'Fui atacado por cumprir a minha obrigação', diz general alvo de golpistas

O general Valério Stumpf Trindade, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, se defendeu dos ataques que recebeu de radicais bolsonaristas e militares golpistas por não ter aderido ao plano de golpe de Estado em 2022, que, segundo a PF, contou com a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O que aconteceu

"Fui vítima de ataques por cumprir a minha obrigação", afirmou o militar ao portal Metrópoles. Stumpf e a família foram atacados nas redes sociais por parte da militância bolsonarista e —segundo a investigação da PF— por militares que desejavam impedir a posse de Lula (PT), eleito presidente naquele ano.

As ameaças nas redes incluíam fotos do general Stumpf e familiares. A filha do general ouviu que o pai era um "traidor da Pátria". Primeiro, as publicações tentaram pressioná-lo a aderir ao golpe. Depois, passaram a culpá-lo por permitir a transição de poder.

Stumpf foi um dos generais do Exército contrários ao golpe. Na época, militares radicais pressionaram as Forças Armadas, mas encontraram resistência no Alto-Comando do Exército, segundo relatório da PF divulgado na semana passada.

Militares afirmavam que ele era um "informante" do ministro do STF Alexandre de Moraes. "Por ser chefe do Estado-Maior à época, eu tinha contato com o Tribunal Superior Eleitoral [TSE], então presidido pelo ministro [Alexandre de Moraes]. Estávamos discutindo métodos para reforçar a segurança e a transparência das urnas eletrônicas", afirmou à coluna de Paulo Cappelli. O Estado-Maior era responsável por interlocução da Força com a Secretaria-Geral do TSE.

"Alimentaram a versão de que eu seria 'informante', uma espécie de 'leva e traz', uma coisa bandida", declarou Stumpf. "Aí algumas pessoas que não sabiam de nada distorceram tudo. Isso nunca aconteceu. É uma inverdade e uma agressão à minha pessoa. O contato era institucional", disse o general, que hoje está na reserva e chefia a Poupex, órgão que oferece serviços de crédito, poupança e financiamento a militares.

A ilação foi replicada por sites ligados ao bolsonarismo. Isso irritou o Alto-Comando do Exército.

Defendi a democracia em tempos complexos. Tenho orgulho de ter agido de forma leal ao comandante do Exército e ao Exército Brasileiro

Tudo o que fiz foi com o conhecimento do Alto-Comando do Exército, alinhado com o [então comandante] general Freire Gomes. Existe uma lealdade muito forte no Alto-Comando.
General Stumpf, em entrevista ao Metrópoles

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Os ataques

Stumpf foi um dos militares mais atacados ao lado do atual comandante do Exército, Tomás Ribeiro Paiva. "Vergonha eterna desses integrantes do ACE [Alto-Comando do Exército]", escreveu um militar em mensagem interceptada pela Polícia Federal.

"Vamos deixar esse general melancia famoso", dizia uma publicação em rede social com a foto de Stumpf. Melancia, fruta que é verde por fora e vermelha por dentro, é uma forma pejorativa de conservadores se referirem a militares comunistas (na visão dos radicais).

O relatório da PF afirmou que a milícia digital servia "para pressionar, atacar e expor os generais contrários ao golpe". Uma publicação com militares contrários ao golpe dizia: "Dos dezenove generais, estes cinco c@nalh@s não aceitam a proposta do povo. Querem que Lularapio assuma (...). Repasse para ficarem famosos. Todos melancias, verdes por fora, vermelhos por dentro".

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