Mesmo antes de deixar Glasgow, governos de países em desenvolvimento não disfarçavam sua frustração. O motivo: a falta de compromisso dos países ricos em destinar recursos aos mais pobres.
Sem dinheiro, não há perspectiva de incentivo para que, em 2022, governos desembarquem com projetos mais ambiciosos de corte de emissões para a COP27, no Egito.
Para dezenas de entidades, e mesmo governos, o que foi acordado ficou longe do que se esperava. Não houve um compromisso explícito dos países ricos pelo financiamento, nem um caminho claro para aumentar os valores, e muito menos, para a criação de um fundo para os mais pobres. "Muito pouco, muito tarde", dizia um negociador.
Países em desenvolvimento, há décadas, admitem que estão dispostos a fazer sua parte pelo meio ambiente. Mas consideram que se trata de uma injustiça aqueles que poluíram por séculos agora repassarem a conta da transição e dos ajustes para todos.
Em 2009, fixou-se que os países ricos destinariam US$ 100 bilhões por ano aos mais pobres para facilitar essa transição. Mas governos como o do Brasil, Índia e China denunciaram que o dinheiro nunca chegou.
Em Glasgow, o objetivo era trazer no texto final garantias de que os recursos fossem finalmente repassados. O Brasil ainda propunha criar um comitê para que um novo valor da contribuição fosse estabelecido. Países ricos, porém, foram contrários.
No documento final, ficou estabelecido que um comitê da ONU fiscalizasse o progresso da contribuição dos países ricos em 2022, 2024 e 2026. A esperança é de que isso force Europa e EUA a abrir suas torneiras, criando uma pressão internacional.
O texto também fala na necessidade de o valor destinado aos emergentes ser "bem superior" aos US$ 100 bilhões da promessa anterior. Mas, diante da pressão de americanos e europeus, o texto não foi além de uma mera constatação.
Um outro ponto crítico na negociação foi a exigência dos países mais pobres de criar um fundo de adaptação, com um valor que duplicaria até 2025.
Mas o que se eliminou foi a proposta de um fundo destinado a compensar pequenas ilhas e locais que hoje de fato já estão vivendo uma ameaça existencial. Europa e EUA se recusavam a aceitar o projeto, alegando que o fundo seria o equivalente a um cheque em branco e que não poderiam aceitar o conceito de "compensação".
Juristas desses locais apontam que um tratado internacional neste sentido poderia abrir caminho para que, em outras esferas, governos busquem compensações pelo colonialismo ou pela escravidão.
Depois de muito protesto, e para garantir que não houvesse um impasse, o acordo acabou sendo aprovado, mesmo sem recursos suficientes aos mais pobres e apenas promessas vagas de ajuda técnica.
Uma das críticas veio da Federação Internacional da Cruz Vermelha, que aplaude o esforço para ficar abaixo de 1,5ºC. Mas alerta que os compromissos são "muito vagos". "Estamos decepcionados com o fato de que a COP26 não cumpriu o que precisava ser feito para financiar aqueles que estão no front da crise climática", alertou.
"A COP26 é um pequeno passo na direção certa. Mas o que o mundo precisava era de um enorme salto. Chegou o momento de nossos líderes serem responsabilizados", disse.
"Estamos extremamente decepcionados", disse Lia Nicholson, negociadora de Antiga e Barbuda e porta-voz de quase 40 países ameaçados pelo clima. "Saímos de mãos vazias, mas moralmente fortes", disse.