Bolsonaro diz esperar resolução do caso Dom e Bruno 'nas próximas horas'
O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou na tarde de hoje que "tudo indica" que o caso do repórter Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, desaparecidos desde 5 de junho no Vale do Javari, no Amazonas, será "desvendado" e "esclarecido nas próximas horas".
A declaração do presidente foi dada no Palácio do Planalto depois de a Polícia Federal levar ao local do desaparecimento um dos suspeitos que estão na mira das autoridades.
No fim da manhã de hoje, agentes da PF subiram o rio Itacoaí, onde Dom e Bruno foram vistos pela última vez, na companhia de um suspeito. Como ele estava encapuzado, não foi possível verificar se se tratada de um dos dois homens presos até o momento —Amarildo Oliveira, o Pelado; e seu irmão, Oseney de Oliveira dos Santos; ou até mesmo outro suspeito.
"Eu espero que nas próximas horas o episódio de desaparecimento de dois cidadãos na Amazônia seja esclarecido. Tudo indica para isso", afirmou Bolsonaro durante solenidade realizada no Planalto para sanção de projetos de lei.
Dom e Bruno sumiram depois de uma parada em uma comunidade ribeirinha do rio Itacoaí, quando estavam fora da terra indígena do Vale do Javari e voltavam para a cidade de Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas. O trajeto tem cerca de 70 km. Colaborador do jornal inglês The Guardian, o repórter percorre a região para produzir reportagens.
O chefe do Executivo federal também voltou a dizer que considera que Dom e Bruno conheciam os riscos de viajar pela região da terra indígena do Vale do Javari —onde há atuação criminosa como pesca ilegal e garimpagem.
O governante também manifestou insatisfação com críticas que têm recebido por conta do caso e afirmou que, no passado, 'ninguém culpou' os governos do PT pelo assassinato da missionária americana Dorothy Stang, em 2005.
"Por exemplo, os dois que desapareceram. A gente lamenta o desaparecimento. Um inglês e um brasileiro que sabiam dos perigos da região. E, pelo que tudo indica, nas próximas horas... Pelo que tudo indica até o momento, né, isso será desvendado."
"Desde o primeiro dia, no domingo retrasado, a nossa Marinha estava em campo. Estão me culpando agora por isso. Quando mataram a Dorothy Stang, lá atrás, ninguém culpou o governo. Era de esquerda."
Dom era 'malvisto' na região, diz Bolsonaro
Mais cedo, o governante disse que o repórter britânico Dom Phillips era "malvisto na região" por fazer "muita matéria contra garimpeiro" e/ou com foco em conflitos ambientais. Em entrevista ao canal da apresentadora Leda Nagle no YouTube, ele também classificou a presença do jornalista no local como uma "excursão".
"Os dois resolveram entrar numa área completamente inóspita sozinhos, sem segurança e aconteceu problema. Desde primeiro dia estamos buscando as pessoas na região e não estamos tendo sucesso", disse.
O presidente, que tem sido pressionado publicamente por opositores, por autoridades e pela mídia internacional, afirmou que a região do Vale do Javari é "bastante isolada" e que "muita gente não gostava" de Dom. Para Bolsonaro, o jornalista, a quem chamou de "esse inglês", deveria "ter segurança mais que redobrada consigo próprio".
Esse inglês, ele era malvisto na região. Porque ele fazia muita matéria contra garimpeiro, a questão ambiental... Então, aquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio. E resolveu fazer uma excursão
Jair Bolsonaro
Essa não é a primeira vez que Bolsonaro tenta relacionar o desaparecimento [decorrente de um possível ato de violência, ainda não confirmado pelas autoridades policiais] com um suposto descuido de Dom Phillips e de Bruno Pereira. Em 7 de junho, dois dias depois que o sumiço foi relatado, o presidente afirmou publicamente que ambos estavam em uma "aventura" "não recomendável" pela Amazônia.
Ao ilustrar o que considera ser um ambiente inóspito no Javari, Bolsonaro disse que "lá tem pirata no rio", "tem tudo", e reforçou o argumento de que, para ele, Phillips não teria tomado os devidos cuidados de segurança.
"(...) A gente não sabe se, quando ele saiu do porto, só dois, alguém viu e foi atrás dele. Se foi... Lá tem pirata no rio. Tem tudo o que se possa imaginar lá. E é muito temerário você andar naquela região sem estar devidamente preparado, né... Física, mente e também com armamento. Devidamente autorizado pela Funai e, pelo que parece, não estavam."
Bolsonaro comentou ainda a iniciativa de parlamentares da oposição que recorreram à Justiça com o objetivo de responsabilizar o governo federal. Segundo o presidente, 60 mil pessoas desaparecem por ano no país. "Imagina, Leda, você... Nós termos um filho pequeno desaparecido... Como fica a vida da gente. E desapareceu como, né, o que fizeram com essa criança, com esse adulto com esse idoso."
Também nesta quarta, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou estar "profundamente preocupado" com o fato de Dom ainda não ter sido localizado — Bolsonaro não se manifestou sobre a declaração do premiê.
Região tem escalada de violência
Localizada na fronteira com o Peru e a Colômbia, com acesso restrito por vias fluviais e aéreas, a região do Vale do Javari abriga a maior concentração de povos indígenas isolados no mundo.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um crescimento de 9,2% na violência letal entre 2018 e 2020 em cidades de floresta na região Norte do país. Isso inclui uma guinada na ocupação da área demarcada, no avanço do tráfico de drogas, da caça clandestina, da extração ilegal de madeira e da mineração de ouro.
Ontem, o prefeito de Atalaia do Norte, Denis Paiva (União Brasil), falou que o sumiço pode ter relação com a "máfia dos peixes", conforme mostrou a agência de notícias norte-americana AP (Associated Press): "O motivo do crime é uma briga pessoal pela fiscalização da pesca", afirmou.
O ex-presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio) Sydney Possuelo disse ontem acreditar que Bruno e Dom foram vítimas de uma emboscada. À PF, o procurador da Univaja, Eliésio Marubo, afirmou ter recebido uma mensagem de Bruno alertando que "corria risco de vida".
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