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Atingidos pela recessão, muitos eleitores jovens procuram além de Obama

A norte-americana Vanessa Espinoza, 19, diz não ser capaz de comprometer-se a qualquer partido político. A nova geração parece menos entusiasmada com o presidente Barack Obama, dando à campanha de Mitt Romney uma oportunidade que ele pretende agarrar  - Daniel Acker / The New York Times
A norte-americana Vanessa Espinoza, 19, diz não ser capaz de comprometer-se a qualquer partido político. A nova geração parece menos entusiasmada com o presidente Barack Obama, dando à campanha de Mitt Romney uma oportunidade que ele pretende agarrar Imagem: Daniel Acker / The New York Times

Susan Saulny *

03/07/2012 06h00

Maria Verdugo, uma recém-formada de 20 anos pela Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, mal se recorda da eleição presidencial de 2008 –aquela que gerou um movimento jovem que foi singular em sua amplitude e eficácia política– exceto "algo sobre Obama dizendo que precisávamos de uma mudança".

Atualmente Verdugo está tão ocupada trabalhando para pagar seu crédito estudantil que ainda não decidiu se ela se registra como "democrata, republicana ou o quê", ela diz.

Chad Tevlin, 19, um estudante tentando pagar pela faculdade limpando toaletes portáteis em South Bend, Indiana, não se lembra se ele se registrou para votar. "Sem sentido" é a forma como ele descreve a política.

E Kristen Klenke, uma estudante de música na região central de Michigan, decidiu ignorar esta eleição. "Eu sei que soa horrível", disse Klenke, 20. "Mas há muito desencorajamento por aí."

Nos quatro anos desde que o presidente Barack Obama chegou à presidência graças em grande parte ao apoio de um vasto exército de jovens, um novo corpo de homens e mulheres jovens atingiu a idade de votação com pontos de vista moldados em grande parte pela recessão. E diferente de seus pares na geração anterior, que exibiam níveis elevados de entusiasmo por Obama a esta altura em 2008, os novos eleitores do país estão menos entusiasmados com ele, apresentam uma probabilidade significativamente menor de se identificarem como conservadores e citam uma crescente falta de fé no governo em geral, segundo entrevistas, especialistas e pesquisas recentes.

As pesquisas mostram que os americanos com menos de 30 anos ainda estão em grande margem inclinados a apoiar Obama. Mas o presidente pode enfrentar um desafio particular entre esses eleitores com idades entre 18 e 24 anos. Nessa faixa etária, sua vantagem sobre Romney –12 pontos– é aproximadamente a metade daquela entre a faixa de 25 a 29 anos, segundo uma pesquisa online recente, feita pelo Instituto de Política de Harvard. E entre os brancos no grupo mais jovem, a vantagem de Obama desaparece por completo.

Entre todos na faixa etária dos 18 aos 29 anos, a pesquisa encontrou um nível elevado de eleitores indecisos –30%. E a expectativa é de que o comparecimento às urnas entre esse grupo será significativamente menor do que entre os eleitores mais velhos.

"A preocupação para Obama, e a oportunidade para Romney, é na faixa de 18 a 24 anos, que não tem ligação histórica ou direta com a campanha ou o movimento de quatro anos atrás", disse John Della Volpe, diretor de pesquisas do Instituto de Política de Harvard. "Nós também estamos vendo que os membros mais jovens desta geração estão começando a exibir alguns traços mais conservadores. Isso não significa que sejam republicanos. Significa que os republicanos têm uma oportunidade."

Os especialistas dizem que o impacto da recessão e da lenta recuperação não deve ser subestimado. Os mais novos eleitores potenciais –cerca de 17 milhões de pessoas– foram moldados pelos tempos econômicos mais duros em seus anos de formação do que qualquer outra coisa, e essa força não tende a mobilizar de modo positivo.

De fato, entre aqueles com idades de 18 e 19 anos, a taxa de desemprego em maio era de 23,5%, segundo o Birô de Estatísticas do Trabalho. Para aqueles com idades entre 20 e 24, a taxa cai para 12,5%, em comparação com a taxa nacional de desemprego para todas as idades, de 8,2%. O impacto da recessão sobre os jovens criou uma desilusão com a política em geral, sugeriram vários especialistas.

"Eu acho que a falta de empolgação no momento é palpável o suficiente para ser um desafio à campanha para a reeleição de Obama", disse Peter Levine, diretor do Centro para Informação e Pesquisa de Aprendizado e Engajamento Cívico da Universidade Tufts.

A campanha de Romney pretende aproveitar o momento com uma blitz de iniciativas online e nos campi universitários nas próximas semanas, disse Joshua Baca, diretor de campanha da coalizão nacional.

Ele disse que a mensagem será simples: as políticas econômicas de Obama não estão funcionando para os jovens.

A estratégia? "De quarto de dormitório em quarto de dormitório" ou "de porão dos pais em porão dos pais, o que quer que seja por causa da economia, é para onde nós vamos", disse Baca. "A chave para isto é contar com uma base muito forte de voluntários para bater de porta em porta."

Por sua vez, a campanha de Obama já iniciou um contato com adolescentes no colégio. Ela organizou comícios jovens em Estados chave nos últimos meses, e planeja ser uma força nos campi universitários nos próximos meses.

Os diretores de campanha expressaram confiança.

"Os jovens sabem o que está em jogo, de modo que, da mesma forma como saíram em grande número para organizar e liderar um movimento em 2008, a energia e compromisso deles ajudará a construir esta campanha de novo em 2012", disse Clo Ewing, uma porta-voz da campanha de Obama.

Em 2008, Obama foi o primeiro a reconhecer a força plena do voto jovem para mudar o jogo, e seu "timing" coincidiu com o despertar político entre os jovens americanos após o período tumultuoso que incluiu os ataques terroristas do 11 de Setembro, o início da Guerra do Iraque e os fracassos do governo durante o furacão Katrina.

Mas de lá para cá, o sentimento mudou no país. Além disso, os republicanos aprovaram recentemente leis eleitorais mais restritivas em vários Estados, que eles dizem que combaterão a fraude, mas que os democratas dizem que dificultarão o voto para alguns de seus eleitorados chave –como os jovens, por exemplo.

Tevlin, o estudante de Indiana, disse que sua busca cansativa por um emprego de verão significativo foi tão fútil que aceitou o emprego para limpeza de toaletes e tanques sépticos. "Eu acho que estamos encrencados e o futuro, no que se refere aos empregos, não parece nada bom", ele disse.

Formado em ciência política, Tevlin se tornou mais cínico nos últimos anos. "Eu vejo e ouço mentiras, nada vai além do partidarismo e eu não acredito em nada", ele disse. "Eu acho que o sistema partidário é estúpido."

Nas últimas três eleições gerais, os eleitores jovens deram a maioria de seus votos aos democratas, segundo as pesquisas de boca de urna.

Hoje, especificamente, os eleitores potenciais mais jovens apresentam maior probabilidade do que seus pares mais velhos de pensar que é importante a proteção das liberdades individuais das ações do governo, sugerem dados de Harvard.  E menos probabilidade de pensarem que é importante tratar de coisas como mudança climática, reforma da imigração ou da saúde. Tevlin, por exemplo, considerou perturbadora a manutenção pela Suprema Corte da Lei de Atendimento de Saúde a Preço Acessível. "Eu não acho que o governo deveria forçar alguém a comprar algo", ele disse.

Brandon Dennis é um eleitor que diz estar aberto a alguém novo. Dennis, 20, vem de uma família negra de apoiadores de Obama. Mas quando ele atingiu a idade de votar, ele se registrou como independente. Ele está ouvindo os apelos de Romney. "Desta vez, é mais a respeito do que será feito pela economia", disse Dennis, formado em química pela Universidade Clark Atlanta.

Vanessa Espinoza, 19, que vive no leste de Iowa, diz que se interessa por esta eleição, mas não consegue optar por um partido político. Como católica conservadora, ela está ao lado dos republicanos em questões como o aborto. Como uma operária de fábrica em tempo integral sem plano de saúde, ela defende a lei de saúde do presidente, que pode tê-la conquistado. Ainda assim, o apoio dela está longe de entusiasmado.

"Eu estou inclinada a votar em Obama", ela disse, "eu acho".

* Reportagem adicional de Robbie Brown, em Atlanta, e Malia Wollan, em San Francisco. Kitty Bennett contribuiu com pesquisa.