Argentina: Trabalhadores protestam contra demissão estatal e salário baixo
Centenas de trabalhadores estatais e sindicatos realizaram mais um protesto em Buenos Aires e em outras cidades do país na tarde de hoje (7), com o governo de Javier Milei às vésperas completar um ano --ele assumiu em 10 de dezembro de 2023.
A mobilização ocupou o centro da capital, acompanhada de perto pela polícia. Os manifestantes marcharam até o Ministério da Economia, em frente à Casa Rosada, sede do governo argentino.
A maioria se concentrou na calçada em frente ao ministério. Dirigentes sindicais tomaram o microfone diante da multidão e ameaçaram cruzar os braços se o governo não negociar as propostas salariais. "Se o governo não pagar, vamos parar".
"Vamos abrir à força', disse um deles ao microfone, exigindo que o ministro da Economia, Luis Caputo, abrisse a porta para negociar.
Os trabalhadores alegam que o Estado está sofrendo um desmonte, com demissões, baixos salários e aumento da pobreza.
A taxa de pobreza da Argentina chegou a 53% no primeiro semestre, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas do país. O aumento é de 11 pontos percentuais desde que Milei assumiu.
O Secretário Geral da ATE Nacional (Associação de Trabalhadores do Estado), Rodolfo Aguiar, afirmou que o "ajuste (do governo) é uma violência e um maltrato". "Isso vai terminar muito mal e antes do que muitos pensam", acrescentou.
Aguiar também disse que "esse governo é a imoralidade em sua máxima expressão". Em suas palavras, "a renda da classe média e dos setores populares foram derrubados". "Esses tipos vieram enriquecer a custo do empobrecimento e da fome das pessoas", afirmou.
Angústia e pressão psicológica
Um funcionário público que preferiu não se identificar por medo de represálias definiu como "um cenário de angústia" os ânimos dos argentinos diante do ajuste fiscal do governo.
"Milei comemora o maior déficit da história e nós seremos a maior resistência", afirmou. O argentino disse à reportagem que os trabalhadores vivem tensão e pressão psicológica diante do medo de novas demissões.
No final de outubro, Javier Milei celebrou os mais de 33 mil cortes no setor público desde que tomou posse como presidente em dezembro de 2023.
A motosserra não para", escreveu o presidente em suas redes sociais. As demissões do governo Milei representam 10% do quadro de funcionários do setor estatal, segundo dados recentes da ATE.
"Estamos aqui não apenas para defender um salário digno, mas pelo contexto do país. Estamos no limite", afirmou Yara Girotti, funcionária pública da Enacom (Entidade Nacional de Comunicações), que regulariza os serviços de telecomunicações no país.
"Ontem bateram em um aposentado que protestava e ele está na UTI. Esse governo está atacando os mais vulneráveis e defendendo os interesses de seus amigos do sistema financeiro", afirmou Yara.
A ATE afirma que a proposta do governo de aumento salarial foi de 1%, abaixo do índice de inflação mensal mais recente, de 3,5%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas.
A associação também acusou o ministro Caputo de ser o responsável pela crise econômica e pela dívida bilionária da Argentina com o FMI (Fundo Monetário Internacional) --na época em que foi ministro do ex-presidente Maurício Macri (2015-2019).
"Mais da metade da população é pobre. Estamos vivendo mal", gritou um manifestante. "Querem nos matar. Os salários não chegam ao fim do mês", reclamou outro.
O protesto contra a política de ajuste econômico de Milei ocorre em meio a uma crescente tensão social, com com greves e protestos massivos em todo o pais.
Governo celebra déficit zero
Em outubro, Milei celebrou a política fiscal que vem implantando na Argentina, cumprindo a promessa que fez aos milhões de argentinos quando assumiu como presidente. Em um evento econômico na capital portenha no mês passado, o presidente disse que "em menos de um ano, alcançamos a inflação mais baixa dos últimos quatro anos".
"Fizemos o maior ajuste da história da humanidade e não perdemos o apoio social", afirmou.
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Quero receberO presidente se refere a uma pesquisa divulgada pela Aresco, empresa de pesquisa política, apontando que em outubro houve uma quebra na tendência de baixa popularidade da imagem do presidente nos últimos meses. A imagem positiva passou de menos de 49% em junho para 53,7% no mês passado, segundo a pesquisa.
Ainda de acordo com o estudo, a recuperação da imagem do presidente se deu pelas "boas notícias econômicas, depois de meses de forte ajuste". Já a rejeição ao governo e ao presidente atingiu 46,3%, em outubro, segundo o levantamento.
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