Lula desconversa sobre demissão de mulheres: 'Eu pedi, partido não tinha'

O presidente Lula (PT) desconversou hoje sobre a demissão de mulheres em seu governo, após acordos com o centrão. Disse ainda que o número de representantes deverá crescer, mas não garantiu nomes femininos para o STF (Supremo Tribunal Federal) ou PGR (Procuradoria-Geral da República) —mas afirmou que os nomes saem neste ano.

O que Lula disse

Em conversa com jornalistas, Lula diz que "lamenta muito" a saída de mulheres do seu governo, mas que, se o partido não indica nomes, "não há nada que ele possa fazer". Desde que assumiu, três mulheres do alto escalão foram substituídas por homens.

A última foi a presidente da Caixa, Maria Rita Serrano, na quarta (25), como parte de acordo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o centrão. O economista Carlos Antônio Vieira Fernandes, indicado por Lira, assumiu o cargo.

Eu às vezes lamento profundamente não poder indicar mais mulheres do que homens no governo. Acontece que, quando você estabelece alianças com partidos políticos, nem sempre esse partido tem uma mulher para indicar. Mas isso não quer dizer que eu não possa, no governo, tirar homem e colocar mulher. Eu posso ter mais mulheres, não tem problema. Apesar da circunstância da indicação do cargo, é que o partido não tinha mulher para indicar. Se bem que eu pedi para indicar mulher. Eu lamento.
Lula, em café da manhã com jornalistas

Serrano foi a terceira substituída por um homem no alto escalão. Antes, Daniela Carneiro foi substituída por Celso Sabino no Ministério do Turismo e Ana Moser por André Fufuca em Esporte.

Você pode ter certeza de que ainda vai ter mais mulher do governo, em outros cargos. É uma disposição política minha de fazer isso. Quando um partido político quer indicar uma pessoa e não tem uma mulher, eu não posso fazer nada.
Lula, sobre indicação de mulheres

O presidente participou de um café da manhã com jornalistas por cerca de uma hora e meia no Palácio do Planalto. Lula completa 78 anos hoje. Mais cedo, recebeu um bolo de aniversário e parabéns de militantes em frente ao Palácio da Alvorada.

Pressão por indicação no STF

Lula também tem sido pressionado por apoiadores e setores progressistas para indicar uma mulher na vaga da ministra Rosa Weber, que se aposentou no início de outubro do STF. Não há prazo para indicação de um novo nome, mas o petista garantiu que sai neste ano e que tudo é possível.

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Eu não quero um amigo, quero alguém que seja sério e responsável. [...] Pode ser mulher, pode ser negro, ser negra. Mas eu tenho tranquilidade porque tenho experiência na indicação de gente. Mas eu não posso demorar muito porque agora estou 100% recuperado e está chegando a hora de tomar a decisão, então logo, logo vocês vão saber quem eu vou indicar.
Lula, sobre indicação ao STF

Como fez com a indicação de Cristiano Zanin, no meio do ano, Lula diz ouvir muitas pessoas, mas recusa pressão. Caso se confirme a indicação de um homem no lugar de Rosa, a ministra Cármen Lúcia passará a ser a única mulher entre os 11 ministros.

Oficialmente, o governo diz que não está nada fechado, e o nome do ministro Flávio Dino, da Justiça, é tido como um dos favoritos. Lula se recusou a dar pistas sobre a indicação, mas afirmou que ele é "altamente qualificado do ponto de vista jurídico e político".

Fico pensando: aonde Flávio Dino será melhor ao Brasil? Na Suprema Corte ou no Ministério da Justiça? Isso é uma pergunta que eu tenho. Vou conversar com muita agente ainda até a hora de escolher.
Lula, sobre Dino

O presidente também tem enrolado para indicar o PGR (procurador-geral da República). Augusto Aras se aposentou há um mês, no final de setembro, e ainda não foi substituído. "Eu vou indicar, logo, logo vocês vão saber", prometeu.

Tenho que escolher um nome que tenha noção do papel do que é um procurador do Estado. O procurador não pode ser procurador e fazer política, tem que cumprir papel sério, não fazer pirotecnia, não perseguir ninguém.
Lula, sobre PGR

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Demissão a pedido de Lira

A mudança na Caixa foi a última parte do combinado entre o governo e partidos do centrão no esforço de aumentar o apoio no Congresso. Lula se encontrou com o Lira logo após o anúncio. Na sequência, o presidente da Câmara abriu a votação da taxação de super-ricos, projeto da Fazenda, que acabou aprovado.

Em setembro, Lula já havia entregado os ministérios do Esporte e Portos e Aeroportos para PP e Republicanos, mas as pastas eram consideradas pouco para o centrão. Agora, há uma disputa pelas vice-presidências do órgão, que influenciam nas nomeações locais.

O banco é o principal fomentador de iniciativas do governo federal e o trabalho de Rita era bem avaliado pelo Planalto, o que fez com que Lula a segurasse por mais tempo.

Lira tem pressionado o governo pelo cargo desde junho, quando ainda se debatia a minirreforma ministerial. Nos últimos dias, no entanto, uma exposição na Caixa Cultural de Brasília que mostrava a foto do presidente da Câmara em uma lata de lixo, elevou a temperatura.

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