Fumaça de queimadas afeta voos, barcos e lota hospitais
O apartamento do adesivador Leonardo Alves, de 26 anos, tem amanhecido cheio de fuligem vinda das queimadas no Estado, recordista em focos de incêndio no País este ano. "Amanhecemos e não conseguimos respirar direito", conta ele, que teve de levar o filho de 1 ano e 3 meses ao posto de saúde ontem. Nas regiões tomadas pela poluição atmosférica, idosos e crianças são os mais prejudicados. A neblina também tem atrapalhado a navegação de barcos e cancelado voos.
De 1º de janeiro até a quarta-feira, 21, o Brasil registrou 75,3 mil focos de incêndio, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) - 14 mil em Mato Grosso. O total no País já é 84% maior do que no mesmo período de 2018.
A dona de casa Raimunda Costa também percebeu os efeitos da fumaça dos incêndios, principalmente no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, que em nove dias perdeu 13% da sua área de 326 km². "Meu neto de 6 anos começou a passar mal e ficou sem respiração, com falta de ar", relata. O médico disse a ela que o garoto, que tem rinite alérgica, não pode ter contato com poeira nem fumaça. "Como, se Cuiabá amanhece e anoitece coberta de poeira?"
A queima de matéria vegetal libera monóxido de carbono (CO) e matéria particulada (fuligem), que têm efeitos diretos na saúde humana. Isso causa tosse, cansaço, ardência nas orelhas, nariz e dificuldade de respirar. Animais também são achados por bombeiros em condições críticas em áreas devastadas pelas chamas.
No Acre, foram quase 30 mil atendimentos ambulatoriais por doenças respiratórias só este ano. Em cidades como Rio Branco, os índices de concentração de material particulado já estão acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O limite é de 25 microgramas por m³. Em alguns locais, foram detectados 170 microgramas por m³.
Em Rondônia, o registro de internações por problemas respiratórios, como pneumonia e tosse, praticamente triplicou. No Hospital Infantil Cosme e Damião, em Porto Velho, a média de atendimentos era de 130 crianças nos primeiros dez dias de agosto, mas até a última semana subiu para mais de 350.
A Delegacia Fluvial de Porto Velho recomendou atenção a todas as embarcações no Rio Madeira. "Está muito difícil navegar durante o dia. Já teve passeio de barco cancelado por causa da fumaça", comenta o navegador Valmir Lopes Pinto. "Com o rio baixo, é perigoso não enxergar um banco de areia e encalhar, sofrer acidente." Dois voos foram cancelados na última semana por falta de visibilidade no Aeroporto de Porto Velho.
Ação
Em Manaus, há brigadas florestais. "Todos trabalham para a população se sentir segura, mas depende da conscientização popular para que não aumentem as queimadas", diz Américo Norte, chefe do Batalhão de Incêndio Florestal dos Bombeiros.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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