Amanda Cotrim

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Reportagem

Argentina: Milei enfrenta segunda greve nacional em quatro meses

As principais centrais sindicais da Argentina, como a CGT (Confederação Geral do Trabalho) e a CTA (Central de trabalhadores da Argentina), convocaram uma greve geral para esta quinta-feira (9), em todo o país. A paralisação começou à 0h e deve durar 24 horas, segundo os sindicatos.

A greve afeta principalmente o funcionamento de aeroportos, com a suspensão de pelo menos 700 voos nacionais e internacionais, além do transporte de caminhões, trens, metrô e ônibus. A estimativa do governo é que 6 milhões de pessoas sejam impactadas em todo o país sem transporte público.

Nas ruas de Buenos Aires, poucos ônibus circulam e a cidade está praticamente vazia. No bairro de Palermo, a reportagem registrou muitos táxis da rua — a região costuma receber turistas. De acordo com o secretário nacional de Transportes, Franco Mogetta, o governo trabalha para manter 40% da frota na região da capital portenha.

É a segunda greve geral da Argentina em quatro meses — desde que Javier Milei assumiu a Presidência, em dezembro do ano passado. A primeira foi em 24 de janeiro.

Segundo as centrais sindicais, o objetivo é protestar contra as políticas econômicas de Milei. Para a CGT, os argentinos "estão diante de um governo que está tirando os direitos trabalhistas", além de ser uma gestão que "em nome da liberdade de mercado impõe um ajuste brutal" a população.

Na primeira greve geral, em janeiro, transportes como trens, metrôs e ônibus funcionaram por um período do dia para que as pessoas pudessem ir aos atos de rua convocados pelos sindicatos. Não foi organizada manifestação desse tipo para hoje.

Adesão de 97% do serviço público

As centrais sindicais afirmaram, pela manhã, que a greve tinha adesão de 97% dos trabalhadores do serviço público. À tarde, a CGT definiu a greve como "contundente" — mesmo sem conseguir que o governo aceitasse negociar a reposição salarial, principal reivindicação dos sindicato.

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O dirigente Pablo Moyano afirmou que a rejeição ao governo Milei está crescendo e o conflito social vai aumentar.

Eu não o julgo (a Milei), quem o julga é a população. O rechaço está crescendo, o conflito social vai crescer e hoje foi uma clara mostra do cansado das pessoas.
Pablo Moyano, dirigente sindical

Após circular pelo centro da cidade, a ministra de Segurança, Patrícia Bullrich, deu entrevista e atacou as centrais sindicais. "Temos muitas pessoas que querem trabalhar. Nenhum mafioso pode interromper isso", afirmou. "Estão sentados comodamente [os dirigentes sindicais] fazendo suas contas enquanto milhões de argentinos, muitos profissionais liberais, perdem dinheiro."

A ministra também estimulou as pessoas a irem a trabalhar, minimizando a greve. "Saiam de casa, há meio de transporte, usem seus carros, o país necessita que trabalhemos."

Ela chegou a entrar em um ônibus — mas o bilhete único estava sem saldo.

'Eu não paro'

A paralisação nacional ocorre uma semana depois que a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou o megaprojeto da Lei de Base, conhecida como "lei ônibus", que altera dá superpoderes ao presidente, permite privatizações de empresas estatais e propõe uma reforma trabalhista que é motivo de controvérsia no país.

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O megaprojeto de lei, no entanto, ainda precisa passar pelo Senado para virar lei. Os sindicalistas disseram que pode haver outro protesto caso esse texto e o pacote fiscal sejam aprovados.

Na véspera da greve, o presidente argentino postou uma foto em uma rede social com uma camiseta anunciando "Eu não paro" — um rechaço a paralisação dos trabalhadores.

A Casa Rosada, por meio de seu porta-voz, Manuel Adorni, afirmou na quarta (8), em coletiva de imprensa, que os funcionários que aderirem à greve terão desconto nos salários. O governo não deixou claro, contudo, se o mesmo ocorrerá com quem não chegar ao trabalho por falta de transporte público.

Fará greve quem quiser seguir fazendo da Argentina um caminho de servidão (...), os fundamentalistas que caem nas costas dos trabalhadores, os que pensam em extorquir os argentinos para voltar ao poder. A eles, essa administração informa que só vão ganhar o desprezo de todos que querem e, principalmente, necessitam trabalhar.
Manuel Adorni, porta-voz da Casa Rosada

Mudança na rotina

Agustina dormiu na casa da colega, Flor, para ficar mais perto do trabalho, em uma cafeteria de Buenos Aires
Agustina dormiu na casa da colega, Flor, para ficar mais perto do trabalho, em uma cafeteria de Buenos Aires Imagem: Amanda Cotrim/UOL

A argentina Agustina Cegove disse que, por morar na região metropolitana, precisou dormir na casa de sua colega de trabalho perto da cafeteria onde são atendentes. As duas não aderiram à greve. "Eu sou contra a greve porque só prejudica os trabalhadores", opinou.

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Elsa Herrera, que também foi prejudicada por ficar sem transporte, avalia que é uma medida para os trabalhadores mostrarem sua insatisfação ao governo Milei. Para ela, a situação econômica do país está cada vez mais deteriorada. "Com esse governo, as coisas não só não vão melhorar como estarão ainda pior. Acredito que a greve é uma medida de mobilização válida".

Voos cancelados e suspensos de e para a Argentina

Parte das empresas aéreas divulgou ter cancelado ou modificado voos previstos para esta quinta.

A Aerolineas Argentinas, que pode ser privatizada se o megaprojeto de Milei passar no Senado, recomenda que os passageiros consultem os estados de seus voos. A Latam anunciou que os voos foram cancelados por causa da greve, mas deu alternativas aos clientes por meio do seu site. A Gol, por nota, informou que cancelou os voos que chegam ou partem da Argentina.

Estação de metrô fechada em Buenos Aires em dia de greve geral
Estação de metrô fechada em Buenos Aires em dia de greve geral Imagem: Amanda Cotrim/UOL

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