Estado Islâmico afirma ter decapitado refém americano e 18 soldados sírios

  • AFP

    A autenticidade do vídeo - que mostra as decapitações dos soldados sírios e do refém americano - não pode ser confirmada

    A autenticidade do vídeo - que mostra as decapitações dos soldados sírios e do refém americano - não pode ser confirmada

O grupo ultrarradical Estado Islâmico (EI) reivindicou em um vídeo postado na internet neste domingo (16) a execução por decapitação do refém americano Peter Kassig e de ao menos 18 soldados sírios.

O vídeo de quinze minutos foi veiculado pelo órgão midiático dos grupos jihadistas Al-Furqan.

Os Estados Unidos se disseram "horrorizados" com a decapitação do americano, ressaltando que trabalham para confirmar a autenticidade da gravação. Paris e Londres também denunciaram o crime.

O vídeo começa com a história do nascimento do EI no Iraque, após se desligar da rede Al-Qaeda, e evoca seu envolvimento na guerra da Síria antes de mostrar a decapitação em massa de "soldados de Bashar" e a do refém americano, sequestrado na Síria em 2013.

Nas imagens, um homem mascarado aparece em pé ao lado de uma cabeça decepada, alegando ter decapitado Peter Kassig.

"Este é Peter Edward Kassig, um cidadão americano de seu país (...)", afirma o homem mascarado de sotaque britânico, que associa este assassinato ao envio de conselheiros americanos para ajudar as tropas iraquianas em sua guerra contra o EI.

Kassig seria o quinto refém ocidental sequestrado na Síria executado pelo EI desde agosto.

"Estamos enterrando o primeiro cruzado americano em Dabiq (cidade no norte da Síria), e esperamos impacientemente a chegada de outros soldados para que sejam degolados e enterrados da mesma maneira", ameaça o homem com sotaque americano que parece ser o "Jihadi John", o suposto assassino dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff.

Aos 26 anos, Peter Kassig, um ex-soldado no Iraque, havia se convertido ao islamismo e fundado uma organização humanitária em 2012, "Special Emergency Response and Assistance" (Sera), após deixar o exército americano.

Os pais da vítima disseram que esperam a confirmação do assassinato de seu "filho querido" e pede à imprensa que não veicule as imagens terríveis do assassinato.

Kassig já havia aparecido em 3 de outubro no vídeo da decapitação de um outro refém do EI, o britânico Alan Henning. Na ocasião, os jihadistas ameaçaram matá-lo em retaliação aos ataques aéreos americanos na Síria e no Iraque.

Peter Kassig é o terceiro refém americano cuja decapitação foi reivindicada pelo EI após James Foley e Steven Sotloff. Dois outros britânicos, Alan Henning, um voluntário humanitário, e David Haines, trabalhador humanitário, sofreram o mesmo destino.

Todos foram sequestrados na Síria, país em guerra há mais de três anos.

O vídeo deste domingo também mostra a execução de ao menos 18 homens apresentados como soldados do regime sírio de Bashar Al-Assad, marchando de dois em dois.

Neste momento, o nome da região de Dabiq aparece no canto direito do vídeo.

Dabiq, no norte da Síria, foi palco de uma importante batalha no século XVI, onde o exército de muçulmanos foi dizimado, mas terminou vencendo, segundo uma profecia do Islã.

Acusado pela ONU de crimes contra a Humanidade, o grupo EI é responsável por terríveis atrocidades nas vastas regiões conquistadas na Síria e no Iraque, incluindo execuções, sequestros, estupros e limpeza étnica.

Perversidade e barbárie

"Se a autenticidade do vídeo for confirmada, expressamos o nosso horror pelo assassinato brutal de um voluntário humanitário americano inocente", declarou o Conselho de Segurança Nacional do presidente americano Barack Obama.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou, por sua vez, estar "horrorizado" pelo "assassinato a sangue frio" da vítima.

"Estou horrorizado pelo assassinato a sangue frio de Abdul-Rahman Kassig (nome adotado após sua conversão ao Islã). O ISIL (EI) mostra mais uma vez toda a sua perversidade. Meus pensamento vão à sua família", escreveu Cameron em seu Twitter.

A França denunciou um novo ato de "barbárie". Em um comunicado, o primeiro-ministro Manuel Valls "condena com toda firmeza este novo ato bárbaro, que reforça a determinação da França de agir contra o Daesh (EI) no Iraque e na Síria.

O vídeo em questão é diferente das precedentes decapitações de reféns ocidentais. Kassih não foi mostrado vivo e nenhuma ameaça foi proferida contra outro refém ocidental.

Já no front iraquiano, as forças armadas tentavam neste domingo garantir a segurança da maior refinaria de petróleo do país, ao norte de Bagdá, após quebrar o cerco do EI. E na Síria, a batalha pelo controle da cidade curda de Kobane que prossegue entres os jihadistas e as forças curdas já fez 1.200 mortos em dois meses, segundo uma ONG.

Entenda a violência no Iraque
  • O que está acontecendo?
    Desde que as tropas americanas saíram do Iraque, em 2011, o grupo islâmico EI vem rapidamente ocupando cidades do país. Desde junho, já tomou Mosul, segunda maior cidade e bastião da resistência à ocupação dos EUA e aliados, e partes de Tikrit, cidade de Saddam Hussein próxima da capital Bagdá
  • Quem está atacando?
    O EI (Estado Islâmico), um grupo islamita sunita que surgiu da união de diversos grupos que lutaram contra a ocupação do Iraque pelos EUA e que recentemente criou um califado nas áreas sob o seu controle no Iraque e no Levante (parte de Síria e Líbano). Seu principal líder foi Al-Zarqawi, morto em 2006. Hoje a liderança tem vários nomes, mas o principal é Al-Baghdadi
  • O que é um califado?
    É uma forma de governo centrada na figura do califa, que seria um sucessor da autoridade política do profeta Maomé, com atribuições de chefe de Estado e líder político do mundo islâmico. O Estado, que seguiria rigorosamente a lei do Islã, compreenderia a região entre o mar Mediterrâneo e o rio Tigre
  • Qual a força do EI?
    O grupo, que recebe grandes doações ocultas de dinheiro, tem milhares de militantes, inclusive "jihadistas" americanos e europeus, e se aproveita da disputa entre o governo de Maliki, apoiado pelos xiitas, e a minoria sunita para conquistar espaço. Acredita-se que seja patrocinado por governos da região. Embora seja considerado um braço da Al-Qaeda, se rebelou e foi expulso pelo líder Al-Zawahiri
  • Quem está na mira do EI?
    Cerca de 50 mil membros da minoria yazidi, que estão isolados em montanhas no noroeste do Iraque, sem comida nem água, depois de terem fugido de suas casas, e cristãos, que chegaram a ser crucificados. Mulheres tem sido forçadas a se submeter à mutilação genital e usar véus cobrindo o corpo inteiro
  • O Iraque pode se dividir?
    Apesar de o governo central de Bagdá ainda controlar oficialmente as províncias do país, é possível que haja a fragmentação em ao menos três territórios. Isso porque a divisão do Iraque entre árabes sunitas, xiitas e curdos já está bem avançada

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