, "diminuindo no final de semana no litoral pernambucano".
Os maiores acumulados nas últimas 24 horas foram registrados nos municípios de Olinda (60 milímetros), Paulista (57 mm), Itapissuma (53 mm) e Recife (52 mm). O nível dos rios, porém, permanece estável.
Plano contra tragédia demorou 2 dias
O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão federal ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, emitiu um boletim geo-hidrológico na última quarta-feira (25) em que alertou para o "risco alto" de chuvas intensas e de deslizamentos na região metropolitana do Recife.
Mesmo com o alerta, a prefeitura da capital pernambucana só acionou o plano de contingência na sexta-feira (27), quando a Apac (Agência Pernambucana de Águas e Clima) emitiu um outro comunicado informando a previsão de chuva intensa para o final de semana. Entre sexta e ontem, o estado contabilizava 79 pessoas mortas em consequência das chuvas e 3.957 desabrigados.
Procurada, a Prefeitura do Recife confirmou ter usado como referência os alertas da Apac.
Plano de contingência é um planejamento previsto em lei federal de 2012, determinando que os municípios tenham definidas ações de proteção e defesa civil. Elaborado a partir de uma hipótese de desastre, é nele que está a definição de procedimentos, ações e decisões em caso de eventos extremos, com preparação e resposta ao ocorrido.
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