PL mira eleger 1/3 dos prefeitos do RJ com deputados investigados pela PF

O PL, partido de Jair Bolsonaro, espera vencer a eleição a prefeito em 30 cidades do Rio. O número representa um terço dos 92 municípios do estado, que é berço do bolsonarismo. Os planos do PL incluem lançar deputados investigados pela Polícia Federal.

O que aconteceu

Suspeito de integrar a chamada "Abin paralela", Alexandre Ramagem já está em pré-campanha na cidade do Rio. As redes sociais dele têm fotos do deputado abraçado com Bolsonaro em meio à militância.

O parlamentar é suspeito de comandar um esquema de monitoramento ilegal de adversários e até de aliados. Para isso, teria usado um software espião. A PF já cumpriu mandado de busca e apreensão contra Ramagem.

O outro alvo da PF que será candidato pelo PL é Carlos Jordy. Ele é líder da oposição na Câmara dos Deputados e vai concorrer à Prefeitura de Niterói.

O deputado é suspeito de ter comandado bloqueio de estradas depois da derrota de Bolsonaro. Um conversa de Jordy com um homem que coordenava barreiras nas rodovias depois do segundo turno da eleição de 2022 foi revelada durante as investigações.

O PL avalia que a citação nas apurações da PF não causará perdas de votos, e sim ganhos. A aposta é no discurso de perseguição política a Bolsonaro para arregimentar ainda mais eleitores.

Outro ponto é que o Rio de Janeiro é um estado majoritariamente conservador. Moradores das cidades do interior estariam alheios às discussões progressistas, mais presentes em grandes centros. O perfil de Ramagem teria penetração na capital porque um terço dos moradores é evangélico, segmento mais alinhado aos aliados do ex-presidente.

Carlos Jordy é o candidato do bolsonarismo em Niterói
Carlos Jordy é o candidato do bolsonarismo em Niterói Imagem: Elaine Menke/PL

Liberdade de atuação

O PL vai deixar seus candidatos adotar a estratégia que considerarem mais adequada. Não existe uma obrigação de expor Jair Bolsonaro nem de seguir uma lista de temas determinados pela direção do partido.

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As redes sociais de Jordy e Ramagem são prova desta liberdade. Enquanto o candidato na capital busca vincular seu nome a Bolsonaro, Jordy investe em questões locais de Niterói e faz críticas à administração atual, sob comando do PDT.

Parlamentares do Rio afirmam que existem justificativas para ambos os comportamentos. Bolsonaro é popular no Rio, há outros políticos querendo representar a direita na cidade e é preciso Ramagem colar seu nome ao do ex-presidente.

Já Jordy ressalta que é ligado a Bolsonaro e não precisa fazer este movimento. Ele procura alargar o perfil de sua candidatura, negociando um vice que tenha penetração em regiões da cidade onde não tem boa votação ou que agregue eleitores do centro.

Pré-candidato, o deputado Otoni de Paula pode atrapalhar os planos do PL na cidade do Rio
Pré-candidato, o deputado Otoni de Paula pode atrapalhar os planos do PL na cidade do Rio Imagem: Reprodução

Sem alianças com o PT

A liberdade é grande, mas há uma regra inegociável: não se coligar com o PT. A afirmação é do líder do PL na Câmara, deputado Altineu Cortes (PL-RJ).

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A diretriz vale para o Rio de Janeiro e também todo o Brasil. Ela foi imposta pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto. O cacique político fez uma postagem no X para deixar isto bem claro.

Outros nomes da direita na capital

Existem outros dois nomes que devem concorrer a prefeito do Rio no campo da direita. O PL entende que um ajuda a candidatura de Ramagem. O outro, não.

Uma eventual candidatura do deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB) serviria para terceirizar ataques. Ele tem um perfil agressivo, já quebrou placas com o nome da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. O parlamentar tem acordo para se filiar ao União Brasil e concorrer a prefeito.

Na visão dos bolsonaristas, Amorim seria um instrumento da direita para fazer críticas duras ao prefeito Eduardo Paes (PSD). Com a tarefa de desgastar o adversário feita por outro candidato, Ramagem estaria livre da rejeição surgida em parte do eleitorado que não gosta de ataques.

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O deputado estadual nega que terá uma candidatura satélite. Ele afirmou que a direita precisa estar unida contra Eduardo Paes, a quem classifica como um representante do lulismo e gestor que abraçou pautas identitárias. "Ele deu uma guinada à esquerda e isso precisa ser enfrentado."

Amorim ainda disse que vai para a disputa para ganhar, mas sinaliza que seu alvo será Paes. O deputado estadual esteve num evento com Ramagem há dez dias. Na ocasião, afirmou que os ideais conservadores devem estar à frente de projetos pessoais.

A candidatura que pode incomodar o PL é a do deputado Otoni de Paula (MDB). Político experiente, pastor e negro, ele tem uma série de atributos para angariar votos de eleitores.

Otoni afirma que o Rio de Janeiro tem 5 milhões de votantes e um terço é evangélico. Este segmento, composto por 1,7 milhão de pessoas, seria permeável a optar pelo deputado.

A projeção do parlamentar é receber cerca de 500 mil votos de evangélicos. Desta forma, seria competitivo para avançar ao segundo turno. Otoni ressalta que Marcelo Crivella chegou ao segundo turno em 2020, ao fazer 576 mil votos.

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O parlamentar acrescenta que Bolsonaro tem teto, mas o conservadorismo não. Para finalizar, diz que é bastante identificado com o ex-presidente e pode provar com dezenas de imagens deles juntos.

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