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Na véspera de posse, acampados em frente ao QG mantinham fé num golpe

Do UOL, em Brasília

31/12/2022 17h19Atualizada em 31/12/2022 17h21

Às 10h de 30 de dezembro, o presidente Jair Bolsonaro abriu a live em que não anunciou o golpe desejado pelos acampados em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília.

Às 22h do mesmo dia, uma mulher agia por conta própria. Ela foi para a entrada da Quadra Residencial dos Generais e implorava brio e atitude aos oficiais.

A manifestante saia da escuridão enrolada na bandeira do Brasil e se aproximava dos carros que paravam na cancela. O apelo era sempre o mesmo: "Honrem a farda."

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Manifestante reza durante live de Bolsonaro sem anúncio de golpe
Imagem: Felipe Pereira/UOL

O UOL esteve no acampamento ao longo da semana para reportar como os manifestantes golpistas reagiram à aproximação da posse de Lula. Em linhas gerais, as reações foram as seguintes:

  • No começo da semana, a preocupação era mostrar que o acampamento não estava se desfazendo
  • Havia espaço para pautas de costumes e casais que se formaram (só valiam héteros) ouviam que era proibido sexo nas barracas: "Acampamento não é motel"
  • A tentativa de acabar com o acampamento, na quinta, fez crescer a fé num golpe, porque o Exército impediu a retirada das barracas
  • A notícia de que Bolsonaro faria uma live entusiasmou. O discurso, não, e muitos foram embora. Ficou quem acredita que a viagem é parte de um plano
Acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília - Reprodução de vídeo - Reprodução de vídeo
Acampamento golpista à frente do QG do Exército, em Brasília
Imagem: Reprodução de vídeo

Começo da semana

Os acampados se vangloriavam de ter passado o Natal em frente ao QG e diziam que veriam "a volta dos que não foram" — Bolsonaro seria reempossado em 1º de janeiro. Na terça, havia três frentes prioritárias:

1) Manter a ordem

  • Um cigarro de maconha fora encontrado
  • Denúncias de casais fazendo sexo em barracas

2) Manter o moral

  • O governo do Distrito Federal dizia que manifestantes deixavam o acampamento
  • O número de barracas caiu para um quinto do que foi no auge do movimento

3) Identificar infiltrados

Houve orientação para identificar os infiltrados. Reparar em quem estava sozinho e pedir para ver as redes sociais. Se recusou, é infiltrado.

Protegidos pelo Exército na quinta

Dezenas de carros do DF Legal, braço do governo do Distrito Federal que previne invasões, aparecem por volta das 7h30 de quinta-feira (29). Eles pediram um cordão de isolamento e o Exército não providenciou. Os acampados foram para cima.

Acuados, os agentes escalados para retirar o acampamento bateram em retirada. Os manifestantes deram uma volta olímpica ao redor do acampamento para comemorar a vitória.

Por que este dia foi importante?

  • Os acampados tiveram a certeza de que o Exército defende a mesma causa que eles
  • A ideia de um golpe antes da posse de Lula se fortaleceu
  • O evento também fez crescer o sentimento de perseguição

Como isto se manifestou?

  • Um agente de saúde que combatia focos de dengue foi expulso do acampamento sob ameaças de pessoas que seguravam pedaços de pau
  • Houve instrução para ninguém andar ou dormir sozinho porque a cidade já tinha petistas

Não durma sozinho porque a cidade já tem petistas que podem te esfaquear na calada da noite",

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Jair Bolsonaro não atendeu ao desejo de golpe dos acampados
Imagem: Reprodução

Sexta começa com Live da frustração

O acampamento empolgou com a notícia de que Bolsonaro abriria uma live. Como o sinal estava ruim, as pessoas se juntaram ao redor de caixas de som para escutar o presidente. Eles se decepcionaram com o que ouviram.

Bolsonaro afirmou que "o mundo não acaba em 1º de janeiro" e que não se deve partir para o "tudo ou nada". Os acampados captaram a mensagem —o golpe não viria. Houve choro, gente se ajoelhou para rezar e muitos foram embora.

Nivanda estava em casa e terminou de assistir a live abraça com a filha, Elisa. Ambas choravam. Acreditavam que tudo estava perdido. Encontraram consolo nos grupos bolsonaristas de Telegram.

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30.dez.2022 - Apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) abandonam acampamento depois de live
Imagem: Felipe Pereira/UOL

Como a militância foi reanimada?

  • Mensagens descreveram a live como parte de uma tática. Bolsonaro saiu para não ser acusado, e a intervenção começaria
  • Nivanda acredita que o estopim será hoje na fala do general Hamilton Mourão, presidente em exercício desde a ida de Bolsonaro para os Estados Unidos
  • Ela estava com a filha e a neta no acampamento às 13h04 deste sábado (31), quando começou a chover

O sentimento no acampamento hoje

Carlos acredita que só ficou quem é fiel ao presidente. Ele não sabe a hora, mas está certo de que a ordem de intervenção vem hoje. Está convencido de que até a virada do ano o general Heleno terá prendido a corja, como se refere à esquerda e ao centrão.

A maioria dos acampados diz que vai para casa se nada acontecer até 1º de janeiro. Carlos afirma que este não será o caminho de todos. Ressalta que quem tem fibra vai agir por conta própria.