Amanda Cotrim

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Reportagem

Milei fez auditoria em base espacial da China após pressão dos EUA

O governo Milei realizou uma inspeção na semana passada na base espacial chinesa, localizada em Neuquén, na Patagônia argentina. A vistoria ocorreu após visita da general Laura Richardson, chefe do Comando Sul do Exército dos Estados Unidos, no começo do mês.

A base espacial é gerida pela China Satellite Launch & Tracking Control General, em parceria com a Conae (Comissão Nacional de Atividades Espaciais) da Argentina.

Em entrevista recente ao jornal argentino La Nación, o embaixador norte-americano na Argentina, Marc Stanley, disse que as forças armadas chinesas operam secretamente na área, mas não ofereceu provas. "Estou surpreso que a Argentina permita que as Forças Armadas chinesas operem em Neuquén, em segredo, fazendo sabe-se lá o quê", afirmou ele.

A China, por meio de sua Embaixada na Argentina, ressaltou que as especulações eram mentirosas. No último dia 8, o embaixador chinês Wang Wei teve uma reunião com a chanceler argentina Diana Mondino. "Ambos chegaram a um acordo de desmentir a especulação de que a base espacial é uma suposta base militar", disse a Embaixada da China na Argentina em comunicado no X (antigo Twitter).

Milei disse à agência de notícias americana Bloomberg que se havia dúvidas sobre as atividades dos chineses na base espacial em Neuquén, o governo argentino faria a auditoria técnica necessária. Na entrevista, Milei aproveitou para dizer que os acordos comerciais com a China seriam mantidos, mas que ele nunca negou seu alinhamento com os Estados Unidos e Israel.

"Sempre dissemos que somos liberais. Se as pessoas querem fazer transações com a China, podem seguir fazendo. Sempre deixei claro que meu alinhamento é com Israel e os EUA".

Pressionada pela visita do Comando Sul, a Casa Rosada afirmou que realizou "inúmeras visitas" à base espacial chinesa e constatou que não há nenhum indício de que o lugar seja uma base militar. A China, por meio de sua embaixada, também divulgou os resultados das inspeções e afirmou que a segurança do local é feita pela Polícia de Neuquén.

O UOL entrou em contato com a Comissão Nacional de Atividades Espaciais da Argentina, para ter mais detalhes sobre os projetos científicos desenvolvidos em parceria com a China, mas o órgão não quis dar entrevista e recomendou que o assunto fosse tratado com o Gabinete de Ministros. Até o momento, não houve retorno.

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Base naval dos EUA na Patagônia

No dia 5 de abril, Milei viajou mais de 3 mil quilômetros de Buenos Aires até Ushuaia, no extremo sul do país, para se encontrar com a general Laura Jane Richardson, do Comando Sul, onde anunciou uma "base naval conjunta" com os Estados Unidos, na Patagônia argentina.

"Este é um grande centro logístico que constituirá o porto de desenvolvimento mais próximo da Antártida e tornará nossos países a porta de entrada para o continente branco", disse o presidente argentino.

Milei quer se aproximar cada vez mais dos Estados Unidos no quesito defesa. O presidente chegou a vestir-se de militar durante o ato na Base Naval Austral e disse desejar que o acordo fosse o indício de uma "relação especial" dos EUA com a Argentina. No evento, o presidente argentino afirmou que o "ocidente está em risco" e que os argentinos têm "uma afinidade natural" com os EUA, referindo-se à "defesa da vida, a liberdade e a propriedade privada".

EUA e China disputam a região

Preocupado com a influência da China na região, os Estados Unidos saíram na frente. O governo argentino adquiriu equipamentos de defesa norte-americano - ao invés de comprá-los da China - e ainda 24 aviões F-16 da Dinamarca. O embaixador dos Estados Unidos em Buenos Aires, Marc Stanley, disse que a ida da general à Argentina ocorreu para "fortalecer a longa relação entre os dois países em matéria de defesa e contribuir com os objetivos de modernização militar da Argentina", afirmou.

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Outro interesse dos Estados Unidos na Patagônia argentina é a construção de um porto na cidade de Rio Grande, na província da Terra do Fogo, no extremo sul do país. A China seria a principal concorrente em obter a licença para construir instalações marítimas na região, melhorando consideravelmente o acesso à região antártica, o que poderia prejudicar a mobilidade estratégia dos EUA.

Em 2022, o presidente peronista Alberto Fernández deu início às obras de outra base na região, o Polo Logístico Antártico, com cais militar no Atlântico Sul. O governo Milei, no entanto, não explicou se os EUA vão participar da construção da base - já em andamento - ou se trata de um novo projeto.

O fato gerou desconfiança da oposição, que reiterou que a legislação argentina proíbe a entrada de tropas estrangeiras sem aprovação do Congresso, bem como a instalação de bases militares de outros países.

Base espacial Chinesa na Patagônia

O acordo com a China para a instalação da base em Neuquén foi assinado entre 2012 e 2014, no governo da então presidente peronista Cristina Kirchner. Em 2016, o presidente Mauricio Macri proibiu expressamente que as investigações científicas realizadas na base espacial fossem para fins militares - cláusula que não estaria clara no acordo firmado pelo governo anterior.

A unidade em Neuquén é a primeira base espacial chinesa fora de seu território.

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Em seu discurso ao lado da general Richardson, Milei afirmou que "os governos anteriores não fizeram nada para defender nossas fronteiras territoriais e fluviais da entrada do tráfico e drogas".

"Eles não fizeram nada para investigar o terrorismo islâmico que infelizmente sofremos", disse o presidente se referindo aos atentados terroristas à embaixada de Israel em Buenos Aires, em 1992, e ao atentado à Associação Israelense, em Buenos Aires, em 1994, que matou 85 pessoas e deixou mais de 300 feridas.

As Forças Armadas da Argentina vigiam há anos a presença de navios de pesca estrangeiros - alguns com bandeiras chinesas - que estão no limite da fronteira marítima do país no Atlântico Sul. Inclusive, no final de março, a Embaixada da China na Argentina precisou vir a público para negar que um navio chinês estava realizando pescas ilegais na região.

Após a polêmica envolvendo China e EUA, a chanceler argentina, Diana Mondino, veio a público e divulgou uma foto com os embaixadores dos EUA e da China, para mostrar que a Argentina mantém boas relações diplomáticas com ambos os países. Ela também disse que prepara uma visita à China no fim do mês, com o objetivo de fortalecer as relações bilaterais.

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