Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
'28 dias esperando cirurgia': acidentes de moto voltam a crescer no Brasil
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
A taxa de mortalidade por acidentes de motocicletas no Brasil voltou a crescer a partir de 2020, segundo dados divulgados na quarta-feira em boletim especial do Ministério da Saúde. Em 2021, a taxa de internação também teve recorde desde 2011, quando essas informações passaram a ser reunidas.
O que aconteceu
Em 2021, 11,1 mil pessoas morreram por acidentes com moto, o que representa 35,3% de todos os óbitos por lesões no trânsito. Dez anos antes, esse percentual era de 26,6%.
O resultado é ainda pior quando se compara a taxa de internação, que teve 115 mil pessoas lesionadas em 2021 —média de 61 para cada 100 mil pessoas. Isso é 55% maior que o registrado em 2011, quando 70.508 se lesionaram.
Também em 2021, o SUS pagou R$ 167 milhões pelas internações de vítimas de acidentes de motociclistas, ou R$ 1.443,40 em média.
O boletim aponta algumas hipóteses para os números após a pandemia: crise no transporte público, maior demanda por serviços de tele-entrega, trabalho precarizado de entregadores de moto e o aumento da frota.
Os motociclistas são envolvidos em lesões de trânsito com consequências mais graves. Além dos custos hospitalares, o maior valor estimado é referente à perda de produção das pessoas (41,2%), causando o empobrecimento das famílias e em caso de morte, os custos recaem sobre a previdência social."
Boletim do Ministério da Saúde
Fratura na tíbia
Além de uma recuperação lenta, os acidentes de moto também levam trabalhadores a ter perdas financeiras.
A musicista e professora Manuela Cecília Batista, 33, sofreu um acidente em Maceió em março de 2023.
Ela passou 28 dias internada até conseguir fazer a cirurgia para corrigir fratura na tíbia após a moto dela colidir com um carro em uma rua de Maceió.
E eu só consegui fazer essa cirurgia agora porque amigos com conhecimento estavam indo atrás todo esse tempo para que eu operasse o quanto antes. Senão, estaria lá internada ainda, sem previsão." Manuela Cecília Batista, musicista e professora
Ela usa sua moto como meio de transporte porque tem custos mais baixos que um carro. Porém, ela já chegou a fazer entregas com o veículo, em 2020, devido a problemas financeiros.
Para tentar recompor a renda enquanto se recupera do acidente, ela diz que lançou uma rifa para bancar os custos dos remédios e ajudar com a manutenção de sua casa.
A moto acaba fazendo parte do trabalho. Muitas vezes eu tinha várias atividades que demandavam estar em diferentes lugares no mesmo dia --aula, show, ensaio, faculdade--, e a moto facilitava nessa locomoção."
Manuela
A coluna procurou a Secretaria de Saúde de Alagoas para saber o motivo da demora para cirurgia, mas não obteve retorno.
Segundo o Ministério da Saúde, os principais erros que levam a acidentes acidentes e lesões com moto são:
- Não uso de capacete
- Direção sob o efeito de álcool ou drogas
- Velocidade
- Idade/inexperiência dos usuários
- Erros de frenagem
- Mudança de faixa ou condução em "zigue-zague"
- Competição
- Direção agressiva
- Não se fazer visível
- Alta aceleração
Desigualdade entre estados
Os dados mostram que a taxa de mortalidade não é uniforme pelo país.
O estado onde mais se morre por acidentes de moto é o Piauí, com taxa de 17,6 para cada 100 mil, quase dez vezes maior que no Rio de Janeiro, onde a taxa foi de 1,9 (a menor do país).
Só 82,6% da população disse usar capacete ao conduzir motocicleta, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019. No Nordeste, essa média cai para 68,6%.
Ações nas cidades
Responsável pela área de trânsito no país, a Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) informou que está tomando algumas medidas para tentar mitigar o problema.
O maior problema está nas cidades de porte médio, que são centros regionais, segundo o secretário Adrualdo Catão.
Estamos formatando um programa focado nessas cidades com dados, inovações tecnológicas, manual de vias seguras e nossa visão pelo processo de fiscalização." Adrualdo Catão, secretário da Senatran
Um grupo, que conta com a participação de integrantes da Senatran e do Ministério do Trabalho, analisa a regulação da profissão de moto-transportadores. "O ônus tem que recair sobre as empresas, que têm fornecer segurança e treinamento", diz.
Outra prioridade é revisar as estatísticas de acidentes, já que os dados da saúde têm uma demora para serem publicados. "Ainda este ano vamos ter um novo sistema estatístico nacional", garante.
Hoje, o órgão já mantém um banco de dados que informa ao Ministério dos Transporte os locais onde há mais acidentes, que faz obras focadas na questão de segurança viária.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.