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Venezuela encerra campanha relâmpago e sem meios-termos

11/04/2013 06h07

A Venezuela acompanha nesta quinta-feira (11) o encerramento de uma campanha eleitoral relâmpago marcada pela falta de "meios-termos", que culminará no próximo domingo com a eleição do primeiro presidente eleito da era pós-Hugo Chávez.

Com um período oficial de apenas dez dias para sair às ruas, os candidatos evitaram uma discussão aprofundada das suas propostas, focando-se, em vez disso, em mensagens contundentes que acentuaram a tradicional polarização política do país.

Se as pesquisas estiverem corretas, o candidato oficial, o presidente em exercício Nicolás Maduro, terá pelo menos dez pontos de vantagem sobre o nome da oposição, o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles Radonski.

Uma repetição do resultado das eleições de outubro, nas quais Chávez derrotou Capriles por 55% a 45%, seria um indicativo de que a polarização política venezuelana prosseguirá.

Segundo dados da consultoria Datanálisis, o "núcleo duro" do chavismo normalmente compreende entre 35% a 40% do eleitorado, uma margem de dez pontos sobre a proporção de opositores "duros".

Na avaliação do sócio-diretor da consultoria, Luis Vicente León, os curtos dez dias de campanha não foram suficientes para mudar significativamente as intenções de votos entre os eleitores independentes, os chamados "ni-ni" (nem-nem, em espanhol, porque não preferem nem um nem outro grupo).

Dedo apontado

Em uma entrevista ao jornal El Universal, a especialista em pesquisas eleitorais Mariana Bacalao, da Universidade Central da Venezuela (UCV), descreveu a campanha como feita de "mais frases que propostas".

"Custa registrar um slogan de campanha em tão pouco tempo, por isso o que os candidatos estão buscando é causar impressão", diagnosticou.

De fato, esta curta campanha ficou notória pela impressão causada pela contundência das acusações entre os dois principais candidatos. Capriles, cuja estratégia tem sido atacar Maduro sem falar mal de Chávez - um tiro que poderia sair pela culatra -, tem repetido que "o problema é você, Nicolás".

Já Maduro procurou manter rigorosamente a sua proximidade política com Chávez, referindo-se a Capriles como o "burguesinho" e "candidato da oligarquia".

Mas algumas vezes cruzou a linha da controvérsia, quando apareceu em público com a esposa e fez uma referência à solteirice de Capriles, 40. A declaração foi interpretada como homofóbica.

Desequilíbrio

A polarização também se traduz na imprensa e na mídia venezuelanas. Nos dois mais influentes jornais venezuelanos - o El Universal e o El Nacional - nem um só artigo de opinião favorável ao governo foi publicado nas edições desta quinta-feira.

Em contrapartida, a quatro dias da votação, as TVs oficiais são acusadas de outorgar ao candidato chavista mais - e melhor - exposição que a de Capriles.

A organização Monitoreo Ciudadano estimou que, dos quatro dias de cobertura entre 2 e 5 de abril, quase um inteiro (22h33) foi material em favor de Maduro.

A discrepância levou a oposição a incluir, nas suas dez principais plataformas de campanha, um item defendendo "meios de comunicação para todos".

A oposição acusa o oficialismo de utilizar todos os meios disponíveis para se perpetuar no poder, incluindo o uso aberto de recursos estatais, como o Conselho Nacional Eleitoral, o órgão que organiza o pleito.

Tanto é que a coalizão de oposição, Mesa Unidad Democratica, se recusou a assinar um compromisso junto às autoridades eleitorais de que respeitará o resultado das eleições de domingo.

Sugerindo que as autoridades oficiais querem apenas encenar o jogo democrático, a campanha de Capriles publicou na quarta-feira nos jornais um anúncio no qual se compromete a respeitar a Constituição e a vontade do povo venezuelano.

Para os chavistas, Capriles é quem faz jogo, ao criticar o mesmo sistema eleitoral pelo qual foi eleito governador do Estado de Miranda.