Amanda Cotrim

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Em dia de greve, argentinos vão às ruas contra Milei: 'Pátria não se vende'

Aos gritos de "a pátria não se vende", argentinos se reuniram em frente ao Congresso hoje, em Buenos Aires, para protestar contra medidas anunciadas pelo presidente Javier Milei — que tomou posse há pouco mais de um mês.

Cartaz de manifestante mostra a motosserra, símbolo da campanha de Milei à presidência
Cartaz de manifestante mostra a motosserra, símbolo da campanha de Milei à presidência Imagem: Amanda Cotrim/UOL

A CGT (Confederação Geral de Trabalhadores), maior central sindical do país, convocou uma greve geral — que atinge setores públicos e privados. Os sindicalistas reclamam do megadecreto e da Lei de Bases, que desregularizam a economia, privatizam empresas estatais e revogam leis.

A CGT disse que a manifestação iria cumprir o protocolo antiprotesto de rua, do Ministério da Segurança, que proibiu atos que obstruam vias públicas, com ameaça de repressão. "Companheiros por favor, não fechem a rua. Temos que nos cuidar entre todos pra não termos problema com a polícia", disse um sindicalista do sindicato dos caminheiros no microfone.

Perto do meio-dia — horário marcado para a mobilização —, o aposentado Miguel Messine, 75, participava do ato e lembrou que esteve em protestos em 2001, quando o país atravessava outra crise. Ele reclamou dos projetos de Milei.

Venho porque quero derrubar esse presidente, que está nos mandando à ruína. Tenho 75 anos e não posso mais viver assim. Estou convocando todo o povo argentino. Todo o povo argentino. Porque agora a classe média não vem. Mas quando eles têm que mandar os filhos à escola, aí eles vão sair todos [às ruas], como saíram em 2001.
Miguel Messine

Miriam Novoe, docente, participa de protesto contra reformas de Milei na Argentina
Miriam Novoe, docente, participa de protesto contra reformas de Milei na Argentina Imagem: Amanda Cotrim/UOL

A professora Miriam Novoe vestia uma camiseta com a frase "A pátria não se vende" e disse que é contra as medidas anunciadas pelo atual governo.

Vim porque tenho consciência de classe. Obviamente esse governo não está do lado das pessoas. Não podemos permitir que nos atropelem desse modo.
Miriam Novoe

No início da tarde, Héctor Daer, dirigente sindical, publicou um vídeo com manifestantes reunidos e pediu para as forças de segurança garantirem o acesso de manifestantes à capital argentina.

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Nas ruas, muitos policiais acompanharam a manifestação — alguns foram xingados, mas não houve confrontos graves generalizados.

Sindicalistas, caminhoneiros e funcionários públicos fizeram discursos contra o governo em frente ao Congresso.

Por volta das 15h, começou a desmobilização — a previsão era que o transporte público parasse às 19h, para aderir à greve. Por isso, os manifestantes deveriam chegar em casa antes desse horário.

Por outro lado, integrantes do governo se manifestaram contra a paralisação. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, chamou os sindicalistas de "mafiosos" e foi a uma rua de comércio para registrar pontos de comércio que não fecharam.

"Não há greve que nos detenha. Sindicalistas mafiosos, gerentes da pobreza, juízes cúmplices e políticos corruptos defendendo seus privilégios e resistindo a mudança escolhida pela sociedade democraticamente", disse Bullrich no X (ex-Twitter).

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Os recuos de Milei na Lei de Bases

A Lei de Bases está em discussão em Comissões na Câmara desde o início de janeiro, bem como o Decreto de Necessidade e Urgência, vigente desde 29 de dezembro.

Com a expectativa de ter apoio do Congresso, o governo recuou em alguns artigos da lei e reformulou algumas propostas iniciais. De acordo com informações apuradas pelo UOL junto a fontes do Congresso, Milei tem a expectativa de conseguir levar o texto final da Lei de Bases à votação no plenário da Câmara amanhã (25). Mas, para isso, o governo terá que negociar com os blocos políticos.

Policiais fazem segurança de palácios na Argentina em dia de greve
Policiais fazem segurança de palácios na Argentina em dia de greve Imagem: Amanda Cotrim/UOL

A petroleira YPF foi retirada da lista de estatais que serão privatizadas e ficou estabelecido que outras empresas que atuam em ramos estratégicos só podem ser parcialmente privatizadas — a exemplo do Banco Nação, empresas de energia atômica e de satélites.

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Milei também retirou o polêmico artigo que exigia que qualquer reunião com mais de três pessoas fosse previamente comunicada à polícia.

O governo ainda recuou sobre a eliminação das eleições primárias e da reconfiguração da representatividade de deputados na Câmara, que daria mais espaço a partidos menores, como o do próprio presidente (Liberdade Avança).

Outra mudança no texto original foi sobre manter a atualização automática da aposentadoria a partir do índice de inflação mensal, o que o governo queria eliminar. O novo texto propõe congelar o mecanismo automático até abril, quando depois seria retomado.

A Lei de Bases também é chamada de "lei ônibus". Na Argentina, é utilizado o termo "ley ómnibus" para descrever projetos legislativos mais extensos, que contêm muitas reformas — que se votam ao mesmo tempo.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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