Com agenda política, 3ª caravana de Lula coloca culpa da crise do RJ na Lava Jato
A terceira caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua pré-campanha ao Planalto ficou marcada por suas afirmações de que a Operação Lava Jato é uma das responsáveis pela crise vivida pelo Estado do Rio de Janeiro. Em praticamente todas as oportunidades que teve para discursar ou conceder entrevistas a emissoras de rádio, o petista, que afirma não ser contra a Lava Jato, disse que as empresas envolvidas estavam sendo punidas, e não os corruptos.
"A Lava Jato não pode fazer o que está fazendo com o Rio de Janeiro porque é preciso fazer uma distinção. Se um empresário roubou, você prenda o empresário, mas não precisa quebrar a empresa. Porque, se quebrar a empresa, quem paga o pato é o trabalhador, que é inocente e que precisa receber salário", disse na quarta-feira (6), em ato em Maricá. “Acho que tem que haver investigação e que quem roubou tem que ser preso. Minha divergência com a Lava Jato é que quem roubou fica solto e a empresa quebra, penalizando os trabalhadores.”
Dois dias depois, em evento na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Lula disse não ser “possível que alguém ache que dá para recuperar o Rio de Janeiro sem a indústria de óleo e gás, sem a Petrobras, sem a indústria naval. E eles [Lava Jato] estão acabando com tudo isso”.
Esta caravana de Lula, que também passou pelo Espírito Santo, teve como símbolo uma visita ao Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), que sintetiza um dos esquemas de corrupção investigados pela Lava Jato e que levou o ex-governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB), ex-aliado do petista, à prisão. O ex-presidente chegou a defender Cabral, condenado a mais de 72 anos de prisão se somadas as penas. "O Rio não merece a crise que está passando. Não merece ter governadores presos porque roubaram. Eu nem sei se isso é verdade porque não acredito em tudo o que a imprensa fala. É importante investigar, saber a verdade. Quem roubou tem que estar preso", disse Lula.
O Comperj foi uma das marcas da grandiosidade almejada para a Petrobras no governo do petista, mas se tornou sinônimo de prejuízo bilionário, corrupção e atraso. “O Comperj parado só dá prejuízo. Esse país não fala mais em desenvolvimento industrial, geração de empregos... só fala em corte, corte, corte e corrupção”, disse, na quinta-feira (7), em visita ao complexo.
Lula, que já foi condenado no processo do tríplex, é réu ainda em outras duas ações penais ligadas à Lava Jato que correm na 13ª Vara Federal em Curitiba, do juiz Sergio Moro. Ele ainda responde a outros quatro processos na Justiça Federal no Distrito Federal.
“A política entrou em um processo de destruição nesse país. E o Rio de Janeiro é a grande vítima disso”, avaliou Lula. O petista se reiteradamente diz ser alvo de perseguição política da equipe envolvida com a Lava Jato na PF (Polícia Federal), no MPF (Ministério Público Federal) e no Judiciário, e dos veículos de comunicação. Ele afirma que não há provas para condená-lo em nenhum dos sete processos.
“Eles [Lava Jato] não podem por causa de meia dúzia de pessoas que eles dizem que roubaram e ainda não provaram causar o prejuízo que eles estão causando à Petrobras”, disse em Maricá.
Na quinta-feira (7), a Lava Jato devolveu à Petrobras R$ 653,9 milhões provenientes de esquemas de corrupção.
A associação que Lula fez da Lava Jato à crise fluminense foi alvo de crítica do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos comandantes da força-tarefa no MPF paranaense. Em seu perfil no Facebook, Lima ironizou. “Era só o que faltava! Certamente foi a Lava Jato que roubou o Rio de Janeiro. Certamente, foi ela quem quebrou as finanças do Estado. Inclusive, acho que foram vistos Procuradores da República na farra do guardanapo”, comentou.
Pré-candidato condenado
Lula assumiu de forma veemente sua pré-candidatura a presidente em 2018 em 13 de julho, em pronunciamento na sede nacional do PT, em São Paulo, um dia após ter sido sentenciado a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Desde então, ele aumentou o tom das críticas à Lava Jato em uma agenda em que relembra seus dois mandatos como presidente e ainda condena as ações do atual mandatário, Michel Temer (PMDB), seu ex-aliado e agora chamado de “golpista”.
No sábado (9), em encontro com intelectuais e artistas na capital fluminense, ele falou que o PowerPoint com que a Lava Jato explicou a primeira denúncia contra ele é de uma “demência incurável”.
“Ô, gente, o gesto de insanidade daquele procurador [Deltan] Dallagnol apresentar um PowerPoint dizendo que o PT foi criado, foi pensado para ser uma organização criminosa, e que se preparou para chegar ao poder para roubar, é de uma demência incurável”, comentou.
Já foram realizadas outras duas edições das caravanas este ano: a primeira, pelo Nordeste, entre o fim de agosto e o começo de setembro. E a anterior a esta, em Minas Gerais, no mês retrasado. O clima de campanha ficou evidente também nas duas ocasiões, o que deve acontecer nas próximas caravanas, no ano que vem. “Eu vou continuar andando pelo país. Quem quiser evitar que eu seja candidato, que bote o sapatão e vá andar atrás de mim”, afirmou na quinta-feira (7), em Belford Roxo (RJ)
Na eleição e durante a campanha, porém, Lula diz que não pretende falar sobre Lava Jato. “Eu vou fazer uma campanha sem tocar nesses assuntos. Eu quero tocar no futuro do país. Não quero tocar no passado”, disse no sábado. “Não quero ser candidato para ficar discutindo Moro”.
Líder em todas as pesquisas realizadas até agora --a última, do Datafolha, atribui a ele entre 34% e 37% das intenções de voto no primeiro turno--, a presença de Lula no pleito de 2018, porém, ainda é uma incógnita. Já considerado culpado em primeira instância, ele pode se tornar inelegível caso o TRF (Tribunal Regional Federal) da 4ª Região confirme a condenação proferida por Moro.
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