Josmar Jozino

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PCC já levou fuzis e munição de quartéis do Exército em SP; saiba como foi

Foi com a ajuda do então cabo do Exército Leonardo Floriano dos Santos que assaltantes ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) invadiram o quartel do 6º Batalhão de Infantaria Leve de Caçapava (SP) em 8 de março de 2009, e roubaram sete fuzis calibre 7,62.

Segundo a Justiça Militar, o cabo, cujo nome de guerra era Floriano, conhecia bem o quartel por dentro e também por fora, principalmente as áreas de vulnerabilidade, como a vegetação que prejudicava a visibilidade à distância, as cercas de arames e as deficiências de iluminação.

As investigações apontaram que Floriano foi aliciado a participar do roubo pelo cunhado Willian Vagner Storto, o Beterraba, integrante do PCC. O criminoso convidou José Augusto Lourenço Marinho, o Sapão, também ligado à facção criminosa. Ambos se conheceram na prisão.

Sapão recrutou outros comparsas. Na véspera do crime, a quadrilha se reuniu para acertar os detalhes da ação e fazer o reconhecimento do local. Na noite seguinte, o bando seguiu para uma rua de terra e chegou aos fundos do quartel em um Ômega azul dirigido por Sapão.

Militares dormiam

Floriano portava um alicate e cortou o arame da cerca que dava acesso ao corpo da guarda. Os assaltantes estavam encapuzados. Eles entraram no quartel e renderam quatro militares. Outros três estavam dormindo no alojamento e também foram dominados.

Os criminosos trancaram os militares no banheiro, recolheram os fuzis 7,62 e 140 projéteis do mesmo calibre e fugiram em direção ao Jardim Satélite, em São José dos Campos, onde deixaram o armamento escondido em uma casa alugada.

No mês seguinte, durante o curso das investigações, policiais apreenderam também em São José dos Campos, mas em outro bairro, um dos fuzis roubados. A arma estava em uma residência no Jardim da Granja. A moradora foi detida e ouvida.

Após essa prisão, policiais chegaram ao restante do bando. Seis pessoas foram acusadas por receptação das armas. Floriano, Beterraba e Sapão foram condenados pelo roubo. O cabo foi expulso do Exército. Ele recebeu uma pena de nove anos. Iria ganhar R$ 35 mil pela participação no crime.

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A Justiça condenou Beterraba a 12 anos e Sapão a 16 anos. Segundo investigações da Polícia Civil, a intenção de ambos era usar os fuzis em assaltos a carros-fortes. As armas não chegaram a ser utilizadas e acabaram recuperadas.

Soldado auxiliou em furto em Pirassununga

Em Pirassununga, no interior paulista, o então soldado do Exército Jefferson Gomes dos Santos foi aliciado por dois primos a furtar armas e munição do quartel do 13º regimento de Cavalaria Mecanizado. O crime aconteceu na madrugada de 1º de julho de 2012.

Conforme as investigações, Jefferson forneceu um mapa do quartel à quadrilha e informações sobre a segurança do local. Os criminosos levaram três mil caixas de cartucho de fuzil calibre 7,62. O material foi avaliado em R$ 14 mil.

Mas algo inusitado aconteceu poucas horas após o crime. Os dois primos do soldado, Rogério Costa dos Santos e Maílson Caje dos Santos, e o parceiro Paulo Ricardo Bento foram assassinados a tiros em circunstâncias não apuradas.

No dia seguinte, Jefferson faltou ao serviço para ir ao enterro dos primos. A ausência dele chamou a atenção dos superiores. O soldado foi ouvido e estava amedrontado. Ele confessou a participação no crime. Foi expulso da instituição e condenado a quatro anos.

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Outro comparsa também acabou preso e recebeu uma pena de seis anos. Esse réu passou por vários presídios dominados pelo PCC. A suspeita da Polícia Civil era a que os primos de Jefferson mortos misteriosamente também estavam ligados à facção criminosa.

Quartel do Ibirapuera também foi alvo

Em 17 de outubro de 2010, outro quartel do Exército teve armas furtadas. Um soldado foi acusado de auxiliar no furto de dois fuzis 7,62 da guarnição de serviço da Base de Administração de Apoio do Ibirapuera, bairro rico da zona sul paulistana.

Um IPM (Inquérito Policial Militar) foi aberto para apurar o caso. As suspeitas iniciais dos responsáveis pela investigação indicavam que as armas tinham sido entregues para integrantes do PCC e seriam usadas em grandes assaltos.

A Polícia Civil agora investiga se o PCC também está por trás do sumiço de 21 armas do Arsenal de Guerra de Barueri, na região metropolitana de São Paulo. O caso veio a público na semana passada. O Exército apura o desaparecimento de 13 metralhadoras calibre .50, e oito de calibre 7,62.

Policiais civis ouvidos pela reportagem disseram, na condição de anonimato, acreditar que o armamento já está em mãos de integrantes da maior facção criminosa do país.

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