Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Ministério de Israel sugere remoção forçada de moradores de Gaza ao Egito

Um documento do Ministério da Inteligência de Israel sugere uma realocação forçada dos mais de 2,2 milhões de habitantes da Faixa de Gaza para a Península do Sinai, pertencente ao Egito, após uma hipotética derrubada do Hamas.

Questionado pelo Haaretz, um dos mais importantes jornais israelenses, o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu minimizou o texto, afirmando que se trata de um "documento inicial" e que não está sendo considerado neste momento.

"Este é um documento inicial do tipo que pode ser encontrado em dezenas de interações em todos os níveis do governo e dos serviços de segurança. A questão do 'dia seguinte' não foi discutida em nenhum fórum oficial em Israel, que agora está focado na eliminação das capacidades governamentais e militares do Hamas", afirmou ao jornal.

A Associated Press diz que o governo israelense justificou o texto como um exercício hipotético. Mas foi o suficiente para colocar mais gasolina na fogueira.

Datada de 13 de outubro, a proposta prevê a construção de acampamentos com tendas no Norte do Sinai e, depois, cidades permanentes separadas da fronteira com Israel e Gaza por uma "zona tampão" de alguns quilômetros para dificultar os palestinos de tentarem voltar.

Ela também traz outras alternativas que não passam pela realocação forçada dos palestinos: uma que permite a Autoridade Palestina, expulsa de Gaza pelo Hamas e que controla parcialmente a Cisjordânia, volte a chefiar o território, e outra em que Israel estabeleça um governo pelos residentes locais.

Em todas as opções, Israel não pergunta aos palestinos o que querem para a própria vida. Tampouco aos egípcios. Não é de hoje que autoridades egípcias temem que Israel tente impor uma solução para a Faixa de Gaza que passe pela realocação em massa em direção ao seu território.

O governo do Cairo se nega a abrir os portões para a entrada de refugiados palestinos. Uma das justificativas é que o Egito desconfia de que, após a autorização de instalação provisória de refugiados, Israel impeça o retorno de civis e instale assentamentos israelenses em Gaza.

Esse tipo de proposta, ainda que hipotética, ignora que um território não é apenas um punhado de lotes, mas envolve raízes históricas, culturais e sociais. E, ironicamente, bate de frente com a mesma justificativa dada para a partilha da Palestina e a criação do Estado de Israel em 1948.

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Pelo menos, 8.306 palestinos foram mortos em Gaza na retaliação israelense, segundo o serviço de saúde do território. E mais de 1.400 pessoas morreram em Israel após o ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro. Uma taxa de quase 6 mortos em Gaza para cada morto em Israel.

Ao mesmo tempo, um cerco impede que eletricidade, água, comida, remédios e combustíveis entre livremente no território, o que pode configurar crime de guerra segundo as Convenções de Genebra.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.