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Preso há 1 ano, Lula mantém PT sob controle e orienta ação da sigla

THEO MARQUES/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: THEO MARQUES/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Ricardo Galhardo e Ricardo Brandt

São Paulo

07/04/2019 08h26

Um ano depois de ser preso após a condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua mandando no PT. Por meio de bilhetes, cartas ou nomeando porta-vozes, o ex-presidente dá as orientações para o partido, que obedece.

A atuação da bancada petista na audiência com o ministro da Economia, Paulo Guedes, na última quarta-feira (3) - comparada pelo presidente Jair Bolsonaro a um "pelotão de fuzilamento" - foi resultado do entendimento de que a reforma da Previdência é impopular e tem potencial para provocar o descolamento de parte do eleitorado de Bolsonaro, especialmente os eleitores evangélicos de baixa renda que não querem perder direitos nem viver com dúvidas quanto à aposentadoria.

De sua cela improvisada na sala de 15 metros quadrados na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Lula emitiu a ordem dez dias atrás: o PT deve deixar para o segundo semestre as discussões sobre a escolha da próxima direção partidária, marcada para novembro, e concentrar na reforma da Previdência sua atuação como oposição a Bolsonaro. Este vai ser o foco do partido nos próximos meses.

Além disso, Lula diz que a postura "subalterna" de Bolsonaro diante do presidente dos EUA, Donald Trump, poderia servir de vetor para o descontentamento de uma parcela nacionalista do eleitorado.

Mas a principal intervenção feita pelo ex-presidente nos últimos dias foi em relação à disputa interna do PT. Na semana passada, ele chamou o deputado José Guimarães (PT-CE), que tenta construir uma candidatura à presidência da sigla, para uma conversa em Curitiba. "Ele apontou três questões centrais para o PT em 2019: o foco agora são a reforma da Previdência e a soberania. O debate sobre a renovação do partido fica para o segundo semestre", disse o deputado.

Além disso, Lula agiu como bombeiro na escalada de atritos entre o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Segundo aliados de ambos, a rivalidade continua, mas o clima melhorou. Raramente algum petista questiona as orientações do ex-presidente. Em público, nunca.

Para analistas, a incapacidade do PT de andar com as próprias pernas um ano depois da prisão de Lula pode ser ruim para o partido no futuro. "Essa relação do PT com seu líder é perigosa porque nega a renovação. Ainda mais quando este líder não pode se comunicar", disse o cientista político Carlos Melo, do Insper.

O cientista político Fábio Wanderley dos Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vincula a prisão à migração de eleitores de Lula para Bolsonaro na eleição do ano passado. "Um grupo do eleitorado tem uma certa identificação com líderes populistas."

Lula fica em silêncio em interrogatório na PF

Band Notí­cias

Ato

O PT e aliados organizaram para hoje uma manifestação contra a prisão em frente à sede da PF em Curitiba. O ato, porém, pode ser considerado desobediência à ordem da Justiça do Paraná, que desde o dia 21 de fevereiro voltou a proibir "todo e qualquer ato ostensivo de manifestação (pró ou contra Lula)" nas proximidades da PF.

A Polícia Militar tem ordem do desembargador Fernando Paulino da Silva Wolff Filho, do Tribunal de Justiça do Paraná, para prender manifestantes que desrespeitarem a zona delimitada. Antes tranquilo, o bairro virou área de litígio e tensão desde a chegada de Lula. Uma parte dos moradores, a prefeitura e entidades de apoio à Lava Jato pedem a remoção do grupo autointitulado Vigília Lula Livre, que se concentra em um terreno de esquina alugado na frente da PF - onde foram montadas tendas e barracas - e em quatro outros imóveis alugados. Diariamente, os participantes gritam "bom dia", "boa tarde" e "boa noite" ao ex-presidente.

Hoje (7), os atos devem começar às 6h30. Mais tarde, às 11h, são esperadas lideranças do partido, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

Reforço

A decisão da Justiça estipula que a Polícia Militar está "autorizada a retirar das vias públicas toda e qualquer pessoa que pratique em qualquer dia e horário atos ostensivos de manifestação". "Detendo-os em flagrante pela prática, em tese, de crime de desobediência", escreveu em seu despacho o desembargador Wolff Filho.

O magistrado recomendou ainda "o uso prévio do diálogo e, se necessária, a força dentro dos limites do efetivamente necessário ao cumprimento desta decisão". A PF também reforçou sua equipe na área interna. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.