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Bolsonaro xinga Lula e faz piada homofóbica contra ex-ministros

Do UOL, em Brasília e São Paulo

10/08/2022 11h40Atualizada em 10/08/2022 16h24

O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), voltou hoje a atacar o principal adversário nas urnas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com xingamentos durante discurso no Encontro Nacional do Agro, em Brasília. O governante também fez piada homofóbica com ex-ministros da Defesa e afirmou que, em gestões anteriores, eles "nunca pegaram em uma pistola" e "nunca deram um tiro".

Segundo Bolsonaro, os ex-ministros da Defesa —no período anterior a 2019, quando ele assumiu — eram pessoas "que não entendiam nada".

"Até pouco tempo tinha tudo quanto é tipo de gente lá, que não entendia nada, que nunca pegou numa pistola —que atira, vamos deixar bem claro— e foi ser ministro da Defesa. Ele pode ter pego em várias outras pistolas, nessa que atira não", ironizou o chefe do Executivo federal, em comentário de baixo calão alusivo ao órgão sexual masculino.

Passaram pela função durante o atual mandato os generais de Exército Fernando Azevedo, Walter de Souza Braga Netto (hoje candidato a vice na chapa do PL) e Paulo Sérgio Nogueira. Todos têm quatro estrelas (graduação máxima na carreira).

Em entrevista ao UOL no fim de julho, Lula disse ser favorável a um civil como ministro da Defesa, caso eleito.

"Conversei várias vezes com meus comandantes e eles diziam para mim: presidente, não é prudente colocar um militar no Ministério da Defesa, porque não é possível uma força mandar na outra! Se você coloca um do Exército, a Marinha e a Aeronáutica ficam chateadas; se você coloca a Aeronáutica, o Exército, a Marinha ficam chateadas. Por isso nós conquistamos a indicação do ministro da Defesa para colocar gente da sociedade civil e pode ficar certo que será um ministro da sociedade civil, não será um militar", disse ele na ocasião.

Bolsonaro também disse, sem apresentar qualquer prova, que as Forças Armadas são o último obstáculo ao socialismo. "Eles sabem que as Forças Armadas são o último obstáculo para o socialismo. Por isso, o ataque e a criação da Defesa (ministério), em 1999, não por necessidade militar, mas por necessidade política de tirarem os militares da negociação", afirmou.

Ataques a Lula

Em relação ao petista, Bolsonaro acusou o rival de querer "regular a produção agrícola" e disse que ele removeu tal proposta de seu programa de governo por conveniência eleitoral. "O cara já retirou do programa de governo dele. Malandro como sempre, sem caráter, um bêbado que quer dirigir o Brasil".

"Se colocar uma pessoa com certos vícios para pilotar essa Ferrari, ela vai capotar na primeira curva. O Brasil só não capotou porque é muito grande", disse Bolsonaro, em tom debochado, com o objetivo de atacar o petista.

Confortável em clima de apoio irrestrito, Bolsonaro fez um longo discurso hoje e chegou a pedir aos organizadores do evento mais espaço de fala. Ele também fez piada de cunho preconceituoso ao associar políticos de esquerda —e/ou ideologicamente alinhados ao espectro de esquerda— à obesidade. Para o pleiteante à reeleição, enquanto o povo passa fome, tais lideranças políticas se aproveitam do poder.

Nesta semana, em discurso na Febraban (Federação dos Bancos do Brasil), onde não havia o mesmo clima de apoio e bajulação, Bolsonaro subiu o tom contra Lula, mas evitou recorrer a palavras de baixo calão ou termos mais pesados.

O chefe do Executivo também voltou hoje a criticar os signatários do documento que tem sido chamado de "Carta pela Democracia". Lula e a esposa, a socióloga Rosângela, assinaram ontem o manifesto.

"Vimos agora há pouco uma cartinha em defesa da democracia. Olha quem assinou a carta... O último que assinou é um cara que vive de amores e beijos... Ou vivia, porque alguns já morreram, com Fidel Castro, [Hugo] Chávez...", disse ele, citando outros ícones políticos associados à esquerda.

Os candidatos à Presidência Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Felipe D'Ávila também aderiram ao manifesto, além dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). O candidato a vice na chapa do PT, Geraldo Alckmin (PSB), também assinou.

Ataque às urnas

Tema recorrente no palanque bolsonarista, a confiabilidade da urna eletrônica voltou a ser questionada pelo presidente da República. O candidato do PL voltou a insinuar que o sistema é frágil e que pode haver suspeições ao fim do processo de votação, em outubro. A versão é desmentida pelas autoridades do Judiciário brasileiro e atualmente conta com o endosso apenas de setores pró-governo, como o Exército e a militância radicalizada.

"Nós temos, mais que o dever, o direito de aperfeiçoar as instituições, desconfiar, debater. Ninguém tem o poder de falar 'eu que mando, ninguém mete a colher, é assim e quem for contra está atacando a democracia'. Nós queremos transparência, queremos a verdade e queremos terminar as eleições sem quaisquer desconfianças, seja qual for o lado."

Desde que as urnas eletrônicas foram implementadas —parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000— nunca houve comprovação de fraude nas eleições brasileiras, mesmo quando os resultados foram contestados. A segurança da votação é constatada pelo TSE, pelo MPE (Ministério Público Eleitoral) e por estudos independentes.