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Mudar embaixada para Jerusalém não é tão simples, diz Bolsonaro em entrevista a TV

Pedro Fonseca

Do Rio

02/04/2019 08h23

(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro reconheceu durante viagem a Israel que mudar a embaixada brasileira no país de Tel Aviv para Jerusalém não é "tão simples", mas afirmou, nesta terça-feira, que acredita estar no caminho certo após o anúncio da abertura de um escritório de negócios do Brasil na cidade disputada por israelenses e palestinos.

Bolsonaro admitiu ter encontrado dificuldades para cumprir a promessa de mudar a embaixada brasileira para Jerusalém em entrevista à TV Record na noite de segunda-feira, e disse que a questão tem sido conversada com o mundo árabe e será levantada em viagem a países do Oriente Médio que fará no segundo semestre.

"Eu fiz uma promessa de campanha e obviamente eu vi depois as dificuldades, não é uma coisa tão simples assim", disse Bolsonaro na entrevista.

"O Benjamin Netanyahu (premiê de Israel) obviamente gostaria que eu transferisse, mas nós temos conversado com o mundo árabe, porque o Brasil é um país de todos, tem todo mundo lá dentro, e nós buscamos conversar com essas pessoas, conversar com embaixadores. Vamos fazer uma viagem para a região do Oriente Médio no segundo semestre... e essa questão será colocada na mesa, para chegar num diálogo, num entendimento, para não termos problema de parte a parte", acrescentou.

Questionado nesta terça-feira, após participar de cerimônia alusiva ao plantio de muda de oliveira no Bosque das Nações, se mantinha os planos de transferir a embaixada para Jerusalém, o presidente respondeu: "Um grande casamento começa no namoro e no noivado, então estamos no caminho certo, no meu entender."

No domingo, Bolsonaro anunciou a abertura de um novo escritório de negócios do Brasil em Israel na cidade de Jerusalém, em aparente recuo de sinais anteriores de que iria seguir os passos dos Estados Unidos transferindo a embaixada brasileira para a cidade.

A proposta original de Bolsonaro de transferir a embaixada irritou a comunidade árabe, e importantes autoridades brasileiras alertaram sobre prejuízos aos laços com países árabes e o comprometimento de bilhões de dólares em exportações de carne halal.

Segundo o presidente, a abertura do escritório de negócios foi "mais um passo" na questão da embaixada, e o governo brasileiro disse que o escritório de negócios não será uma representação diplomática. A medida, no entanto, irritou a comunidade palestina.

Segundo Ibrahim Alzeban, embaixador palestino em Brasília, sua convocação para voltar aos territórios palestinos estava em consideração em reação à visita de Bolsonaro. "Gostaríamos que não se houvesse tocado no tema de Jerusalém."

Israel tem há muito considerado Jerusalém inteira como sua capital eterna e indivisível, enquanto os palestinos querem Jerusalém Oriental como a capital de um Estado futuro que buscam estabelecer em território tomado por Israel durante a guerra de 1967.

Bolsonaro afirmou na entrevista à emissora de TV que o ponto máximo da visita a Israel, que se encerra na quarta-feira, foi uma aproximação com o governo israelense, em especial com o primeiro-ministro Netanyahu, com quem visitou na véspera o Muro das Lamentações, o local de oração mais sagrado do judaísmo.

Nesta terça-feira, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse que Bolsonaro está disposto a receber diplomatas de países árabes e do entorno, em especial devido às relações de comércio "muito intensas" do Brasil com o mundo árabe.

“É muito importante que tenhamos relações comerciais com um amplo espectro de países. Nós sabemos que as questões dos países árabes estão relacionadas com o ministério da ministra Tereza Cristina (Agricultura). Temos como uma das nossas principais pautas do mercado a venda externa àquela área", afirmou.

(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Brasília)