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Consultas de urgência em AMAs e UBSs caem em SP em meio a pandemia

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Imagem: iStock

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

20/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Em abril, nos dias de maiores picos, os números de consulta ficaram entre 7 mil e 8 mil
  • Em março, o dia de maior pico chegou a ter mais de 16 mil consultas
  • Em todas as unidades de atendimento a queda começou no dia 16 de março, quando foi decretada emergência
  • Desde então, foi recomendado que se evitasse aglomerações e consultas eletivas fossem adiadas
  • Recursos e pessoal puderam ser realocados para atendimento de pacientes com covid-19

As consultas em serviços de emergência e urgência na atenção primária da cidade de São Paulo caíram significativamente em meio à pandemia do novo coronavírus. Em abril, nos dias de maiores picos, os números de consulta ficaram entre 7 mil e 8 mil. Em março, o dia de maior pico chegou a ter mais de 16 mil consultas.

Segundo dados disponíveis no último boletim semanal da Secretaria Municipal de Saúde, divulgado na sexta (16) o total de consultas de urgência e emergência em AMAs (Assistência Médica Ambulatorial), Pronto Atendimentos, Pronto Socorros e UBS (Unidades Básicas de Saúde) apresentam tendência de queda.

As UBS são os serviços com maiores picos de procura, principalmente no início de cada semana. Em março, os dias 2 e 9 tiveram as maiores quantidades de consultas, com aproximadamente 15 mil e 17 mil respectivamente. Já o mês de abril começou com menos de 8 mil consultas e no seu dia de maior pico teve aproximadamente 7 mil atendimentos.

Já nas AMAs, entre a segunda metade de fevereiro e a primeira metade de março, as consultas variaram entre 4 mil a 7 mil por dia. A partir de 16 de março começou uma diminuição e os dias de pico tiveram menos de 4 mil consultas. Os Pronto Socorros tiveram o mesmo comportamento e no dia de pico, em 31 de março, houve cerca de 4 mil atendimentos.

Até a segunda semana de março, as consultas em Pronto Atendimentos giraram em torno de 3 mil a 4 mil por dia. Porém, a partir de 16 de março houve uma queda gradual até que no dia 22 de março se estabilizou em menos de 2 mil consultas diárias.

Em todas as unidades de atendimento a queda começou no dia 16 de março, quando foi decretada a situação de emergência na cidade. Desde então, foi recomendado que se evitasse aglomerações e consultas eletivas fossem adiadas. Além disso, recursos e pessoal puderam ser realocados para atendimento de pacientes com covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.

Segundo o médico infectologista especializado pelo hospital Emílio Ribas, Natanael Adiwardana, a queda no atendimento na atenção primária é resultado das políticas de distanciamento social e da conscientização da população sobre a procura dos serviços de menor complexidade.

"Consultas eletivas foram adiadas através da renovação por tempo mais prolongado da receita de medicações de uso contínuo como anti-hipertensivos e hipoglicemiantes", explica.

"Mesmo pessoas com outras doenças crônicas ou condições imunossupressoras tiveram suas receitas prolongadas exatamente para reduzir a presença de pessoas nas salas de espera das atenções primárias e secundárias. Tudo para evitar aglomerações."

Além disso, campanhas de conscientização ajudaram as pessoas a compreender quando seus sintomas exigem a busca do serviço de saúde. "Pessoas com poucos sintomas gripais entram principalmente pelas USFs, UBSs e AMAs/UPAs. Mas, como os sintomas são leves, devido à campanha as pessoas estão mais conscientes de observar mais a importância de seus sintomas antes de ir logo ao pronto-socorro."

Porém, o especialista ressalta que essa diminuição na procura da atenção primária não impede que haja superlotação em locais menos assistidos socioeconomicamente.

"[Nesses locais] as campanhas de conscientização são menos efetivas porque os serviços de saúde funcionam não apenas como centros de saúde do corpo, mas como dispositivos sociais onde proteção à mulher, cuidado da criança, recuperação de usuários de álcool e drogas e outras situações de vulnerabilidade social também são abordadas em certo nível."

Aumento na demanda por leitos

O infectologista chama a atenção para o fato de que a queda na busca pelo serviço primário ocorre em conjunto com o aumento na procura de leitos de enfermarias e UTIs. O boletim da secretaria de saúde mostra um aumento na procura desses leitos para tratamento de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) e não apenas de covid-19.

Segundo o boletim, a pressão sobre esses leitos exigiu um aumento na sua disponibilidade. Do dia 7 ao dia 14 de março — datas disponibilizadas pela secretaria no documento — os cerca de 193 leitos de enfermaria estavam ocupados quase em sua totalidade. A partir do dia 14 houve uma expansão de 128 leitos na oferta.

"Note que a demanda por leitos de enfermaria e UTI tem aumentado, o que reflete o acúmulo progressivo de novos casos com espectro mais grave diante da incidência crescente", diz Adiwardana.

Esperando o mesmo comportamento nos leitos de UTI, a prefeitura começou a expansão nos hospitais municipais após a confirmação de transmissão comunitária na cidade.

"A estratégia adotada foi fortalecer e ampliar a assistência hospitalar em seus vinte hospitais municipais, implantar novos leitos nos hospitais de Parelheiros e Bela Vista, além de abrir antecipadamente leitos no futuro Hospital da Brasilândia", diz o documento.

Além disso, foi criado o Hospital de Campanha do Pacaembu com 200 leitos voltados especialmente para atendimento de pacientes com covid-19.

Lição para o futuro

Segundo o médico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Evaldo Stanislau, há no Brasil um excesso na busca pelo serviço de saúde que tende a diminuir em momentos de epidemia e pode nos ensinar meios de desafogar os serviços de questões menos essenciais.

"Tem uma certa sobra nos serviços, no sentido de que fazemos coisas que não são tão essenciais, e quando estamos em uma situação como essa de pandemia, com a recomendação de ficar em casa e fazer só o que é essencial, percebemos que o volume cai bastante", diz.

Para ele, o uso da telemedicina — consultas feitas por telefone ou pela internet — que foi adotada durante esta pandemia pode ajudar nas demandas futuras.

"Mostra que temos outros caminhos na medicina para seguir, que é o caminho da racionalização de recursos e da telemedicina. Então a gente pode aprender, depois da epidemia, que é possível otimizar a utilização dos recursos e usar telemedicina".