'É o que faz, não o que fala': mulheres contam por que votam em Bolsonaro
"A tese dele da família, de Deus. É isso que me encanta", diz a comerciante Adriana de Araújo dos Santos, 48, ao ser questionada por que vai votar no presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2 de outubro.
Dona de um mercadinho em Itapevi, na região metropolitana de São Paulo, Adriana votou em Bolsonaro em 2018 vislumbrando mudanças, e vai repetir a dose este ano. Ela faz parte de um grupo de 27% de eleitoras brasileiras que dizem que irão votar no mandatário, segundo pesquisa Datafolha divulgada na semana passada.
Embora tenha subido seis pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, quando tinha 21%, Bolsonaro fica bem atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder na pesquisa, que tem 46% das intenções de voto das mulheres.
Além de Adriana, o UOL conversou com outras duas mulheres que se declaram eleitoras do atual mandatário. Em comum, elas têm um passado de decepção com o PT e, em 2018, terem desejado mudança. Divergem, no entanto, sobre as piadas misóginas e declarações preconceituosas feitas por ele ao longo de sua carreira política —classificam como "falas infelizes" e "brincadeiras".
'Brincar todo mundo brinca'
Nascida em Sumé (PB), Adriana estudou até a 5ª série do ensino fundamental. Vive em São Paulo há mais de 30 anos, é casada e tem dois filhos. Católica, frequenta uma igreja evangélica na região onde vive e diz acreditar no "potencial cristão" e de "cidadão de bem" de Bolsonaro.
Ele é muito verdadeiro. Por isso, sempre vai ser perseguido, como os grandes homens da Bíblia. Vai fazer amigos e inimigos
Como vende produtos essenciais, ela não precisou fechar seu comércio devido às restrições impostas pela pandemia, mas sentiu o avanço da inflação nos preços dos produtos, algo que atribui exclusivamente ao cenário provocado pela covid-19. "Ele [Bolsonaro] não tem culpa de nada. Não teve chance de fazer tudo o que podia. Quem esperava a pandemia?", questiona.
Em junho, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a inflação não é culpa do governo, mas sim um problema mundial. Em 2022, o IPCA, a inflação oficial no país, acumula alta de 5,49% e, nos últimos 12 meses, de 11,89%.
Adriana contou que precisou recorrer ao auxílio emergencial durante o período mais agudo da pandemia. Eleitora de Lula no passado, a comerciante diz que hoje evita conversar sobre política com a família. "Acredito que votem nele [Lula]."
Questionada sobre os comentários preconceituosos do presidente contra mulheres, Adriana diz ver tudo como "brincadeira". "Brincar todo mundo brinca", resume a comerciante. "É o que ele faz, não o que ele fala."
Citando especificamente o caso da deputada Maria do Rosário (PT-RS), ela diz que Bolsonaro "apenas se defendeu". Em 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) condenou o mandatário por dizer no plenário da Câmara dos Deputados que não a estupraria porque ela "não merece".
"Fica aí, Maria do Rosário. Há poucos dias, tu me chamou de estuprador, no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui para ouvir", disse Bolsonaro, então deputado federal em 2014.
'Carinho' com Michelle
A zootecnista Sonia Garcia, 51, votou em Lula nas eleições de 2002 e diz ter se arrependido. Em 2018, apostou no então desconhecido deputado Bolsonaro e diz acreditar que ele vem fazendo um "ótimo governo".
"Não via ninguém na época que pudesse fazer a mudança que o Bolsonaro se propôs a fazer", afirma ela sobre as últimas eleições. Ela cita melhorias na infraestrutura e na economia como os principais feitos do atual governo.
Desempregada, Sonia diz que a maioria das vagas para trabalhar na área em que é formada estão no interior paulista —atualmente, ela vive na capital, onde cuida dos pais.
"Apesar da pandemia ter tido efeito na economia em todo mundo, ele [Bolsonaro] está fazendo com que a gente sinta menos no Brasil", diz, citando a redução no índice de desemprego e a recente queda nos preços dos combustíveis. "Tudo isso dá para perceber que ele tem uma visão de futuro."
Embora reconheça que Bolsonaro tenha falado "coisas infelizes" no passado, ela não acredita que ele seja preconceituoso.
"Dizer que ele é misógino, não gosta de mulheres...onde isso? Ele está justamente fazendo um governo que está beneficiando também as mulheres que são chefe de família. Para mim, não interfere [as falas]", diz. "O jeito como ele trata a esposa [a primeira-dama Michelle], dá para ver que ele tem um carinho, cuidado. A gente sabe o caráter das pessoas pela forma como elas tratam a mãe e a esposa."
'Vou apostar de novo'
Virgínia Gouveia, 57, administra com o marido uma empresa especializada em reformas e construções de telhados e coberturas em São Paulo e, assim como em 2018, vai votar em Bolsonaro.
A empresária diz que não teve suas demandas supridas pelos governos petistas e crê que a pandemia atrapalhou o governo. "Vou apostar mais uma vez no Bolsonaro para ver se tem mudanças", afirma.
Apesar da crise causada pela covid-19, Virgínia diz que conseguiu manter os funcionários e expandir a empresa nos últimos anos. '[Bolsonaro] abriu portas de financiamento, fez com que os pequenos negócios tivessem acesso a isso. Não tenho o que reclamar como empresária."
Ela diz, no entanto, que o presidente "deixa a desejar muito" em algumas de suas falas e se sente incomodada em certas ocasiões. "Infelizmente, é um lado muito negativo da parte dele, às vezes incomoda. Como presidente, a gente está sempre esperando uma coisa mais formal", explica.
"Presidente cor-de-rosa"
Conforme mostrou o UOL no fim de semana, aliados do presidente têm ido às redes sociais para dizer que ele é o chefe do Executivo que "mais lutou" pelas mulheres.
A ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos) publicou, na sexta-feira (29), um vídeo no qual chama Bolsonaro de "presidente mais cor-de-rosa da história".
Para avançar entre o eleitorado feminino, a campanha de Bolsonaro também tem investido em uma maior exposição da primeira-dama. Ela foi a única além do marido a discursar na convenção do PL, evento que oficializou a candidatura do presidente à reeleição.
"Falam que ele não gosta de mulheres, mas ele sancionou a lei que dá o direito de mães de crianças com microcefalia receberem o BPC [Benefício de Prestação Continuada]", disse Michelle na ocasião.
Discurso sexista
Apesar do esforço de Michelle, Bolsonaro não abandonou o discurso sexista. Na semana passada, disse que a esposa teria aprendido libras a pedido dele "por falar alto demais em casa".
Na mesma ocasião, ele disse ganhar R$ 33 mil, mas não gastar quase nada, porque quem gastaria seria sua esposa.
No ano passado, o presidente também constrangeu Michelle ao dizer que havia dado um "bom dia muito especial" a ela, numa provável insinuação sobre a vida sexual do casal.
Em 2017, o presidente também declarou que Laura, sua única filha, era fruto de uma "fraquejada" —além dela, ele é pai de quatro homens.
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