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Bolsonaro renega Jefferson, mas defendeu deputado em 2005 após cassação

Bolsonaro tentou negar relações com Jefferson, mas histórico nas redes sociais registra fotos com a dupla - Redes Sociais/PTB
Bolsonaro tentou negar relações com Jefferson, mas histórico nas redes sociais registra fotos com a dupla Imagem: Redes Sociais/PTB

Do UOL, em Brasília*

24/10/2022 17h01Atualizada em 24/10/2022 17h10

Ex-colega de Roberto Jefferson (PTB) na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro (PL), hoje presidente e candidato à reeleição, saiu em defesa do ex-congressista depois que ele teve o mandato cassado, em 2005, após ser um dos pivôs do escândalo do mensalão.

Dezessete anos depois, de olho na reeleição, Bolsonaro adotou outra postura e mentiu ao negar relações com Jefferson, um aliado do atual governo. O motivo: o petebista atacou policiais federais a tiros, no domingo (23), durante cumprimento de mandado de prisão contra ele. Dois agentes foram feridos.

No começo da tarde de ontem, enquanto ainda ocorria a negociação para que Jefferson se entregasse à PF, na residência do político (em Levy Gasparian, interior do RJ), Bolsonaro tentou se desvincular da imagem do petebista ao dizer que não havia fotos dois juntos, o que foi logo desmentido.

Solidariedade ao 'ex-companheiro'. Em setembro de 2005, um dia depois de a Câmara cassar o mandato de Jefferson, colegas utilizaram a tribuna do plenário da Casa para emitir opiniões. O então deputado Tarcísio Zimmerman, do PT-RS, pediu à Presidência que o nome do parlamentar destituído fosse retirado do painel eletrônico.

Bolsonaro então pediu a palavra e, na condição de orador, declarou que tal interferência não tinha "cabimento". Disse ainda que "ficar batendo no ex-companheiro" era uma atitude "lamentável".

"Poderia ser tirado também o nome de José Dirceu [ex-ministro do PT] do painel eletrônico. Seria muito mais digno para nós. Roberto Jefferson pagou. Lamento. Não temos de discutir mais essa questão. Ficar batendo no ex-companheiro é lamentável."

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Em foto de 2020, Jefferson aparece empunhando um fuzil contra "comunistas", segundo publicação feita pelo ex-deputado nas redes sociais
Imagem: Twitter/Divulgação

Dirceu, ex-ministro da Casa Civil no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (hoje adversário de Bolsonaro no segundo turno), foi preso em 15 de novembro de 2013.

No ano anterior, foi condenado pelo esquema de compra de votos, que ficou conhecido como mensalão, a 7 anos e 11 meses de reclusão. Em 2016, a pena foi extinta por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luis Roberto Barroso.

Bolsonaro também deu boas-vindas ao suplente de Jefferson, Fernando Gonçalves (PTB), que assumiu a vaga na Câmara. Ressalvou, no entanto, que "preferia que Jefferson continuasse" na Casa.

"Sei que está [Gonçalves] está sentido, dadas as circunstâncias de sua chegada, pois não queria que fosse dessa maneira. Preferia, tenho certeza, que Roberto Jefferson continuasse aqui. Mas as circunstâncias quiseram que assim fosse."

Eleito deputado pela primeira vez em 1982, Jefferson, um dos caciques do PTB, renovou o mandato cinco vezes. Deixou o Congresso apenas no ano da cassação, em 2005. Ele foi considerado denunciante do caso do mensalão, escândalo de corrupção que atingiu o primeiro mandato do governo Lula (2003-2006).

Prisão. Jefferson foi preso no domingo (23) por participar de uma suposta organização criminosa que atua nas redes sociais para atacar a democracia, além de ter ameaçado a integridade física dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Reaproximação. Bolsonaro e Jefferson se reaproximaram ainda em 2020, quando o presidente se coligou ao centrão no Congresso para se blindar de pedidos de impeachment e cogitou se filiar novamente ao PTB para disputar a reeleição em 2022.

Os dois chegaram ser correligionários e fizeram parte da mesma bancada, a do PTB, entre 2003 e 2005. Jefferson era o líder da sigla na Câmara.

"Ele foi o meu liderado na Câmara. Eu era o líder do PTB, e o Bolsonaro era o liderado meu na bancada do PTB", afirmou Jefferson ao UOL em abril de 2020, quando começava a se reaproximar do governo.

O Bolsonaro é o meu amigo pessoal. Guardamos isso do passado"
Roberto Jefferson, em entrevista ao UOL em abril de 2020

Nessa mesma época, Bolsonaro divulgou em suas redes um vídeo em que Jefferson lhe faz elogio. "Ele é representante do povo, ele é o chefe do estado, chefe do governo e ele tem honrado o que ele disse na campanha: ele disse eu não vou roubar e não vou deixar roubar", diz o petebista no vídeo.

Mentira. Na tentativa de se descolar do ex-colega e atualmente aliado do governo, Bolsonaro afirmou ontem que não havia foto dele junto ao ex-deputado. A declaração, no entanto, é falsa.

'Meu presidente'. Imagens publicadas nas redes sociais desmentem a versão de Bolsonaro —inclusive em posts do próprio Jefferson.

Em uma publicação de 14 de abril de 2021, o petebista escreveu: "Meu presidente encarna todos os meus credos. Prometo defendê-lo enquanto pólvora tiver".

Trânsito livre. Jefferson tinha trânsito livre no Palácio do Planalto. Foi recebido por Bolsonaro em 3 de agosto de 2021, dez dias antes de ser preso pela PF —no dia 13 daquele mesmo mês e ano. O encontro foi registrado na agenda oficial do presidente.

Em setembro de 2020, o perfil do PTB no Facebook postou fotos de Jefferson abraçado com o presidente e informou que, naquele dia, o ex-congressista reforçou o convite ao presidente Bolsonaro para que se filie ao PTB, com objetivo de disputar as eleições de 2022".

Bolsonaro acabou se filiando ao PL em novembro do ano passado.

*Com reportagem de Wanderley Preite Sobrinho, do UOL, em São Paulo.