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Rolex: Advogado diz que Bolsonaro nunca recebeu dinheiro em mãos de Cid

Paulo Amador da Cunha Bueno, advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou hoje que seu cliente nunca recebeu dinheiro em espécie do ex-ajudante de ordens Mauro Cid pela venda do Rolex dado pelo governo saudita.

O que aconteceu:

"Bolsonaro nunca recebeu valor em espécie de Cid referente à venda de nada", disse em entrevista à GloboNews. Mais cedo, também em declaração ao canal, Cezar Bitencourt, defensor de Cid, disse que o ex-presidente ou a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro "provavelmente" receberam o dinheiro pela venda do relógio. "Desconheço o itinerário desse dinheiro", destacou o advogado do ex-presidente.

Sobre o procedimento em relação ao conjunto de joias, Bueno diz que Bolsonaro tinha o direito de vender os itens e que tudo foi feito dentro da lei. "A legislação expressa que, uma vez dirigidos ao acervo privado de interesse público da Presidência, o presidente da República tem a faculdade de vendê-los, inclusive, o direito de herança sobre esses bens", declarou.

Esse relógio ele ganhou de presente, os bens que vão para acervo privado de interesse público, eles não são tributados. Tem uma manifestação da Receita de que esses bens não recebem tributação. Ele poderia ser vendido fora do Brasil, a lei autoriza. Por que levaram aos EUA? Porque foram em delegação para os EUA, talvez o mercado fosse melhor, talvez não tivesse a intenção de vender. Posso afirmar o que venho dizendo ao longo da entrevista, esse bem era dele, até para heranças.
Paulo Cunha Bueno, advogado do ex-presidente Bolsonaro

O advogado acrescentou que as joias foram entregues ao TCU por iniciativa da defesa do ex-presidente, antes mesmo de receber intimação. "Os bens foram depositados no TCU a pedido da defesa, e o que entremeou esse pedido estava absolutamente dentro da lei", ressaltou.

Antes da entrega, a venda dos itens, porém, não teria sido informada às autoridades competentes, segundo Bueno. "Me parece que, de fato, não houve à Comissão de Memória da Presidência da República a solicitação para venda desses bens, mas isso é uma falha administrativa", apontou.

"O presidente Bolsonaro, como a gente sabe, não é uma pessoa que gere os detalhes da vida dele. As contas bancárias são geridas por procuração, e boa parte da vida e do cotidiano dele é gerida pela assessoria", explicou.

Bueno também confirmou que falou ontem com Bitencourt, mas divergiu sobre o horário em que a conversa teria ocorrido. Segundo o advogado de Bolsonaro, eles se falaram por dois minutos, por volta das 18h, ou seja, antes da reportagem da Veja que revelou o plano de Cid confessar e ir contra Bolsonaro no caso das joias. Bitencourt disse à GloboNews que o contato ocorreu após a divulgação da reportagem.

Tive uma cordialidade com ele, falei com a secretária. Ontem, ela me ligou e disse que ele queria falar comigo, me passou o número dele, que eu nem tinha, e eu falei. Foi por volta das 18h, antes da Veja, acredito que ele tenha se confundido. Foi simplesmente isso, foi uma conversa de dois minutos, não tenho alinhamento com ele.
Paulo Cunha Bueno, advogado do ex-presidente Bolsonaro

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Defesa de Cid revelou plano de confissão para revista

Em entrevista à revista Veja, publicada ontem, o advogado de Cid, Cezar Bitencourt, falou que seu cliente arranjou o retorno de um relógio Rolex ao Brasil e entregou o dinheiro em espécie, para dificultar rastreios, ao então presidente. O tenente-coronel era ajudante de ordens de Bolsonaro e está preso desde maio, por suspeita de falsificar cartões de vacina, inclusive para a família do ex-presidente.

"O dinheiro era de Bolsonaro", disse Bitencourt à revista. Os planos para comprar as joias revendidas poderiam ser caracterizados "também como contrabando. Tem a internalização do dinheiro e crime contra o sistema financeiro", segundo o advogado de Cid.

Entenda o caso

Na sexta-feira passada (11), a Polícia Federal deflagrou a operação que aprofunda a investigação das joias desviadas. O que acontecia, segundo a instituição, é que ajudantes de Bolsonaro revendiam joias e bens que eram presenteados ao então presidente. O dinheiro vivo era repassado para Bolsonaro, ou seja, um presente para a União viraria lucro pessoal.

Os alvos de busca e apreensão foram o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o advogado Frederick Wassef, o assessor Osmar Crivelatti e o próprio Mauro Cid.

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O esquema, segundo a PF, tinha "o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores", "por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal".

Os indícios envolvendo Bolsonaro no esquema também apontam que as joias foram levadas ao exterior durante viagens presidenciais em aeronave da Força Aérea Brasileira, enquanto ele ainda ocupava o cargo.

Em diálogos obtidos no celular de Mauro Cid, a PF encontrou conversas a respeito da entrega de dinheiro vivo a Bolsonaro. Em uma das mensagens, Cid afirmou:

Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente, dar abraço nele, né? E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...) Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?"
Mauro Cid, em mensagem de áudio enviado por celular

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