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Sob gritos de "não vai ter golpe", Dilma diz que irá lutar pelo mandato

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

04/12/2015 12h02Atualizada em 04/12/2015 13h09

Em seu primeiro evento público após a aceitação do pedido de impeachment pela Câmara, a presidente Dilma Rousseff (PT) foi recebida nesta sexta-feira (4) por um auditório lotado com gritos de “não vai ter golpe”. Ela voltou a dizer que foi eleita democraticamente e afirmou que irá lutar "com todos os instrumentos" em defesa de seu mandato.

O PT e setores da esquerda têm classificado como um “golpe” a possibilidade de afastamento da presidente pela Câmara.

A plateia também entoou um “fora, Cunha”, em referência ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável pela decisão de acatar a denúncia contra a presidente. Dilma também foi saudada pelo grito de guerra “olê, olê, olá, Dilma, Dilma”. A reportagem ouviu poucos gritos de 'Fora, Dilma' durante o discurso da presidente, vindos de parte menor do público.

A presidente participou nesta sexta-feira (4) da 15ª Conferência Nacional de Saúde, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. A conferência reúne os conselhos de saúde de Estados e municípios, formados por representantes de usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) e por gestores públicos.

“Vocês não imaginam como isso que vocês estão fazendo faz bem para a alma da gente”, disse Dilma ao iniciar seu discurso agradecendo a recepção.

Ela chegou ao evento junto com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, do PMDB, mesmo partido de Cunha.

Em seu discurso, Dilma também voltou a defender os princípios democráticos. "Essa conferência é integrada por cidadãos e por cidadãs brasileiras. E eu digo isso em especial porque ela ocorre num momento importante para a história do nosso pais. Um momento em que se torna necessário, obrigatório, reafirmar princípios, preservar direitos e reforçar a luta pela democracia”, declarou, em mais uma referência ao pedido de impeachment.

"Eu vou fazer a defesa do meu mandato com todos os instrumentos previstos no nosso Estado Democrático de Direito. Tal como faço hoje vou continuar dialogando com todos os movimentos da sociedade para mostrar que essa luta não é em favor de uma pessoa, partido ou grupo de partidos. É uma luta em defesa da democracia desse país, construída com muito esforço ao longo das últimas gerações", declarou a presidente.

Ao encerrar seu discurso, Dilma afirmou que os presentes ao evento, além de cuidar da “saúde das pessoas” também teriam que cuidar da “saúde da democracia”. “Para a saúde da democracia, nós temos de defendê-la contra o golpe”, afirmou.

 

Críticas a Eduardo Cunha

Ao se defender da possibilidade do impeachment, a presidente voltou a fazer críticas indiretas a Cunha, que é acusado de ter recebido propina em contas secretas na Suíça.
 
“Eu não cometi nenhum ato ilícito previsto na nossa Constituição. Não tenho conta na Suíça, não tenho na minha biografia nenhum ato de uso indevido de dinheiro público”, disse.
 
Dilma também criticou a atuação da oposição que, segundo ela, apostou em projetos de lei que aumentavam gastos durante a crise –as chamadas pautas-bomba — como forma de desgastar seu governo.
 
"O governo federal enfrentou ao longo desse ano um movimento sistemático que questionava os resultados legítimos da eleição de 2014. Por meio da aprovação de leis que poderiam ter consequências danosas para nossa economia buscava-se criar ambiente de instabilidade política que postergasse medidas necessárias para retomar o crescimento”, disse Dilma.
 
“Esse movimento atinge seu ápice essa semana, quando se propõe um pedido de impeachment”, afirmou a presidente.
 
“A possibilidade de provocar prejuízo ao Brasil, prejuízo à população do povo de nosso pais, essa possibilidade foi aceita em nome da pior política possível que é a política do quanto pior melhor”, disse Dilma.
 
A presidente citou ainda o projeto de alteração da Constituição que abre brecha para exigir a contratação de planos de saúde privados pelas empresas a seus funcionários. A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 451 recebeu uma moção de repúdio durante a conferência.
 
“Eu acredito que a PEC 451 faz parte de uma dessas inúmeras medidas que foram tomadas nesse período”, disse Dilma.

Na quarta-feira, dia em que Cunha anunciou a aceitação do impeachment, Dilma já havia se pronunciado, mas não em evento público. A presidente falou em pronunciamento apenas a jornalistas no Palácio do Planalto e se disse "indignada" com o pedido de impeachment.