Amanda Cotrim

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Reportagem

Sob ajuste fiscal, Argentina compra caças da Dinamarca por US$ 300 milhões

O governo da Argentina anunciou que desembolsou 300 milhões de dólares (cerca de R$ 1,5 bilhão) na compra de 24 aviões de combate F-16 da Dinamarca e de outros itens de segurança. O contrato foi assinado pelo pelo ministro da Defesa do país vizinho, Luis Petri, em evento na base aérea dinamarquesa Strydstrup.

O presidente Javier Milei participou da cerimônia, que ocorreu na terça-feira (16), por videoconferência — ele cancelou a ida a Europa após os ataques do Irã a Israel.

Para o porta-voz do governo, Manuel Adorni, foi a "aquisição militar mais importante dos últimos 50 anos da história argentina''. Segundo o governo, o pagamento será dividido.

Na segunda (15), a Casa Rosada negou que tenha recebido qualquer ameaça, mas informou que mantém o nível de alerta "alto" na fronteira norte e "moderado" no restante do país — devido à tensão no Oriente Médio.

Na rede social X (ex-Twitter), o ministro afirmou que a compra só foi possível "porque o presidente Javier Milei tem a convicção de transformar o país e tirá-lo de décadas de decadência". A mensagem termina com a VLLC — que significa "Viva la libertad, carajo", bordão de Milei.

Petri teve uma reunião nesta quinta (18) com os secretários para Assuntos Políticos e de Segurança da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O ministro apresentou uma carta de intenção em nome do governo Milei para pedir que a Argentina seja um país "sócio global" da organização

"Isso vai permitir elevar a capacidade militar e de defesa por meio de exercícios multinacionais e tecnologia avançada, assim como participar sw debates e decisões estratégicas", informou a Casa Rosada

Aumento em defesa e congelamento em educação

O anúncio causou polêmica nas redes sociais. A oposição defende que a compra dos aviões não é uma necessidade urgente para o país — e fez publicações argumentando que a prioridade do governo deveria ser a fome e a pobreza. A pobreza alcançou, neste ano, 57% da população, segundo dados da Universidade Católica da Argentina.

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A compra dos aviões e demais itens de segurança também ocorreu na mesma semana que o governo sinalizou que não pretende aumentar os investimentos (congelados) na saúde e educação — seguindo o ajuste fiscal cujo objetivo é o déficit zero.

Questionado sobre a necessidade de o país realizar um investimento dessa magnitude em meio a uma crise econômica e social, o porta-voz da Casa Rosada disse que "existem questões que são mais urgentes que outras".

Dentro disso, entendemos que as Forças Armadas são uma prioridade, porque a Argentina não é só uma economia. Há outras áreas que necessitam atenção, como a defesa nacional.
Manuel Adorni

De acordo com o governo, a aquisição dos 24 aviões de combate vão "garantir o controle do espaço aéreo argentino e resposta imediata diante de qualquer ameaça".

Os pilotos argentinos vão precisar passar por capacitação, com previsão de um ano, para pilotar os F-16. Só depois disso a Argentina receberia efetivamente os aviões, conforme informou o governo.

Mais investimentos

O investimento em defesa e nas Forças Armadas foi promessa de campanha de Milei. A vice Victoria Villarruel é filha e sobrinha de militares e afirmou, na época da campanha eleitoral, que a Argentina era o país na região que menos investia nesses setores.

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Usando dados do Banco Mundial, o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo, referência na avaliação de quanto os países gastam com questões militares, informa que a Argentina pagou, entre 2021 e 2022, em média, 0,4% do PIB — enquanto a média do Sul foi de 1,1%. Para comparação, o Brasil destinou 1,1% no período; a Colômbia, 3,1%; e o Equador, 2,2%.

Segundo a agência de checagem Chequeado, responsável por checar as informações públicas na Argentina, o país vizinho investiu 2,4% do PIB em defesa nacional em 1989, mas esse índice despencou com o passar dos anos, chegando a 0,9% em 2016.

Milei deixará voos comerciais

Desde que assumiu, o presidente Javier Milei não usou o avião presidencial. O presidente viajou em voos comerciais pois, segundo ele, era uma forma de se distanciar da "casta" — como ele chama a classe política.

Nos últimos dias, entretanto, o governo recuou e disse que acatará a recomendação do Ministério da Segurança — que destaca que, por questão de segurança, o presidente da Argentina deve viajar no avião presidencial.

O Ministério de Segurança advertiu sobre certos riscos que existem em que o Presidente da Nação siga voando em voos de linha ou em voos comerciais comuns. Veremos a implementação dessa recomendação para que o Presidente tenha todas as condições de sua investidura merece.
Nota divulgada pela Casa Rosada

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No X, o ex-presidente peronista Alberto Fernández ironizou a decisão do presidente. Disse que Milei fazia "demagogia" ao se recusar a viajar com o avião presidencial. "Mais de cem dias para descobrir o óbvio", escreveu.

Reportagem

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