Comando Vermelho se consolida como maior facção criminosa da Amazônia
Na última década, a Amazônia virou cenário de disputa sangrenta entre facções criminosas pelo controle de grandes partes do seu território, principalmente nas zonas de fronteira.
O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.
Além das mortes e de subjugar populações ribeirinhas e indígenas, o avanço do crime organizado se tornou um risco para a própria floresta. É o que mostra o relatório "Cartografias da Violência na Amazônia", do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. E quem está mais ganhando com isso é o Comando Vermelho.
O CV (Comando Vermelho), cuja origem é o Rio de Janeiro, conquistou o monopólio do crime em 130 municípios amazônicos, contra 28 dominados pelo PCC, seu principal rival. Fez isso usando as próprias armas ou se aliando a facções locais.
A facção entrou na Amazônia há muito tempo, mas os conflitos só se intensificaram há menos de uma década, após um evento que aconteceu muito longe dali e mudou o mapa do crime organizado.
- Em junho de 2016, o PCC matou Jorge Rafaat Toumani, "o rei do tráfico", em Pedro Juan Cabalero, na fronteira seca do Paraguai com o Brasil. Foi a tiros de metralhadora ponto 50 e mobilizando mais de 30 mercenários;
- Com o assassinato, o PCC consolidou seu domínio no que era até então a principal porta de entrada da cocaína no Brasil e fechou a rota para as facções rivais;
- O Comando Vermelho se viu obrigado a recorrer a outras rotas de importação de cocaína, e voltou-se para a região Norte.
- A disputa começou pela "rota do Solimões", que vai desde Tabatinga, na tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia, até a foz do rio Amazonas;
- O conflito se estendeu ao interior dos presídios, onde provocou centenas de assassinatos.
O motivo da disputa que já provocou milhares de mortes pode ser contabilizado em centenas de milhões de dólares. Controlar uma rota que leve a cocaína da fronteira do Brasil com os países andinos até os portos de exportação para a Europa faz quadruplicar o investimento de quem a controla. A facção dominante:
- Compra cocaína a US$ 2,6 milhões/tonelada na fronteira com Peru ou Colômbia;
- Entrega por US$ 11 milhões/tonelada no Amapá ou Ceará;
Caso consiga se internacionalizar, como fez o PCC, pode ganhar muito mais:
- Vende a tonelada de cocaína que comprou a US$ 2,6 milhões por US$ 34 milhões na Europa;
- Ou até US$ 180 milhões se conseguir chegar à Ásia.
É o que o Comando Vermelho está tentando.
Mas o transporte das toneladas de cocaína não é a única atividade do Comando Vermelho na Amazônia. O CV diversificou suas operações na região. Está envolvido no garimpo ilegal, grilagem de terras, pesca ilegal de pirarucu, caça ilegal de tracajás (o quelônio amazônico), entre outros crimes.
Seu alcance não se limita mais aos municípios de fronteiras do Brasil com Peru, Bolívia, Colômbia e Venezuela. Suas ações alcançaram algumas das mais recônditas e preservas áreas da floresta.
No Médio Juruá, no estado do Amazonas, o CV usa grandes barcos para fazer escambo de produtos ilícitos como crack, cocaína e maconha, por tartarugas, madeira, farinha, pirarucu e outros produtos nativos. Faz isso extorquindo as populações ribeirinhas.
Mais recentemente, o CV cruzou a fronteira do Peru e ocupou aldeias indígenas na região do Ucayali, explorando sua mão de obra para fazer negócios ilícitos.
Cronologia:
- Início da década de 2010: Primeiras evidências da presença do CV na Amazônia.
- 2016: Conflito sangrento entre CV e outras facções, elevando as taxas de homicídios na região.
- 2018: Intensificação da presença do CV em Carauari, no Amazonas, marcando o início de sua influência no Médio Juruá.
- 2022: Dissidência dentro do CV no Mato Grosso, levando ao surgimento da Tropa do Castelar.
- Final de 2023: Indícios de que o CV controlava o cultivo de coca em Ucayali, no Peru, região habitada por indígenas.
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Quero receberPrincipais Ramos de Atividade:
- Narcotráfico: O CV controla importantes rotas de tráfico de drogas na Amazônia, especialmente a Rota do Solimões, e se conecta com produtores de cocaína na Bolívia, Peru e Colômbia.
- Garimpo Ilegal: O CV tem forte presença em áreas de garimpo ilegal, como a Terra Indígena Yanomami, explorando a atividade e disputando território com outros grupos armados.
- Extração Ilegal de Madeira: O CV se beneficia do contrabando de madeira, aproveitando a fragilidade da fiscalização e as conexões com o crime ambiental.
- Comércio por Aviamento: O CV atua como "regatões modernos", trocando drogas por produtos extraídos da floresta, como pescado, caça e madeira.
Principais Aliados:
- Grupos criminosos locais: O CV estabelece alianças com grupos criminosos locais para facilitar suas operações e expandir seu controle territorial.
Principais Adversários:
- PCC (Primeiro Comando da Capital): Rivalidade pelo controle de rotas de narcotráfico e áreas de garimpo ilegal, resultando em conflitos violentos, principalmente no Amazonas, Mato Grosso, Pará e Roraima.
- Bonde dos 13 (B13): Grupo criminoso local no Acre, aliado ao PCC, que disputa território com o CV.
- Tropa do Castelar: Dissidência do CV no Mato Grosso, apoiada pelo PCC, que disputa o controle de rotas de narcotráfico.
- Grupos Criminosos Peruanos: Conflitos com grupos criminosos peruanos pelo controle do cultivo de coca em Ucayali.
- Grupos Venezuelanos ("Trens"): Disputa por áreas de garimpo ilegal e controle do contrabando de armas em Roraima.
- "Milícias": Grupos armados não estatais, possivelmente ligados a membros ou ex-membros da Polícia Militar, que disputam áreas de garimpo ilegal, como na Terra Indígena Yanomami.
Principais Conflitos:
- Guerra entre facções no Acre: Disputa entre CV, B13 e PCC, resultando em aumento das taxas de homicídios.
- Conflitos em Sorriso (MT): Série de mortes em 2022, ligadas à disputa entre CV, Tropa do Castelar e PCC.
- Disputas em Rio Preto da Eva (AM): Confrontos violentos entre CV e PCC.
- Conflitos na Terra Indígena Yanomami: Disputa entre CV, PCC e "milícias" pelo controle de áreas de garimpo ilegal, com relatos de execuções sumárias.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.
Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.
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