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Presidente da EBC deixa o cargo após repostar ofensa a apoiadores de Israel

O presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), Hélio Doyle, deixou o cargo nesta quarta-feira (18) após repostar no X (antigo Twitter) um texto que chama apoiadores de Israel de "idiotas".

O que aconteceu:

Doyle compartilhou uma postagem do cartunista Carlos Latuff sobre a guerra entre Israel e o Hamas, que já deixou mais de mil mortos dos dois lados. "Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante", escreveu Latuff em postagem publicada na noite de ontem.

A publicação foi repostada por Doyle na sua conta pessoal no X e não se encontrava mais disponível na rede social dele na noite desta quarta-feira. O agora ex-presidente da empresa pública se diz pró-palestina nas redes sociais.

Na noite desta quarta, também no X, Doyle disse que o ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), Paulo Pimenta, manifestou a ele hoje o descontentamento pelo compartilhamento da publicação, amplamente repercutida nas redes sociais. "Disse-me que a referida repostagem e sua repercussão na imprensa criaram constrangimentos ao governo", escreveu.

O jornalista ainda declarou que Pimenta afirmou que o país mantém o posicionamento de neutralidade no conflito "em busca de paz e da proteção aos cidadãos brasileiros".

Antes de anunciar o pedido de demissão, Doyle disse ao Estadão Conteúdo que o compartilhamento se referia aos "ataques indiscriminados contra a população de Gaza".

Diante disso, pedi desculpas e comuniquei que deixo a presidência da EBC, agradecendo ao ministro Pimenta e ao presidente Lula pela confiança em mim depositada por todos esses meses.
Hélio Doyle, agora ex-presidente da EBC

Doyle, que foi nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidir o órgão em fevereiro, é jornalista e foi professor da UnB (Universidade de Brasília) por 28 anos. À frente da EBC desde 14 de fevereiro, tinha o salário bruto de R$ 34.895,78.

O UOL procurou a EBC e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República para saber o posicionamento de ambas sobre o caso, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.

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O que diz Doyle?

Ao Estadão Conteúdo, antes do anúncio de saída do cargo, Doyle afirmou que defende a existência de Israel e de um Estado Palestino e a coexistência pacífica dos dois povos. Segundo o agora ex-presidente da EBC, o compartilhamento da postagem representava um repúdio aos danos causados pela contraofensiva israelense.

Defendo a existência de Israel e de um Estado Palestino, conforme resoluções da ONU, e a coexistência pacífica entre israelenses e palestinos. Condeno a ocupação de territórios palestinos por Israel, assim como qualquer violência contra civis praticada por qualquer um dos lados. Isso significa que, em relação aos fatos recentes, condeno tanto o Hamas quanto o governo de Israel. Ao compartilhar o post, o apoio a Israel ao qual me refiro é quanto aos ataques indiscriminados contra a população de Gaza.
Hélio Doyle

Mais cedo, o jornalista ainda disse apoiar "totalmente a posição do presidente Lula e manter uma postura neutra pelo governo brasileiro é exatamente o que defendo e reforcei explicitamente como linha de atuação do jornalismo da EBC, como pode ser facilmente comprovado".

O compartilhamento reflete minha posição acima, de protesto contra os ataques a civis, venham de um lado ou de outro. Talvez tenha também sido motivado pelo que considero hipocrisia dos que protestam justificadamente contra o ataque a israelenses, mas justificam os ataques a palestinos.
Hélio Doyle

Lula quer que base se afaste do tema da guerra

A orientação do presidente Lula é que a sua base se afaste do tema da guerra em Israel e foque esforços na pauta econômica. Mas na segunda-feira, 16, o diretório nacional do PT divulgou uma resolução sobre o conflito. O texto defende o fim das ações violentas e coloca no mesmo patamar os ataques do Hamas e a ação de Israel.

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O documento desagradou a Embaixada de Israel, que publicou uma nota oficial nas redes sociais. "Qualquer pessoa que pense que o assassinato bárbaro, a violação e a decapitação de pessoas é uma posição política, ou que se trata apenas de uma luta política legítima, possui uma extrema falta de compreensão da atual situação", diz a nota. "Deve ser feita uma forte separação entre a organização terrorista Hamas e os palestinos."

Após a nota da Embaixada de Israel, o PT se manifestou novamente nesta terça-feira, classificando a interpretação do órgão sobre a resolução da sigla como "falsa e maliciosa". "Todos têm direito a defender seu povo, mas a busca por justiça não se confunde com vingança nem pode se dar por meio da Lei de Talião", diz o texto assinado pela presidente do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PR).

(*Com Estadão Conteúdo)

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