Centenas de milhares de argentinos saem às ruas para defender universidades públicas
Com livros para o alto, centenas de milhares de pessoas manifestaram-se nesta terça-feira (23) na Argentina contra os cortes de verbas para as universidades públicas, na maior manifestação já ocorrida contra a política de ajustes promovida pelo presidente ultraliberal Javier Milei.
Entre 100 mil pessoas, segundo a polícia, e meio milhão, segundo a Universidade de Buenos Aires (UBA), reuniram-se na capital argentina. Outras dezenas de milhares protestaram em cidades do interior.
A Praça de Maio foi o epicentro da convocação, que tomou as ruas vizinhas. "A educação nos salva e nos torna livres. Convocamos a sociedade argentina a defendê-la", disse a estudante e presidente da Federação Universitária Argentina, Piera Fernández.
Nas principais cidades do país, alunos e professores das 57 universidades nacionais públicas saíram em passeata "em defesa do ensino universitário público gratuito".
As universidades declararam emergência orçamentária depois que o governo decidiu estender a este ano o mesmo orçamento recebido em 2023, apesar da inflação em 12 meses, que atingiu quase 290% em março.
"Não esperem a saída por meio do gasto público", alertou Milei ontem, ao anunciar em rede nacional que as contas públicas registraram superávit no primeiro trimestre, embora às custas de milhares de demissões e do colapso da atividade econômica e do consumo.
Sindicatos e partidos de oposição aderiram ao chamado, e os professores universitários acompanharam com uma greve.
Na cidade de Córdoba, sede da prestigiosa universidade homônima, dezenas de milhares de estudantes também lotaram as ruas.
- Abaixo da linha da pobreza -
Na semana passada, Milei concordou em "aumentar em 70% os gastos de funcionamento em março e outros 70% em maio", além de uma soma extraordinária para hospitais universitários, com o que o governo considera que a discussão "está resolvida", disse nesta terça-feira o porta-voz presidencial, Manuel Adorni.
As despesas de funcionamento excluem os salários do corpo docente, que representam 90% do orçamento universitário.
"Das quatro categorias de professores, três caíram abaixo da linha da pobreza", disse o reitor da Universidade Nacional de San Luis, Víctor Moriñigo, ao relatar uma escala salarial docente cujo piso é de 100 mil pesos (587 reais) por mês. Além disso, as tarifas de energia subiram 500% neste mês, deixando as universidades à beira da paralisia, segundo autoridades.
"No ritmo em que nos estão dando dinheiro, só poderemos funcionar por dois a três meses", advertiu o reitor da UBA, Ricardo Gelpi.
Milei questionou a transparência do uso dos fundos e a qualidade do ensino, ao sugerir que as universidades públicas "são usadas para negócios obscuros e doutrinação", publicou no X no fim de semana.
"Não podemos colocar em dúvida 200 anos de história. Mesmo com um orçamento muito baixo, a UBA está entre as três melhores da América Latina", observou o decano da Faculdade de Medicina, Luis Brusco.
Cerca de 2,2 milhões de pessoas estudam no sistema universitário público argentino, escolhido por 80% dos estudantes em comparação com as instituições privadas, em um país onde quase metade dos 47 milhões de habitantes vive na pobreza.
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