Negociações e entraves: por que Lula ainda não anunciou nenhum ministro
Apesar de algumas nomeações já serem dadas como certas, por aliados, para compor o primeiro escalão do futuro governo, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda não anunciou nenhum ministro.
Em Brasília desde segunda-feira (28), o petista tem participado de reuniões com a equipe de transição, lideranças partidárias e parlamentares. Os principais temas são a PEC da Transição, que foi protocolada no Senado, e a composição do novo governo —com pressão de políticos, imprensa e mercado.
O ex-ministro Fernando Haddad (PT) já é um dos nomes tidos como certo —à frente da Fazenda. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) também é tratada como ministra. Algumas negociações e entraves têm segurado os anúncios, que podem ocorrer nos próximos dias.
Retorno da Fazenda. O nome do ex-ministro da Educação petista chegou a ser cotado para a pasta da Fazenda já em 2018, quando Lula era candidato, antes de ser preso. Haddad voltou à mira ao final do segundo turno, quando foi derrotado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo.
Desde então, tem circulado com o presidente eleito: foi ao Egito para a COP-27, maior conferência global sobre o clima, e o acompanha em Brasília nesta semana. Entre aliados, já está dado que ele será o novo ministro —assim, é também apresentado a parlamentares, lideranças partidárias e players do mercado. Na terça (29), participou de uma reunião de horas com o GT da Economia.
A única questão seria a data do anúncio. Havia uma expectativa para esta semana (ainda pode acontecer hoje ou amanhã). Se não, pode ficar para o meio de dezembro, próximo à diplomação de Lula, no dia 12.
Duplinha. Com o desmembramento do Ministério da Economia, o ideal seria anunciar o nome da Fazenda junto ao do Planejamento. Pérsio Arida, um dos fundadores do Plano Real, era mais cotado.
Ele diz não ter intenção de assumir, mas, segundo fontes ligadas ao governo de transição, seu nome foi sugerido pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), e aceito por Lula. O plano era ter um perfil técnico e outro político, com visões econômicas distintas e complementares.
Quando tudo parecia fechado, Arida teria pedido a Lula que sua pasta abrigasse Orçamento e Privatizações. Se o primeiro parecia possível, passar o segundo para um economista liberal arregalou os olhos dos petistas.
Arida continua participando ativamente, e com influência, do GT de Economia. Ainda não foi descartado, mas tampouco está confirmado. A única coisa que garantem os petistas é que a nomeação desta pasta partirá de Alckmin.
Na conta de quem? A vaga de Tebet também está praticamente fechada —só falta combinar com o MDB. O partido liberou voto no segundo turno, mas quase metade de seus diretórios já estava com o petista desde a primeira etapa. Agora, barganha por pelo menos três pastas no novo governo.
O problema é que o partido quer que Tebet, não tão próxima da ala que encampou Lula desde o começo —liderada pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL)—, seja considerada uma escolha do petista e não entre para a fatia partidária.
A senadora mergulhou na campanha lulista do segundo turno e é cotada para o novo Ministério de Desenvolvimento Social —que também tem a presidente petista Gleisi Hoffmann como opção. Há setores dentro do PT, no entanto, que acham quatro ministérios para o MDB um número alto demais.
Indecisão na Defesa. Outra pasta muito aguardada é a da Defesa. Lula já disse que o novo ministro será um civil, mas ainda há expectativa de definição.
José Múcio, ex-ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), foi convidado para a equipe de transição e logo se tornou o principal cotado para assumir a pasta, o que agradou a militares. Por fora, no entanto, também corre o nome de um ex-ocupante do cargo, Nelson Jobim, que deixou o governo Dilma Rousseff (PT) rachado com petistas.
Sem pressão. Presidente por oito anos, Lula tem repetido a aliados que nunca aceitou pressão de ninguém —nem mercado, nem parlamento, nem imprensa, nem militares— para antecipar os nomes de seu governo. E que não o fará dessa vez.
O presidente eleito tem repetido que tudo tem seu tempo. Em 2002, no primeiro mandato, ele sofria pressão semelhante e anunciou, em 10 de dezembro, Antônio Palocci, então coordenador da transição, na Fazenda, e Marina Silva no Meio Ambiente.
Em 2022, Marina volta a ser cotada para a pasta, com possível anúncio também próximo. Lula só não quer que pareça que ele tomou decisão após pressão de outros. Anunciar só Haddad, por exemplo, poderia sinalizar que estaria cedendo aos agentes financeiros. Se corresse com o nome de Múcio, ao Exército.
Alguns anúncios podem sair ainda nesta semana, enquanto ele está em Brasília, mas há uma expectativa que a maioria venha no meio de dezembro, após a diplomação.
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