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Presidente da Casa de Rui Barbosa é demitida após dossiê contra Mario Frias

Letícia Dornelles, ex-presidente da Casa de Rui Barbosa - Divulgação
Letícia Dornelles, ex-presidente da Casa de Rui Barbosa Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

14/12/2022 14h00Atualizada em 16/12/2022 07h42

A presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Leticia Dornelles, foi exonerada hoje após entregar um dossiê contra seu ex-chefe Mario Frias, que por dois anos comandou a Secretaria de Cultura.

O que aconteceu?

  • Dornelles foi exonerada hoje da Casa de Rui Barbosa
  • A demissão ocorre nove dias depois de uma reunião entre ela e membros do grupo de transição da Cultura no futuro governo Lula
  • Na ocasião, ela entregou um dossiê contra seu antigo chefe Mario Frias

A pedido do atual secretário Nacional de Cultura, André Porciuncula, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, publicou hoje no Diário Oficial da União uma portaria com a demissão de Dornelles.

O UOL procurou Dornelles, Frias e a Secretaria de Cultura, mas não recebeu resposta até a publicação da reportagem.

Horas depois da publicação, através das suas redes sociais, Dornelles disse ter recebido ameaças após entregar o dossiê contra seu ex-chefe, mas evitou citar nomes.

Avisei [aos] deputados que não sou [de] esquerda. Sou profissional. Trabalho com doc gestão, não dossiê. Última ameaça que recebi foi na madrugada após nota [do jornalista] Lauro Jardim. Ex-presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa

O que é a Casa de Rui Barbosa?

Localizada no bairro de Botafogo, no Rio, a Casa de Rui Barbosa é considerada uma das mais importantes instituições de cultura e preservação de documentos do Brasil.

Ela abriga correspondências originais de escritores como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector e Manuel Bandeira, além da biblioteca original da residência do jurista que dá nome à fundação.

casa de rui barbosa - Divulgação - Divulgação
Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, no Rio
Imagem: Divulgação

Por que Dornelles foi exonerada?

Indicada em outubro 2019 ao cargo pelo pastor e deputado Marco Feliciano, Dornelles tinha uma boa relação com o primeiro secretário de Cultura, Roberto Alvim, demitido em janeiro de 2020 por supostamente copiar o discurso do ministro nazista Joseph Goebbels em um vídeo oficial.

Quando Frias assumiu, as tensões entre os dois começaram. Ela reclamava nos bastidores de que era desrespeitada por Frias e por seu gabinete. A relação conflituosa durou até Frias deixar o cargo em março deste ano para se candidatar e se eleger deputado federal por São Paulo pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

Apesar das tensões entre Dornelles e Frias, a expectativa era de que ela permanecesse no cargo até o dia 31 de dezembro, quando termina o mandato presidencial. Mas a situação da presidente ficou insustentável na segunda-feira 5 de dezembro, quando ela recebeu membros do grupo de transição da Cultura.

O UOL conversou com dois interlocutores que confirmaram a informação adiantada pelo colunista Lauro Jardim, de O Globo, de que Dornelles entregou um dossiê com críticas à atuação de Frias.

Entre 9h e 11h da manhã, ela se reuniu com três membros do GT da Cultura, os deputados federais Marcelo Calero (PSD-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Tulio Gadelha (Rede-PE).

Segundo o UOL apurou, o GT se reuniu com Leandro Jaccoud, presidente da Associação de Servidores da Casa, designado para repassar as informações sobre a fundação. Ao saber da presença do grupo, Dornelles pediu que eles a visitassem em seu gabinete.

Em razão da agenda de compromissos dos deputados, ela mesma decidiu se dirigir ao grupo. Na ocasião, Dornelles teria decidido por iniciativa própria reclamar de Frias em voz alta. Ela contou sobre um entrevero com o chefe em que teria sido vítima de assédio moral e sabotagem em um projeto que ela desejava implementar.

Como prova, ela teria entregado papeis contendo os e-mails que teria trocado com Frias.

Segundo esses interlocutores, Dornelles era conhecida internamente por produzir dossiês e ingressar com ações judiciais e administrativas contra desafetos da fundação. Sua aproximação do GT de Cultura teria por objetivo passar o recado ao novo governo de que "não é bolsonarista raiz".

Quem é Letícia Dornelles

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Dornelles recebeu Michel Temer na Casa de Rui Barbosa
Imagem: Divulgação

Gaúcha, Dornelles é jornalista, roteirista, escritora e autora de TV. Na Globo, foi coautora das novelas "Por Amor" e "Andando nas Nuvens". Também assinou reportagens em jornalísticos da emissora e passou por outros canais, como Record TV.

Servidores da Casa comemoram a exoneração: