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De youtuber alvo do STF a 'príncipe': os bolsonaristas que negam o racismo

Bolsonaristas do movimento Minha Cor é o Brasil: deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP); youtuber Fernando Lisboa; e influenciadora Vanessa Silva - Divulgação/redes sociais
Bolsonaristas do movimento Minha Cor é o Brasil: deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP); youtuber Fernando Lisboa; e influenciadora Vanessa Silva Imagem: Divulgação/redes sociais

Do Núcleo de Diversidade

19/07/2022 09h00

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Um grupo de personalidades alinhados ao presidente Jair Bolsonaro está trabalhando ativamente para a sociedade brasileira descartar o racismo como um problema grave no Brasil. Autointitulado "Minha Cor é o Brasil", o movimento tinha agendado para o último sábado (16) sua ação de maior relevância até agora, um evento que buscava negar ou relativizar o preconceito racial no país. Ainda na sexta, porém, os organizadores avisaram que, "por motivo de força maior", o evento estava suspenso. Fizeram isso após diversas críticas — inclusive de bolsonaristas que se disseram surpreendidos. Prometeram, mas ainda não anunciaram uma nova data.

Entre os protagonistas da iniciativa, estão Fernando Lisboa, youtuber que está na mira do inquérito das fake news por defender que o STF (Supremo Tribunal Federal) seja fechado, e o ex-presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que coleciona declarações que atacam o movimento negro e figuras de destaque como Zumbi dos Palmares e outras polêmicas em mandato conturbado. Exonerado da função, Camargo é pré-candidato a deputado federal.

A turma conta ainda com o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP). Por ser tetraneto de Dom Pedro II, ele se autodeclara príncipe do Brasil. No evento que não ocorreu, o parlamentar discutiria a importância da família real para o fim da escravidão no país, já que foi a princesa Isabel que assinou a Lei Áurea.

Outra figura de destaque é o deputado federal Hélio "Negão" (PL-RJ). Subtenente do Exército, ele já apareceu ao lado Jair Bolsonaro em comitivas do governo e é citado pelo presidente quando precisa rebater alguma acusação de racismo, como ocorreu após comparar quilombolas a gado bovino. Também compõem a ala "antivitimista" mulheres como Vanessa Silva. Conhecida como "Negona do Bolsonaro", ela se descreve como "negra liberta, bolsonarista, ultra direitista, capitalista e armamentista".

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RACISMO NO ESTÁDIO... O fim de semana foi marcado por mais um caso de racismo em jogos de futebol. Um torcedor do São Paulo fez gestos racistas para um torcedor do Fluminense durante uma partida entre as equipes no Morumbi (SP). Ambos os times emitiram nota repudiando o ato.

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ABRINDO CAMINHOS... A história dela daria um filme de tão inspiradora. Moradora da Zona Norte do Rio, Neuza Nascimento trabalha desde os 8 anos como faxineira. Entre uma tarefa e outra na casa de uma família, foi entrando em contato com livros e pegando gosto pela leitura. Virou escritora e fundou uma ONG que já impactou a vida de mais de 3 mil crianças na comunidade de Parada de Lucas.

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HISTÓRIA PRETA EM SÃO PAULO... Reconhecido nacionalmente como um bairro italiano, o paulistano Bixiga vai além das pizzarias. A região já abrigou o Quilombo Saracura, um grande espaço de resistência à escravidão, e mais tarde virou reduto da escola de samba Vai-Vai. Por tudo isso, ativistas buscam nomear a estação de metrô em construção no bairro de Saracura Vai-Vai no lugar de 14 Bis. A chegada da parada de trens, aliás, tem gerado uma nova onda de especulação imobiliária, que afeta a preservação da memória negra do local, conforme mostrou uma reportagem do UOL.

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MISS.... Uma sul-africana é a primeira mulher negra a vencer o Miss Supranational 2022, concurso que reúne participantes de diversos países. Nem quando são apontadas como as mais belas, elas escapam. O UOL já mostrou casos de mulheres e meninas que foram alvo de discriminação racial durante competições de beleza, como a Miss Minas Gerais Kids.

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DANDO A LETRA

Acredito que a discussão não deveria mais ser em torno da continuação ou não do programa, mas sim de sua ampliação. As cotas devem ser vistas como um movimento sem volta. Porque não se faz reparação histórica com poucos anos de implantação de políticas públicas. Estamos longe de chegar a uma equidade racial no Brasil"
Jeferson Tenório, colunista do UOL.

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Imagem: Carlos Macedo/Divulgação

Em Notícias, Jeferson Tenório avalia o desempenho das cotas raciais durante 10 anos de vida e defende sua ampliação. E André Santana escreve sobre uma iniciativa para levar mais mulheres negras para cursos de pós- graduação em universidades públicas.

Também em Notícias, Chico Alves conta sobre o grito de "Fora Bolsonaro" chegando até a ópera do Theatro Municipal do Rio. O colunista também vem reportando a apuração policial sobre o assassinato do dirigente petista no Paraná.

Em Ecoa, Dona Jacira traz a poesia que circula em silêncio com texto sobre os ciclos da vida. E Anielle Franco conta sobre a visita da ex-funcionária do Facebook, Frances Haugen, ao complexo da Maré.

Em Viva Bem, Elânia Francisca questiona se palestras pontuais sobre sexualidade nas escolas podem resolver as questões dos adolescentes.

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PEGA A VISÃO

Não busquei o uso da maconha para recreação ou para destruir o corpo de ninguém. Fui ajudar meu filho, que é a benção do Senhor na minha vida."
Ana Marta, integrante da Assembleia de Deus

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Imagem: Zô Guimarães/UOL

Além da devoção religiosa, um remédio incomum tem unido evangélicas no Brasil: o óleo de cannabis.

No Brasil, onde políticos evangélicos são alguns dos principais opositores do uso medicinal da maconha, mulheres da igreja se tornaram ativistas do uso medicional da substância após verem de perto os benefícios medicinais em si próprias ou em familiares. Juntas, elas criaram a Semente do Amanhã, a primeira associação de pacientes canábicos fundada por evangélicas.

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SELO PLURAL

Conversa de Portão 2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

No episódio #65 de Conversa de Portão, a equipe do Nós, mulheres da periferia conversa com Najara Costa, professora e socióloga e trazem um panorama sobre o que mudou com 10 anos de cotas raciais no Brasil.