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Candidato republicano a vice paparica jornalistas, mas se nega a responder perguntas

Candidato republicano à vice-presidência, Paul Ryan, serve biscoitos a jornalistas em avião - Eric Thayer/The New York Times
Candidato republicano à vice-presidência, Paul Ryan, serve biscoitos a jornalistas em avião Imagem: Eric Thayer/The New York Times

Trip Gabriel

25/08/2012 00h01

O deputado Paul Ryan deseja de fato ser amistoso. Ele surge trazendo biscoitos de chocolate branco com macadâmia, e oferece-se para comprar um cachorro quente no dia do aniversário do seu interlocutor. Quando fica sabendo que um repórter irá desembarcar do seu avião de campanha na próxima escala, Ryan vai até ele para lhe dar um aperto de mão.

Ryan tem feito vários pequenos gestos amistosos aos jornalistas que o acompanham, frequentemente oferecendo-lhes petiscos, em um sinal nítido de que ele está procurando manter um bom relacionamento com os repórteres que cobrem a sua campanha todos os dias. Ele quer evitar o erro que o comitê da campanha Romney-Ryan admite que Mitt Romney cometeu na sua recente viagem à Europa, quando o mal tratamento dispensado aos jornalistas resultou em uma cobertura das suas gafes que lhe foi bastante desfavorável.

Mas, como a estratégia tanto de Romney quanto de Ryan em relação à mídia é evitar a todo custo as coletivas à imprensa sem perguntas pré-determinadas, esses pequenos gestos acabam muitas vezes se constituindo em contatos marcados pelo nervosismo.

Quando Ryan foi até à parte traseira do seu avião, na noite da última quinta-feira (23), durante um voo entre os Estados de Missouri e Michigan, ele foi acossado por jornalistas tão ansiosos por notícias que o candidato quase teve a face atingida por gravadores e câmeras de vídeo.

“Toda vez que eu vier aqui vocês vão fazer isso?”, perguntou Ryan, bastante irritado. “Essa nossa interação precisa ser tão formal assim?”.

“Você tem que conversar conosco com mais frequência”, respondeu um dos jornalistas.

“Vocês estão sempre aqui”, disse Ryan. “Seria até esquisito se não conversássemos”.

De fato, a impressão que se tem é que o candidato e os jornalistas que o acompanham nas suas viagens de campanha pouco interagem, apesar de estarem tão próximos. Os jornalistas podem até tomar de vez em quando um sorvete com os membros da equipe de Ryan, ou espiar o candidato malhando na academia do Hotel Marriott, onde todos ficam hospedados. Mas assim que um repórter faz uma pergunta sobre, digamos, os recentes comentários feitos pelo deputado republicano Todd Akin sobre estupro e aborto, as portas de acesso ao candidato se fecham.

Em um evento informal na Carolina do Norte, na última quinta-feira, quando o anfitrião convidou a plateia, bem como os jornalistas, a formular perguntas, os assessores de Ryan vetaram imediatamente a ideia e disseram que o candidato não responderia a perguntas da imprensa.

Portanto, esse relacionamento é marcado por expectativas frustradas de ambas as partes, algo que talvez só pudesse ser resolvido por um especialista em dor de cotovelo.

Na manhã da quinta-feira, no avião de campanha, um dia após Ryan ter distribuído os biscoitinhos, um repórter de televisão rolou uma laranja pelo corredor com a seguinte mensagem para Ryan: “Ei, deputado, obrigado pela visita. Não se comporte como um desconhecido”.

A laranja voltou rolando com uma mensagem do secretário de imprensa de Ryan, Michael Steel: “Comam as suas frutas e verduras se quiserem mais biscoitos”.

Na tarde da quinta-feira, Ryan tentou novamente. O pretexto foi dar um aperto de mão em um jornalista que em breve cobriria a campanha do vice-presidente Joseph Biden.

Mas Ryan deparou-se com uma enxurrada de perguntas rápidas e furiosas: sobre a reforma da previdência, as suas diferenças em relação a Romney quanto as exceções previstas em uma legislação antiaborto, e o assunto da sua discussão do dia sobre políticas de governo com a sua equipe.

“Eu quero chegar ao cerne do comunicado do CBO”, respondeu Ryan, referindo-se às projeções de crescimento econômico feitas pelo Departamento de Orçamento do Congresso (CBO na sigla em inglês). “É esse tipo de coisa que eu farei”.

A maior parte das entrevistas de Ryan é concedida a estações de televisão locais, em uma tentativa de atrair eleitores nos Estados nos quais a eleição presidencial deverá ser mais disputada. Algumas dessas redes pressionam o candidato, como uma estação de TV de Pittsburgh que pediu a Ryan que esclarecesse o significado da expressão “estupro forçado” que foi incluída em um projeto de lei do qual ele foi coautor.

A maioria das redes, entretanto, é menos inquisitiva. Por exemplo, um canal de televisão de Roanoke, no Estado de Virgínia, pediu a Ryan que fizesse um jogo de associação de palavras. Durante a entrevista Ryan declarou que, na sua opinião, “comer um pedaço de bolo é o mesmo que comer aspargos”. “Portanto, eu comerei aspargos”, concluiu ele.

Ryan e os jornalistas que o acompanham nas suas viagens de campanha riram da entrevista. “Foi estranho. Eu nunca participei de uma entrevista como essa”, disse Ryan.

A seguir os repórteres perguntaram o que ele acha de aspargo. “Eu adoro aspargo. É a minha verdura favorita”, respondeu Ryan, dando a entender que, em um governo Romney-Ryan, a horta da Casa Branca é um dos legados de Obama que não será extinto.

Um assessor de Ryan anunciou que o jantar estava servido na parte dianteira do avião. E também que o jantar incluía aspargos. “Vou jantar”, disse Ryan, afastando-se. “Foi bom ver vocês”.