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Bolsonaro diz à PF que não orientou fraudes em seu certificado de vacinação

Do UOL, em Brasília

16/05/2023 04h00Atualizada em 16/05/2023 18h55

Jair Bolsonaro (PL) negou à Polícia Federal ter orientado a falsificação de seu certificado de vacinação no Conetc SUS. O ex-presidente foi ouvido por cerca de três horas na tarde desta terça-feira (16) sobre o seu possível envolvimento.

O que aconteceu

Bolsonaro respondeu a todas as perguntas da PF. Segundo sua defesa o ex-presidente disse 'jamais se vacinou, que desconhecia toda e qualquer iniciativa para eventual falsificação, inserção, adulteração no seu cartão de vacinação bem como de sua filha".

"[Bolsonaro] respondeu que não orientou, que não participou de qualquer ato de insurreição ou subversão contra o Estado de Direito", disse Fabio Wajngarten, seu advogado ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro

A PF confrontou o ex-presidente com os indícios de que tinha ciência do suposto esquema, uma vez que dados falsos foram incluídos em seu registro de vacinação e também no de sua filha mais nova. No começo do mês, ele foi questionado pela PF sobre os atos golpistas e, em abril, sobre as joias sauditas.

No caso da vacinação, pesa contra Bolsonaro a apontada participação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e braço direito do ex-presidente. Preso no último dia 3, os indícios apontam Cid como possível articulador do

O que está na mira da PF

Inclusão e exclusão de dados falsos por servidores em Duque de Caxias. A informação sobre suposta vacinação do ex-presidente foi inserida no sistema do SUS pelo ex-secretário municipal João Carlos de Souza Brecha — ele também teria incluído as informações falsas envolvendo Mauro Cid e esposa dele.

Datas chamam a atenção. Os dados da falsa vacinação de Bolsonaro só foram incluídos no final de dezembro e registravam que as doses foram aplicadas em agosto e outubro; chamou a atenção da PF o fato do "delay" nos dados, que costumam ser incluídos no momento da vacinação, e a ida de Bolsonaro para os Estados Unidos dias depois.

Certificado emitido do Planalto. Outro ponto da investigação é a emissão de um certificado de vacina a partir da rede do Palácio do Planalto nas vésperas da viagem do ex-presidente para Orlando; outro acesso foi feito pelo celular de Cid e o email de acesso foi alterado, deixando de ser o do militar e passando a ser o do assessor Marcelo Camara, que acompanharia o presidente no exterior.

Papel de Mauro Cid. Bolsonaro deve ser questionado sobre a atuação de seu ajudante de ordens no esquema e sua relação com ele durante o período. O tenente-coronel, que falará à PF na quinta, também teria tentado falsificar os cartões de vacinação de sua esposa. Ela será ouvida na sexta (19).

Cartão da filha de Bolsonaro. O ex-presidente também deverá explicar sobre os dados falsos de vacinação da sua filha mais nova, de 12 anos. Segundo a PF, um comprovante falso foi emitido pelo usuário dela no ConectSUS às vésperas da viagem da menina aos EUA. Para os investigadores, Bolsonaro tinha ciência que o documento era falso.

Obviamente, Jair Messias Bolsonaro e Michelle Firmo Bolsonaro têm plena ciência de que os dados de vacinação em nome de sua filha menor de idade são ideologicamente falsos."
Trecho da representação da PF ao autorizar buscas contra Bolsonaro

PGR quis livrar Bolsonaro, mas Moraes discordou

A vice-procuradora-geral Lindôra Araújo defendeu que as buscas contra o ex-presidente não eram necessárias, pois não havia indícios de participação dele no esquema.
Segundo Lindôra, os indícios já apurados na investigação sinalizam que Mauro Cid teria agido "à revelia" e sem conhecimento do ex-presidente. "A aquiescência de Jair Messias Bolsonaro à inserção de dados falsos nos sistemas do Ministério da Saúde, além de desnecessária, seria absolutamente paradoxal e, caso desvelada, acarretar-lhe-ia prejuízo político irreparável", disse.
O ministro do STF Alexandre de Moraes, no entanto, discordou da PGR e autorizou as buscas. Para o ministro, não se mostrava "crível" no estágio atual da investigação que o esquema tenha ocorrido sem a anuência do ex-presidente.

Não há qualquer indicação nos autos que conceda credibilidade à versão de que o ajudante de ordens do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro pudesse ter comandado relevante operação criminosa, destinada diretamente ao então mandatário e sua filha L. F. B., sem, no mínimo, conhecimento e aquiescência daquele"
Alexandre de Moraes, do STF, ao autorizar buscas contra Bolsonaro