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Bolsonaro mantém silêncio e caminhoneiros fecham rodovias em protestos

Do UOL, em São Paulo

31/10/2022 20h00Atualizada em 01/11/2022 17h29

Um dia após a confirmação de sua derrota eleitoral, oficializada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) às 19h57 de domingo (30), o presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não reconheceu a vitória de seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O silêncio sobre as urnas joga incerteza sobre bloqueios em rodovias, que ocorrem desde ontem após o anúncio do resultado.

Até a última atualização da PRF (Polícia Rodoviária Federal), às 18h15 de hoje (31), havia 236 bloqueios de rodovias em 16 estados. À noite, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou à PRF (Polícia Rodoviária Federal) e às polícias militares a "imediata desobstrução" de todas as vias.

Sem uma liderança abertamente identificada, os manifestantes têm afirmado em vídeos que pretendem manter as estradas fechadas até que Bolsonaro se pronuncie.

"Houve fraude sim, teve manipulação, e o nosso presidente até agora não se manifestou", diz o manifestante de um bloqueio na BR-317, em Rondônia, que circula nas redes sociais. Não há nenhum indício de fraude na eleição. "Nós estamos fazendo essa manifestação aqui, hoje [31], até o nosso presidente se manifestar. Se ele se manifestar e falar que não deu, chega, cada um vai para sua casa, vamos aceitar".

Conforme apurou o UOL Notícias, as paralisações estão sendo articuladas em pelo menos 29 grupos de Telegram, divididos por estado. Em geral, os grupos são criados por pessoas não identificadas e têm uma mensagem padronizada, orientando os caminhoneiros a paralisar rodovias e vias de acesso às cidades, com detalhamento de locais e horários.

A PRF (Polícia Rodoviária Federal), responsável pela fiscalização das vias federais, afirmou que acionou a Justiça para liberar as rodovias.

Por que as estradas estão bloqueadas? O motivo declarado dos protestos, conforme os vídeos e mensagens que circulam nas redes, é o inconformismo com a eleição de Lula a presidente. Os manifestantes dizem não confiar nas urnas eletrônicas.

"Aqui está tudo fechado até segunda ordem. Ninguém entra, ninguém sai, até segunda ordem. Então se você desconfia dessas eleições, a gente convida você para estar presente aqui também", afirmou em vídeo um manifestante, identificado como Vinícius Santana, em frente a um bloqueio na BR-364, em Rondonópolis.

Qual o nível de apoio às paralisações? Os bloqueios têm sido incentivados aliados de Bolsonaro. A deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP), que reconheceu a vitória de Lula, publicou uma mensagem no Twitter, no início da madrugada de hoje, incentivando as paralisações. "Parabéns, caminhoneiros, Permaneçam, não esmoreça", escreveu.

Outra parlamentar bolsonarista, a deputada federal Aline Sleutjes (PROS-PR), gravou hoje um vídeo em frente a um bloqueio em uma rodovia estadual, a PR-151. Nas imagens, a parlamentar afirma que "os resultados das urnas não demonstram o resultado da voz do povo" e diz que os manifestantes aguardam uma palavra de Bolsonaro.

"Nós esperamos, realmente, que logo, logo o presidente possa se pronunciar, possa estar em mãos com o relatório da segurança nacional, provando que houve qualquer tipo de fraude, de desvio de votos, porque não é possível", disse a parlamentar sobre a vitória de Lula.

bolsonaro - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Bolsonaro acena para apoiadores em Brasília a partir de um carro
Imagem: Reprodução/TV Globo

Por que Bolsonaro ainda não se manifestou? Desde a confirmação do resultado eleitoral, Bolsonaro não deu nenhuma declaração pública ou divulgação nas redes sociais. Ontem, aliados como Zambelli, o senador eleito Sergio Moro (União-PR) e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), já haviam reconhecido a derrota do presidente.

Hoje houve manifestações da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente. Enquanto o parlamentar fez um agradecimento aos eleitores, a esposa de Bolsonaro postou um salmo bíblico, mas nenhum reconheceu diretamente a eleição de Lula.

Desde o começo da manhã de hoje, o salão leste do Palácio do Planalto, em Brasília, estava preparado para uma declaração, mas os aliados próximos de Bolsonaro não conseguiram convencê-lo a se manifestar. Ao longo do dia, o presidente se encontrou com parlamentares e ministros para discutir o tom do pronunciamento, mas até o momento não houve nenhum.

Qual foi a reação de Lula e do PT ao caso? O partido tem afirmado que os bloqueios nas rodovias são um problema a ser resolvido pelo governo Bolsonaro e que não cabe a Lula ou à sigla interferir.

"Quero lembrar que quem preside o Brasil neste momento é Jair Messias Bolsonaro. A responsabilidade sobre isso é dele e dos órgãos que ele governa. Ele tem que resolver isso para não prejudicar a população", disse hoje a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, em entrevista a jornalistas.

Enquanto os bolsonaristas contestam o resultado, a equipe de Lula já começou a tratar da transição de governo. No governo Bolsonaro, as tratativas com a cúpula petista estão sendo conduzidas pelo ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira (PP-PI).