Sete momentos mostram que Haddad era o plano B de Lula

Nathan Lopes

Do UOL, em Curitiba

Aprovado pela executiva do PT como o substituto de Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad - assim como praticamente todos os integrantes do partido - sempre negou que fosse o plano B caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fosse barrado pela Justiça Eleitoral. Na madrugada do dia 1º, Lula teve sua candidatura rejeitada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e, agora, Haddad aguarda apenas a aprovação do registro da candidatura pelo TSE para disputar a eleição, com a tarefa de fazer o PT vencê-la pela quinta vez seguida.

Mas já era possível observar indícios de que Lula apostaria no ex-prefeito de São Paulo cerca de uma semana depois de o ex-presidente ter sido condenado pelo juiz federal Sergio Moro no processo do tríplex no Guarujá (SP). A expectativa era que o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da Quarta Região) mantivesse a condenação pela segunda instância, o que foi confirmado posteriormente e tornou Lula um ficha-suja, deixando-o fora da corrida ao Planalto.

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Em 20 de julho do ano passado, ao ser questionado sobre quem poderia substituí-lo, a única referência nominal que Lula fez foi ao ex-prefeito, que comandou o Ministério da Educação entre 2005 e 2012. Desde então, a ligação de Haddad com a equipe de campanha de Lula só se fortaleceu.

Mas o ex-prefeito sempre fez questão de afastar especulações em torno de sua possível candidatura. Em janeiro, a reportagem do UOL perguntou a Haddad se ele tinha o desejo de ser presidente da República um dia. Para ele, responder a questão seria "arrogante". "Não funciona assim na prática. O que teve de gente que quis ser [presidente], que se achava predestinado a ser e terminou mal, né?", disse.  "Acho um pouco arrogante demais responder a uma pergunta dessa. O que não significa que você não possa ter suas ambições políticas. Mas, nesse plano, eu acho que é um processo histórico de outra natureza. Que envolve ambições pessoais, mas está muito além de um desejo de vida".

Apesar das declarações de Haddad, nos bastidores o nome do ex-prefeito sempre teve força. Veja sete movimentos que mostram que o ex-prefeito era o plano B de Lula:

Julho de 2017

Uma semana após ter sido condenado no processo do tríplex, Lula faz elogios públicos a Haddad em entrevista ao ser questionado sobre quem poderia ser um plano B e diz que o ex-prefeito deveria percorrer o país. "O Haddad pode ser uma personalidade importante se ele se dispuser a percorrer o Brasil. Já falei para o Haddad: você tem que botar o pé na estrada, falar da educação, falar do que você fez na educação".

Outubro de 2017

Divulgação/Ricardo Stuckert
29.out.2017 - Fernando Haddad participa de reunião com reitores
Lula convocou o ex-prefeito paulistano para participar da caravana que ele promoveu por Minas Gerais Ao lado do ex-presidente, Haddad teve encontros com reitores de universidades federais, exaltou seus feitos quando esteve à frente do Ministério da Educação nos governos de Lula e Dilma Rousseff (PT), e criticou o governo de Michel Temer (MDB). Lula, por sua vez, ressaltava a importância de Haddad em programas educacionais de seu governo, como o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior).

Dezembro de 2017

Zanone Fraissat/Folhapres
04.ago.2018 - Militantes usam máscaras com o rosto de Lula na convenção do PT
Dias após o TRF-4 ter marcado a data do julgamento do tríplex na segunda instância - o que aconteceu em 24 de janeiro -, Haddad foi anunciado como coordenador do programa de governo de Lula. A posição garantiu exposição maior ao ex-prefeito, que passou a intensificar sua agenda de entrevistas e eventos para explicar os planos do PT para o Planalto.

Março de 2018

Em viagem a Santa Catarina, Lula elogiou sua parceria com Haddad no governo, e comparou a dupla que formou com ele à parceria entre o argentino Lionel Messi e o uruguaio Luis Suárez, que são os atacantes do Barcelona, time de futebol da Espanha. "Quando você está no governo, você faz. O mandato é curto e você faz. Por isso, eu e Haddad funcionávamos como se fôssemos uma dupla de jogadores do mesmo time: Messi e Luis Suárez", comentou. "Eu fico feliz que o Haddad tenha vindo. Ele pode falar algumas coisas de educação, porque ele é o coordenador de programa de governo aprovado pelo diretório do PT. O Haddad sabe que quando estivemos juntos, a gente fez a educação uma prioridade do governo".

Julho de 2018

Ernani Ogata/Estadão Conteúdo
28.jun.2018 - Haddad faz visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba
Haddad foi cadastrado como advogado do ex-presidente e passou a ter acesso irrestrito ao político na prisão. O ex-prefeito também foi alçado à condição de porta-voz de Lula, que, indicou, na ocasião, o desejo de ver Haddad com mais frequência a pretexto de finalizar o programa de governo do PT. O ex-prefeito também voltou a intensificar sua agenda de entrevistas à imprensa.

Agosto de 2018

Em um acerto de última hora com o PCdoB, o PT definiu sua chapa com Haddad como vice de Lula e a deputada estadual Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) como vice "reserva". Ela substituiria o ex-prefeito assim que houvesse a definição de a Justiça Eleitoral barrar a candidatura de Lula. Antes da aliança, porém, o PCdoB já vinha sustentando que Lula "não seria o candidato, seria um candidato do PT", como disse a presidente nacional do partido, deputada federal Luciana Santos (PCdoB-PE), em 20 de julho. Nos bastidores, fontes apontavam ao UOL que, com o evidente impedimento de Lula, o desejo do PCdoB era uma candidatura formada por Haddad como cabeça e Manuela na posição de vice, o que foi concretizado a partir da "chapa tríplex", como ficou conhecido o acerto.

Setembro de 2018

Reprodução/Twitter/LulaOficial
Logo com nome de Haddad destacado foi divulgado neste domingo (2)
A partir da decisão do TSE de barrar a candidatura de Lula em razão da Lei da Ficha Limpa, Haddad passou a ganhar destaque na campanha. O sinal mais evidente foi uma alteração no jingle de Lula. A frase "É Lula nos braços do povo", por exemplo, tornou-se "Lula é Haddad, é o povo". Também houve alteração em logotipos de campanhas, dando maior destaque ao nome de Haddad.

O ex-prefeito ainda passou a protagonizar os espaços do partido no horário eleitoral de rádio e televisão, continuou a agenda de campanha e foi aprovado, na tarde desta terça-feira (11), pela executiva do PT como o substituto de Lula na disputa pela Presidência da República. Como firmado no acordo em agosto, a deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) será a candidata a vice-presidente.

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