Ex-presidente Macri pede desculpas a Bolsonaro por declaração de Fernández
Buenos Aires, 10 jun (EFE).- O ex-presidente da Argentina, Mauricio Macri (2015-2019), escreveu ontem ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), para pedir desculpas pela frase pronunciada ontem pelo atual governante argentino, Alberto Fernández, que disse que "os brasileiros vieram da selva".
Segundo fontes do entorno de Macri confirmaram à Agência Efe, o ex-presidente enviou uma mensagem no WhatsApp ao governante brasileiro na qual pedia "perdão em nome da grande maioria dos argentinos".
Bolsonaro, que mantém fortes divergências ideológicas com Fernández e apoiou Macri em sua frustrada tentativa de reeleição nos pleitos de 2019, já havia revelado mais cedo que trocou mensagens com o ex-chefe de Estado argentino.
"Não tem nenhum problema entre nós nem com o povo argentino. Rivalidade com a Argentina é só no futebol", disse o presidente brasileiro diante de um grupo de apoiadores aos quais também comentou, sarcasticamente, que para Fernández e para o venezuelano Nicolás Maduro não existem vacinas.
Desculpas de Fernández
A origem da polêmica remonta à manhã de quarta-feira (9), quando Fernández se referiu em um discurso às ondas de imigrantes europeus que chegaram à Argentina no passado e que constituíram grande parte da identidade social do país.
"Octavio Paz escreveu uma vez que os mexicanos vieram dos índios, os brasileiros vieram da selva, mas nós, os argentinos, chegamos dos barcos", declarou Fernández.
Essas palavras não demoraram a gerar fortes críticas nas redes, onde muitos usuários alertaram que o presidente argentino errou ao atribuir ao Prêmio Nobel mexicano palavras que mais se aproximam da canção de Litto Nebbia, de quem Fernández se considera um fã e amigo.
Na canção "Llegamos de los barcos", lançada na década de 1980, Nebbia canta: "Os brasileiros saem da selva, os mexicanos vêm dos índios, mas nós, os argentinos, chegamos dos barcos".
Já o que Paz escreveu é o seguinte: "Os mexicanos descendem dos astecas, os peruanos dos incas e os argentinos dos barcos".
"Eu não queria ofender ninguém, em qualquer caso, a quem se sentiu ofendido ou invisibilizado, desde já minhas desculpas", escreveu Fernández na própria quarta-feira à tarde.
Reações no Brasil e no México
Apesar das desculpas, o conteúdo da frase pronunciada por Fernández não deixou de ter reações no Brasil e no México, com cujo presidente, Andrés Manuel López Obrador, Fernández mantém uma boa relação.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, destacou no Twitter que "o barco que está afundando é o da Argentina", e questionou se a frase não seria racista contra os indígenas e africanos que formaram o Brasil.
Quase quatro horas depois, seu pai publicou uma foto na qual é visto cercado por um grande grupo de indígenas, acompanhado da palavra "Selva" e de uma bandeira brasileira.
No México, o subsecretário para América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores, Maximiliano Reyes Zúñiga, considerou "infelizes" as declarações do presidente argentino e disse que elas "tornam invisível a diversidade étnica da América Latina", mas aceitou as desculpas.
"Valorizamos as desculpas que ele ofereceu posteriormente e reiteramos nosso orgulho por nossas raízes indígenas. Argentinos e mexicanos são latino-americanos", ressaltou Reyes Zúñiga.
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