Na véspera de posse, acampados em frente ao QG mantinham fé num golpe
Às 10h de 30 de dezembro, o presidente Jair Bolsonaro abriu a live em que não anunciou o golpe desejado pelos acampados em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília.
Às 22h do mesmo dia, uma mulher agia por conta própria. Ela foi para a entrada da Quadra Residencial dos Generais e implorava brio e atitude aos oficiais.
A manifestante saia da escuridão enrolada na bandeira do Brasil e se aproximava dos carros que paravam na cancela. O apelo era sempre o mesmo: "Honrem a farda."
O UOL esteve no acampamento ao longo da semana para reportar como os manifestantes golpistas reagiram à aproximação da posse de Lula. Em linhas gerais, as reações foram as seguintes:
- No começo da semana, a preocupação era mostrar que o acampamento não estava se desfazendo
- Havia espaço para pautas de costumes e casais que se formaram (só valiam héteros) ouviam que era proibido sexo nas barracas: "Acampamento não é motel"
- A tentativa de acabar com o acampamento, na quinta, fez crescer a fé num golpe, porque o Exército impediu a retirada das barracas
- A notícia de que Bolsonaro faria uma live entusiasmou. O discurso, não, e muitos foram embora. Ficou quem acredita que a viagem é parte de um plano
Começo da semana
Os acampados se vangloriavam de ter passado o Natal em frente ao QG e diziam que veriam "a volta dos que não foram" — Bolsonaro seria reempossado em 1º de janeiro. Na terça, havia três frentes prioritárias:
1) Manter a ordem
- Um cigarro de maconha fora encontrado
- Denúncias de casais fazendo sexo em barracas
2) Manter o moral
- O governo do Distrito Federal dizia que manifestantes deixavam o acampamento
- O número de barracas caiu para um quinto do que foi no auge do movimento
3) Identificar infiltrados
- A bomba colocada perto do aeroporto foi atribuída a infiltrados
- Maconha era coisa de esquerdista
Houve orientação para identificar os infiltrados. Reparar em quem estava sozinho e pedir para ver as redes sociais. Se recusou, é infiltrado.
Protegidos pelo Exército na quinta
Dezenas de carros do DF Legal, braço do governo do Distrito Federal que previne invasões, aparecem por volta das 7h30 de quinta-feira (29). Eles pediram um cordão de isolamento e o Exército não providenciou. Os acampados foram para cima.
Acuados, os agentes escalados para retirar o acampamento bateram em retirada. Os manifestantes deram uma volta olímpica ao redor do acampamento para comemorar a vitória.
Por que este dia foi importante?
- Os acampados tiveram a certeza de que o Exército defende a mesma causa que eles
- A ideia de um golpe antes da posse de Lula se fortaleceu
- O evento também fez crescer o sentimento de perseguição
Como isto se manifestou?
- Um agente de saúde que combatia focos de dengue foi expulso do acampamento sob ameaças de pessoas que seguravam pedaços de pau
- Houve instrução para ninguém andar ou dormir sozinho porque a cidade já tinha petistas
Não durma sozinho porque a cidade já tem petistas que podem te esfaquear na calada da noite",
Sexta começa com Live da frustração
O acampamento empolgou com a notícia de que Bolsonaro abriria uma live. Como o sinal estava ruim, as pessoas se juntaram ao redor de caixas de som para escutar o presidente. Eles se decepcionaram com o que ouviram.
Bolsonaro afirmou que "o mundo não acaba em 1º de janeiro" e que não se deve partir para o "tudo ou nada". Os acampados captaram a mensagem —o golpe não viria. Houve choro, gente se ajoelhou para rezar e muitos foram embora.
Nivanda estava em casa e terminou de assistir a live abraça com a filha, Elisa. Ambas choravam. Acreditavam que tudo estava perdido. Encontraram consolo nos grupos bolsonaristas de Telegram.
Como a militância foi reanimada?
- Mensagens descreveram a live como parte de uma tática. Bolsonaro saiu para não ser acusado, e a intervenção começaria
- Nivanda acredita que o estopim será hoje na fala do general Hamilton Mourão, presidente em exercício desde a ida de Bolsonaro para os Estados Unidos
- Ela estava com a filha e a neta no acampamento às 13h04 deste sábado (31), quando começou a chover
O sentimento no acampamento hoje
Carlos acredita que só ficou quem é fiel ao presidente. Ele não sabe a hora, mas está certo de que a ordem de intervenção vem hoje. Está convencido de que até a virada do ano o general Heleno terá prendido a corja, como se refere à esquerda e ao centrão.
A maioria dos acampados diz que vai para casa se nada acontecer até 1º de janeiro. Carlos afirma que este não será o caminho de todos. Ressalta que quem tem fibra vai agir por conta própria.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.