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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

'28 dias esperando cirurgia': acidentes de moto voltam a crescer no Brasil

Manuela ficou 28 dias internada até conseguir uma cirurgia em Maceió - Arquivo pessoal
Manuela ficou 28 dias internada até conseguir uma cirurgia em Maceió Imagem: Arquivo pessoal

Colunista do UOL

01/05/2023 04h00

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A taxa de mortalidade por acidentes de motocicletas no Brasil voltou a crescer a partir de 2020, segundo dados divulgados na quarta-feira em boletim especial do Ministério da Saúde. Em 2021, a taxa de internação também teve recorde desde 2011, quando essas informações passaram a ser reunidas.

O que aconteceu

Em 2021, 11,1 mil pessoas morreram por acidentes com moto, o que representa 35,3% de todos os óbitos por lesões no trânsito. Dez anos antes, esse percentual era de 26,6%.

O resultado é ainda pior quando se compara a taxa de internação, que teve 115 mil pessoas lesionadas em 2021 —média de 61 para cada 100 mil pessoas. Isso é 55% maior que o registrado em 2011, quando 70.508 se lesionaram.

Também em 2021, o SUS pagou R$ 167 milhões pelas internações de vítimas de acidentes de motociclistas, ou R$ 1.443,40 em média.

O boletim aponta algumas hipóteses para os números após a pandemia: crise no transporte público, maior demanda por serviços de tele-entrega, trabalho precarizado de entregadores de moto e o aumento da frota.

Os motociclistas são envolvidos em lesões de trânsito com consequências mais graves. Além dos custos hospitalares, o maior valor estimado é referente à perda de produção das pessoas (41,2%), causando o empobrecimento das famílias e em caso de morte, os custos recaem sobre a previdência social."
Boletim do Ministério da Saúde

Fratura na tíbia

Além de uma recuperação lenta, os acidentes de moto também levam trabalhadores a ter perdas financeiras.

A musicista e professora Manuela Cecília Batista, 33, sofreu um acidente em Maceió em março de 2023.

Ela passou 28 dias internada até conseguir fazer a cirurgia para corrigir fratura na tíbia após a moto dela colidir com um carro em uma rua de Maceió.

E eu só consegui fazer essa cirurgia agora porque amigos com conhecimento estavam indo atrás todo esse tempo para que eu operasse o quanto antes. Senão, estaria lá internada ainda, sem previsão." Manuela Cecília Batista, musicista e professora

Ela usa sua moto como meio de transporte porque tem custos mais baixos que um carro. Porém, ela já chegou a fazer entregas com o veículo, em 2020, devido a problemas financeiros.

Para tentar recompor a renda enquanto se recupera do acidente, ela diz que lançou uma rifa para bancar os custos dos remédios e ajudar com a manutenção de sua casa.

A moto acaba fazendo parte do trabalho. Muitas vezes eu tinha várias atividades que demandavam estar em diferentes lugares no mesmo dia --aula, show, ensaio, faculdade--, e a moto facilitava nessa locomoção."
Manuela

Acidente ocorrido no dia 28 de março, em Maceió: fratura na tíbia  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Acidente ocorrido no dia 28 de março, em Maceió: fratura na tíbia de Manuela
Imagem: Arquivo pessoal

A coluna procurou a Secretaria de Saúde de Alagoas para saber o motivo da demora para cirurgia, mas não obteve retorno.

Segundo o Ministério da Saúde, os principais erros que levam a acidentes acidentes e lesões com moto são:

  • Não uso de capacete
  • Direção sob o efeito de álcool ou drogas
  • Velocidade
  • Idade/inexperiência dos usuários
  • Erros de frenagem
  • Mudança de faixa ou condução em "zigue-zague"
  • Competição
  • Direção agressiva
  • Não se fazer visível
  • Alta aceleração

Desigualdade entre estados

Os dados mostram que a taxa de mortalidade não é uniforme pelo país.

O estado onde mais se morre por acidentes de moto é o Piauí, com taxa de 17,6 para cada 100 mil, quase dez vezes maior que no Rio de Janeiro, onde a taxa foi de 1,9 (a menor do país).

Só 82,6% da população disse usar capacete ao conduzir motocicleta, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019. No Nordeste, essa média cai para 68,6%.

Ações nas cidades

Responsável pela área de trânsito no país, a Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) informou que está tomando algumas medidas para tentar mitigar o problema.

O maior problema está nas cidades de porte médio, que são centros regionais, segundo o secretário Adrualdo Catão.

Estamos formatando um programa focado nessas cidades com dados, inovações tecnológicas, manual de vias seguras e nossa visão pelo processo de fiscalização." Adrualdo Catão, secretário da Senatran

Um grupo, que conta com a participação de integrantes da Senatran e do Ministério do Trabalho, analisa a regulação da profissão de moto-transportadores. "O ônus tem que recair sobre as empresas, que têm fornecer segurança e treinamento", diz.

Outra prioridade é revisar as estatísticas de acidentes, já que os dados da saúde têm uma demora para serem publicados. "Ainda este ano vamos ter um novo sistema estatístico nacional", garante.

Hoje, o órgão já mantém um banco de dados que informa ao Ministério dos Transporte os locais onde há mais acidentes, que faz obras focadas na questão de segurança viária.